Duas caixas decoradas com papel de presente em estampa poá, fitas brancas e flores repousavam em minha cama. Na caixa maior, um vestido longo, de alças e estampa floral. Na caixa menor, um par de sandálias altas pretas que combinam perfeitamente com o vestido. Quem escolheu o conjunto teve muito bom gosto e acertou exatamente nas medidas.
Empolgado com o presente de aniversário, Pietro interrompeu uma sintonia misteriosa, que surgiu entre Cesare e eu, enquanto encarávamo-nos no gramado.
Ele é sempre tão formal, fechado e distante. Mas naquela hora demonstrou tanta sensibilidade e preocupação. Fez com que me sentisse protegida e querida.
Custa-me sequer pensar na possibilidade, mas quando estou perto de Cesare sinto que paira algo além do que o laço tutor/protegida representa. Há uma tensão que me instiga e ao mesmo tempo assusta. Não sei se ele já sentiu, porém as vezes suspeito de que também fica intrigado.
Não quero ser a adolescente tola que fantasia coisas com um homem mais velho. Nem criar expectativas que me magoem no futuro. Já fui machucada o suficiente pela vida.
Sou apenas uma garota órfã e inexperiente se comparada às mulheres sofisticadas que meu tutor deve se relacionar. Mas não consigo evitar um frisson toda vez que ele está por perto. Meu corpo desperta rapidamente. O coração dispara, a respiração acelera, os pêlos arrepiam e minha pele parece ficar febril.
Os olhos de um azul profundo de Cesare parecem conter promessas, traços selvagens e um ar de desespero que sempre o faz se afastar.
Não sei como me comportar perto dele. Minha experiência com o sexo oposto é bastante limitada. Micaela vivia dizendo que meu jeito fechado assustava os garotos.
Um dos internos uma vez disse que eu era uma garota inacessível e que nunca arranjaria um namorado dessa forma.
A questão é que nenhum deles nunca me despertou interesse. Sempre preferi me isolar no observatório abandonado do Instituto para ler e observar as estrelas.
É completamente ridículo comparar o os meninos do Instituto com um homem como Cesare. Sempre soube o que os meninos queriam, já meu tutor, nunca sei o que sente ou pensa...
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Coloco uma presilha na lateral de meu cabelo castanho com ondas naturais. Me observo no espelho grande do closet e giro vagarosamente admirando o caimento perfeito do vestido em meu corpo.
Sinto que estou encerrando um ciclo e que um novo se inicia. Sonhei tanto com o momento. Achei que seria com minha mãe e tia Francisca. Porém o destino quis de outra forma. Estou na Itália comemorando os dezoito na casa de estranhos e sem minha família.
_ Está pronta?_ Ouço uma batida leve na porta do quarto e a voz de Nicollo.
_ Sim. Pode abrir.
Pego uma bolsinha que separei em cima da cama, pois mais tarde Giovanni me buscará para sair.
_ Pietro não para de perguntar por você. _ Nicollo coloca apenas a cabeça em uma brecha. _ Mais que bela! Minha cara você está deslumbrante. _ Nicollo põe a mão no peito.
_ Não estou acostumada a me produzir tanto. Nem sei se acertei na maquiagem ou exagerei demais...
_ Então, deveria se acostumar, caríssima. Esse vestido lhe caiu muito bem e você está extremamente bela. Perfeita para comemorar sua maior idade. _ Nicollo estende o braço. _ Por acaso daria a honra a esse velho de acompanhá-la?
_ Você não é nenhum velho, Nicollo! Aposto que deixa muitas italianas suspirando por aí. _ Apoio-me em seu braço sentindo-me mais confiante e segura.
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Sambuca di Sicília. Série Caminhos do destino. Vol.1
RomancePrestes a completar dezoito anos, Alexandra dos Anjos terá que fazer uma escolha que definirá o rumo de sua vida. Estudou desde os quinze em um dos internatos mais conceituados do Rio de Janeiro enquanto a mãe esteve fora do país trabalhando como go...