Os dias que se seguiram após conhecer a mãe de Cesare foram reclusos para mim. A rejeição imediata de Antonella Leone me fez evitar os horários de refeições com a família e a circular pela mansão quando ela estava presente. Consequentemente deixei de ver Cesare com a mesma frequência.
De certa forma, foi conveniente também evitá-lo, já que em nossa última conversa ele deixou claro que precisa cumprir a promessa feita a minha mãe, mas que não quer alimentar um relacionamento com alguém jovem e inexperiente.
Está sendo difícil esquecer o beijo e o toque de Cesare, mas preciso me libertar desse sentimento que não tem futuro.
Toda noite antes de dormir, a última voz que ouço é a sua. O boa noite deve ser dirigido a Pietro, quando passa pelo corredor em direção ao seu quarto, mas é o suficiente para arrepiar os pêlos de meu corpo e me fazer lembrar do quanto é bom estar em seus braços protetores.
Me encolho na enorme cama e pego no sono imaginando a voz rouca em meus ouvidos. As vezes sonho com ele. Sempre estamos tentando nos encontrar, mas algo invisível nos separa. Corro pelas ruas de Sambuca e não consigo encontrá-lo. No fim do sonho as ruas se transformam nos corredores do Internato São Miqueias no Brasil, então acordo assustada.
Após uma semana sem ver Cesare, Pietro vem pela manhã em meu quarto avisar que no fim de semana haverá uma festa de boas vindas à Antonella na casa de Marisa.
_ Não sei se poderei ir, querido. Tenho umas coisas para fazer.
_ Por favor, Alexandra! Deixe para fazer essas coisas depois. As festas na casa da tia Marisa costumam ser muito legais. Você vai perder se não for.
_ Mas é uma reunião de família. Não sei se tem a ver comigo. Sua avó deve preferir estar só com os parentes.
_ Mas papai disse que você é da família. E tia Marisa também mandou te chamar. _ O menino me deixa sem argumentos.
_ Vou ver o que posso fazer.
Passo o restante do dia evitando encontrar principalmente com Antonella e Cesare.
Almocei com Nicollo na biblioteca, algo que acabou se tornando um hábito. Sempre levo uma refeição na bandeja para meu amigo que esquece de se alimentar entretido com os serviços burocráticos da mansão.
Depois segui para a torre, que é isolada dos demais cômodos da casa, e me distraio com meus desenhos.
Mal sinto as horas passarem enquanto rabisco em inúmeras folhas. Olho ao redor e sorrio com a quantidade de material. Além das costumeiras pinturas da galáxia, comecei a me aventurar em retratar paisagens de Sambuca.
Sorrio ao finalizar uma ilustração da janela com jardineira florida da casa que minha mãe comprou. Antes disso já havia arriscado uma caricatura de Pietro, uma ilustração da plantação de lavanda do quintal de Concetta e um rascunho do rosto de Cesare, que acabei amassando e jogando longe.
Já anoiteceu quando sinto um arrepio na nuca e tenho certeza da presença de alguém me observando. Não ouvi os passos na escada. Viro-me relutante por suspeitar quem seja.
Cesare está lindo parado na porta com o braço suspenso apoiado no batente, a gravata afrouxada e o paletó jogado no ombro.
_ Então, é aqui que tem se isolado nos últimos dias?_ Os olhos percorrem o cômodo sextavado.
_ Apenas uma atividade que sempre gostei de fazer para ocupar a mente e relaxar. _ Fecho rapidamente o bloco exposto no cavalete. _ Sinto muito se não pedi autorização para usar o espaço.
_ Não precisa se desculpar. _ Dá alguns passos desviando-se das folhas espalhadas. _ Essa torre é uma parte da casa que pouco recebeu atenção, até você chegar. _ Ele continua analisando meus desenhos e isso me provoca certo desconforto.
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Sambuca di Sicília. Série Caminhos do destino. Vol.1
RomancePrestes a completar dezoito anos, Alexandra dos Anjos terá que fazer uma escolha que definirá o rumo de sua vida. Estudou desde os quinze em um dos internatos mais conceituados do Rio de Janeiro enquanto a mãe esteve fora do país trabalhando como go...