Capítulo 17🍷Giuseppe Marinho🍷

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Desço a escadaria apressada para me afastar de Cesare e seus julgamentos precipitados. Quando alcanço o corredor, esbarro em alguém que vinha em sentido contrário. Um líquido vermelho ensopa meu macacão.

_ Sporcizia! Mas será possível?! _ Antonella solta um xingamento em italiano e me encara com uma taça vazia na mão e a expressão raivosa.

_ Desculpe, senhora! _ Arregalo os olhos ao ver sua camisola longa de seda branca tingida com o líquido.

_Qual seu problema, ragazza?! Não acha que está bem grandinha para ficar correndo pela casa?!

_ Eu estava com pressa, senhora. Sinto muito. Por favor, deixe-me ajudá-la. Troque a camisola que limpo para a senhora.

_ Tire a mão de mim, sua sonsa! Sei bem quais suas intenções. _ Antonella fala entredentes. _ Se esgueirando pela casa feito uma cobra peçonhenta. Louca para dar o bote em meu filho.

_ Quê?! _ Sinto as mãos gelarem e a cor de meu rosto sumir.

_ Pare de se fazer de santinha. Sei muito bem qual é a sua. Colocando meu filho contra mim. Ele veio chamar minha atenção por sua causa.

_ Mas eu não reclamei de nada com Cesare...

_ Trate de dar logo um rumo a sua vida e sair dessa casa. Ou acha que meu filho a sustentará para sempre?

As lágrimas inundam meus olhos, mas engulo o nó que se instala em minha garganta e saio o mais rápido possível da frente da mulher cruel.

Assim que alcanço meu quarto, entro e me tranco. Solto as fivelas do macacão manchado, arranco-o do corpo com raiva e o chuto para longe. Mergulho na cama, deito encolhida abraçada aos joelhos.

Estou farta de viver de favor em uma casa onde não sou bem-vinda e as pessoas pensam o pior de mim.

Estou cansada de me controlar sempre, de procurar não demonstrar os sentimentos e tentar parecer madura para impressionar alguém que não me leva a sério. Cesare agora deve estar aborrecido por descobrir que ando fazendo desenhos de seu rosto feito uma adolescente apaixonada.

Deixo as lágrimas fluirem para libertar a angústia que sufoca meu peito.

_ Alexandra! Preciso falar com você.

Minutos depois, ouço algumas batidas na porta. Não respondo.

_ Alexandra! Abra!

O tom da voz de Cesare fica mais enérgico, mas não faz diferença para mim. Estou emersa em revolta. Não quero ver Cesare. Não quero ouví-lo.

_ Alexandra, sinto muito. Não imaginava que era só um desenho... _ A voz fica mais mansa. A maçaneta da porta é forçada.

Ainda bem que a tranquei. Não posso encará-lo agora. Não depois de saber o que pensa de mim, me surpreender escondendo um desenho de seu rosto e ouvir as palavras venenosas de sua mãe.

Ele resmunga em italiano do outro lado da porta. Depois de um tempo, parece desistir. Fico deitada deixando toda a tensão e raiva extravasarem. Soco o travesseiro e abafo um grito de revolta.

Após alguns minutos, levanto e me arrasto para o banheiro. Vejo minha imagem patética refletida no espelho. Rosto inchado, olhos vermelhos e cabelos bagunçados. Me encaro envergonhada por sentir pena de mim mesma. Minha mãe estaria decepcionada por me ver assim. Seco as lágrimas.

Tenho certeza que dona Maria dos Anjos não batalhou tanto para ver a filha desse jeito.

Pego a escova na pia e escovo os cabelos energicamente. Tiro o restante da roupa e entro debaixo do chuveiro. Enquanto a água quente escorre por meu corpo e relaxa meus músculos, os pensamentos não param.

 Sambuca di Sicília. Série Caminhos do destino. Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora