Capítulo 19🍷Antiquário🍷

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Cesare teve que se conformar com minha escolha, apesar de não concordar. Da última vez que estivemos juntos, me avisou que estaria ausente por alguns dias por conta de uma viagem de negócios.

Giovanni não deixou de me visitar, apesar da repreensão que levou de Cesare por ter me ajudado a sair de casa. Porém sinto que está mais contido nas investidas.

Nicollo se tornou figura frequente em minha casa. Diariamente surge com uma focaccia recém saída do forno, um bolo fresquinho, um ramalhete de flores ou qualquer outra justificativa para dar uma conferida se estou me alimentando e me cuidando bem.

Ele sempre se demonstra emotivo quando circula pelas dependências da casa. Parece ter lembranças de minha mãe o tempo todo no local.

Preciso conversar mais com ele sobre isso...

_ O cão de guarda de Cesare não gosta de mim. _ Giovanni comenta ao entrar em minha cozinha, após encontrar Nicollo na saída.

_ Não fale assim de Nicollo. Ele é um amigo muito querido. _ Faço expressão aborrecida.

Giovanni ergue as mãos.

_ Ele parecia se dar muito bem com sua mãe também. _ Giovanni belisca um pedaço da focaccia que o sirvo com uma taça de vinho.

_ Acho que ele gostava dela._ Sirvo meu pedaço e sento em uma banqueta próxima ao balcão.

_ Na verdade, eles pareciam bem íntimos quando os via juntos.

Giovanni me deixa intrigada. Porque apesar de Nicollo ter revelado seus sentimentos por minha mãe, ela nunca citava ele em nossas conversas.

_ Mas me diga uma coisa, porque a comemoração?! _ Giovanni interrompe minha linha de raciocínio apontando para as taças e o vinho.

_ Tenho uma boa notícia! Consegui um emprego.

_ Que maravilha, bella! E vai trabalhar aonde?

_ Em um antiquário no centro do vilarejo. Nicollo me indicou porque sabe que gosto de coisas antigas...

Giovanni faz careta de nojo. Dou-lhe um tapinha no braço e ele sorri.

_ Então, o dono me perguntou se eu não conhecia alguém que quisesse trabalhar como atendente na loja para ajudá-lo, pois ele está com a saúde prejudicada e se cansa facilmente.

_ E acha que vai valer a pena?

"Giovanni não entende a empolgação, porque nasceu em uma família rica. Não precisou se esforçar para conquistar a vida de luxo que tem".

_ Vou ganhar pouco, mas já vai valer como primeira experiência de emprego.

Dou de ombros.

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O pequeno comércio do senhor Paollo fica no centro de Sambuca no térreo de um prédio antigo. Ele mora sozinho no segundo andar. No início, me senti receosa em fazer o trajeto de volta da loja para casa, pois o vilarejo costuma ficar deserto ao entardecer. Então, o senhor Paollo me deu sua bicicleta antiga e adaptou um cesto na parte de trás, onde carrego a bolsa e meus materiais de arte.

Apesar de pequena, a loja é bem aconchegante e oferece muitas opções para os clientes. A maioria dos visitantes são turistas que aparecem em busca de souvenirs originais. Ou colecionadores que vivem em busca de novos objetos para decorar suas mansões.

Uma semana após começar a trabalhar no antiquário, já estou completamente adaptada e ganhei a confiança de Paollo. Por trás do balcão da loja vazia olho para fora pela vidraça. Observo que o mesmo carro preto que esteve parado nas proximidades nos últimos dias continua lá. Também já o notei perto de minha casa e uma vez na porta da mercearia em que fui fazer compras. Uma sensação de desconforto me incomoda.

 Sambuca di Sicília. Série Caminhos do destino. Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora