Tons Terrosos e Brotos De Primavera

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– Tem certeza que está bem para isso?

– Já lhe disse que estou ótimo. – Respondeu escolhendo um arco para Ise treinar – Ou talvez a Senhorita esteja desistindo? Está com medo? – Provocou-a.

Devia ser por volta das quatro da manhã. Nathaniel fora o primeiro a acordar e chamar sua discípula para o treinamento.

Ele queria ter registrado a expressão que ela fizera, parecia surpresa e confusa, os olhos inchados pelo sono e o cabelo bagunçado trouxeram um ar adorável e cômico para a jovem inglesa, que por sua vez, parecia tentar assimilar o que estava acontecendo ainda.

– Não estou com medo. – Dissera depois de lavar o rosto em uma nascente próxima. – Achei que esperaria mais um pouco antes de me ensinar, não faz tantos dias assim que foi ferido.

Nathaniel notou que o tom dela não era de provocação. Ela estava realmente preocupada.

– Estou recuperado. – Se aproximou e fitou seus olhos escuros – Vamos treinar agora, está bem? Se eu sentir dor, paramos.

– Promete?

Mais uma promessa entre eles. Essa seria a terceira? Quarta? Já não se lembrava.

– Sim, eu prometo.

Os olhos dela se estreitaram levemente, parecendo o avaliar silenciosamente.

– Acredito em Vossa Alteza. Vamos.

Se afastaram um pouco do grupo para não acordar os que dormiam.

O céu ainda estava escuro, se podia ver as estrelas facilmente. O vento estava fraco e o frio havia diminuído com a chegada da primavera.

Ise começou a pensar que ficar sozinha com Nathaniel por algumas horas todos os dias talvez não fosse uma boa ideia.

Ele era o homem mais cavalheiro e gentil que havia conhecido, sabia que seu senso de honra não o deixaria fazer nada de ruim com ela, mas esse não era o problema.

Era a primeira vez que sentia realmente gostar da companhia de um homem, ele a fazia rir com suas provocações, se sentia protegida e segura quando estava por perto e partilhavam suas inseguranças, não a deixando se sentir sozinha.

Preferiu colocar a culpa em seu coração rejeitado que acelerava involuntariamente quando a tratavam como uma dama.

Diferente de Cambell, Nathaniel a fazia se sentir confortável o suficiente para ser ela mesma. Mas a linha entre gostar e se apaixonar era tênue demais, e Ise sabia que só se machucaria se a cruzasse.

– Vamos começar. – Nathaniel parecia animado até demais.

– Vossa Alteza parece estar se divertindo. – Comentou cruzando os braços. Pendeu a cabeça para o lado desconfiada.

– Ainda não acredito que a Senhorita quer aprender a usar armas, é estranhamente empolgante. – Riu levemente afiando a ponta de uma flecha.

– Normalmente os homens tentam impedir uma mulher que tenha interesse nessa área. – Começou a desfazer a trança para amarrar o cabelo preso no alto da cabeça.

– Apenas homens loucos tentariam a impedir de fazer alguma coisa. – Ainda se lembrava da força em sua voz e a ferocidade no olhar quando o pediu para ensiná-la. Achou que seria engolido por aquela chama – E sei que se eu não a ajudar, treinará do mesmo jeito, até mesmo sozinha se necessário.

Se virou para ela e a viu de costas enrolando cabelo.

Nathaniel parou hipnotizado.

Nunca havia reparado em como a postura dela era bonita, os ossos superiores das costas ressaltavam no vestido que não combinava com a aura de nobreza dela, os fios cacheados da nuca, que se recusavam a entrar no penteado, dançavam na pele escura de seu pescoço desprotegido.

O Príncipe PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora