Capítulo 3🍷Tutor🍷

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Ergo a cabeça e deixo que o calor do sol aqueça meu rosto. Há uma semana não saio ao ar livre. Minha rotina tem sido passar os dias no dormitório, ora dormindo, ora chorando. E o restante do tempo sou obrigada a ir ao refeitório para me alimentar, apesar de não sentir a mínima vontade de comer.

No início, uma grande revolta me consumiu. Porque tudo isso tinha que acontecer? Porque todas as pessoas que amo tinham que ser tiradas de mim. Por que ela fez isso comigo? Por que minha mãe me abandonou? O que farei agora? Estou sozinha. Não tenho mais ninguém nessa vida...

A diretora Menezes me deu todo o apoio que foi capaz. Recebi também a visita de uma psicóloga e uma assistente social, mas nada pode suprir a falta que minha mãe faz. Primeiro a perda de tia Francisca, agora ela. O destino parece estar brincando comigo.

_ Ei! Queria falar com você. _ Uma mão toca meu ombro. Viro o rosto e encaro Rodolfo.

_ Oi.

Ele dá a volta e senta ao meu lado no banco de madeira do jardim do internato.

_ Vim me despedir. Meu pai está vindo me buscar.

_ Sentirei sua falta, mas fico feliz por você. _ Abaixo a cabeça e encaro a trama xadrez da saia do meu uniforme.

_ Alexandra, não quero perder o contato com você, nem Micaela. Vocês foram as únicas amigas que tive nesses meses em que estudei no São Miqueias. _ Ele ajeita os óculos no rosto.

_ Você tem um bom coração, Rodolfo. Espero que se acerte com seus pais e seja muito feliz. _ Seguro sua mão e dou um sorriso forçado.

_ Quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar. Quando sair do internato, me procure. Posso pedir ajuda ao meu pai.

_ Obrigada.

Abraço Rodolfo. Meus olhos se enchem de lágrimas. Não aguento me despedir de mais ninguém.

Nesse momento, o inspetor se aproxima e acena para Rodolfo.

_ Preciso ir. Meu pai chegou.

_ Boa sorte. _ Aceno.

A maioria dos internos de minha turma já partiram. Entre os poucos que restaram está Micaela e Munira.

Não tenho ninguém para esperar, nem para onde ir. Poderei ficar no internato por mais três meses, até completar dezoito. Depois disso precisarei caminhar com minhas próprias pernas.

_ E aí, fujona! Estava a sua procura. _ Micaela vem caminhando apressada pelo gramado.

_ Seus pais já chegaram também? _ Sinto um desespero crescer dentro de mim.

_ Até parece que não conhece meus pais. _ Micaela bufa. _ Te garanto que não estão nem um pouco ansiosos em me ter por perto. _ Senta ao meu lado e passa um braço por meus ombros. _ Ainda vai demorar para se livrar de mim, garota! _ Sorrio triste e descanso a cabeça no ombro de minha amiga.

Ela cortou novamente o cabelo e descoloriu as pontas. Disse que é para comemorar a liberdade que conquistará em breve. Micaela é poucos meses mais velha que eu. Daqui há quinze dias completará dezoito.

_ Oi.

Micaela e eu levantamos nossas cabeças. Munira está parada à nossa frente.

_ Escute aqui garota, se veio tripudiar de Alexandra vai levar um chute no traseiro! Cai logo fora. Não estou com paciência para você. _ Micaela ataca antes de ouvir o que a garota tem a dizer.

_ Ei! Se controle, maluca. _ Munira levanta as mãos. _ Não seria tão insensível a tal ponto. Tripudiar da dor de alguém nessa hora seria covardia. Perder a mãe é coisa séria. _ Micaela a observa desconfiada. _ Só queria saber como está... _ Munira se dirige a mim.

 Sambuca di Sicília. Série Caminhos do destino. Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora