Prestes a completar dezoito anos, Alexandra dos Anjos terá que fazer uma escolha que definirá o rumo de sua vida.
Estudou desde os quinze em um dos internatos mais conceituados do Rio de Janeiro enquanto a mãe esteve fora do país trabalhando como go...
O plano de me encontrar com Rodolfo e seu pai para uma possível entrevista de emprego foi por água abaixo. Acordei do desmaio deitada no sofá do apartamento com Micaela me abanando e Nicollo me encarando com expressão preocupada.
_ Pai, como me encontrou? _ Levo a mão a testa suada e tento me levantar. _ Como você está? Já recebeu alta do hospital?
_ Pai?! _ Micaela olha de mim para Nicollo. _ Acho que vou deixar vocês conversarem a sós.
Concordo aceitando o copo d'água que ela me oferece.
_ Figlia, o que aconteceu para que fugisse desse jeito de nós? Por que me abandonou? De Cesare até entendo que tenha se cansado. Ele já te fez passar por muito sofrimento, mas por que não me avisou que viria para o Brasil? Por que não me esperou?_ Nicollo tem na expressão ressentimento e cansaço.
_ As coisas não aconteceram do jeito que pensa. _ Encosto-me em algumas almofadas. _ Não fugi de vocês, nem me cansei de Cesare. Fui obrigada a partir...
Resumo em palavras tudo o que sofri desde a noite no hotel, quando Vicenzzo me sequestrou. Nicollo acompanha a narrativa com o cenho franzido. Solta emprecações de raiva e indignação. As mãos se abrem e se fecham em sinal de tensão.
_ Miserabile! Vicenzzo Marinho vai pagar por tudo o que fez você passar._ Nicollo tem lágrimas contidas nos olhos.
_ Não! _Seguro sua mão. _ Não quero que faça nada. Não entende que esse é o motivo porque me mantive escondida? Vicenzzo ameaçou matar vocês! A condição para que isso não acontecesse era que eu me afastasse de suas vidas, principalmente de Cesare. Vicenzzo fez tudo por vingança. Ele não aceita que Cesare seja feliz depois da morte da irmã e agora do pai.
_ Não tenho nada a ver com isso, Alexandra. Já vivi muito tempo longe de você para me afastarem novamente.
_ Temo por sua vida. Se Vicenzzo descobrir não sei o que é capaz de fazer.
_ Ele não descobrirá. Ficaremos no Brasil por definitivo.
_ E seu trabalho no serviço secreto?
_ Larguei tudo. Me aposentei. Fiz o que deveria ter feito há muito tempo. Dedicarei o resto de meus anos a você e às coisas simples da vida. Tenho sorte de ter sobrevivido a essa última ação. Não quero viver mais assim.
_ Cesare sabe que veio?
Nicollo nega com a cabeça.
_ Não lhe contei minhas suspeitas. Assim que recebi alta do hospital, comecei a investigar por conta própria. Ele não faz a mínima ideia de onde você está. Pensa que está na Itália. Até entrou em contato com seu antigo Internato, mas quando disseram que não sabiam de nada, descartou a possibilidade de você ter vindo para o Brasil.
_ Ele não pode saber onde estou para o próprio bem dele. Jamais me perdoarei se Vicenzzo lhe fizer algum mal por minha causa.
_Sabe que nunca fui a favor do romance de vocês, não é Alexandra?
Afirmo abaixando a cabeça.
_ Mas não posso deixar de reconhecer que estava errado em meu julgamento.
O encaro confusa.
_ Cesare verdadeiramente te ama. Quase enlouqueceu nas últimas semanas. O homem tem movido céus e terras para te encontrar. O desespero é nítido.
A confissão de Nicollo me rasga por dentro. Saber que Cesare está sofrendo só dificulta mais as coisas. A razão me obriga a me afastar, mas o coração clama por ele.
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Enquanto Nicollo não encontra a casa que deseja em um bairro mais tranquilo, alugou um apartamento no mesmo prédio do loft de Micaela. O bom é que pude continuar cuidando de Vitinho no turno de trabalho de minha amiga.
A apreensão de início de ser descoberta por Vicenzzo ou algum de seus capangas, se foi. Poder conviver com Nicollo resgatou a sensação de segurança que eu havia perdido. Sua presença preenche uma lacuna que sempre esteve vazia em minha vida.
_ Preciso ir agora. _ Levanto-me da mesa de café da manhã farta.
Nicollo insiste em me fazer comer além do que suporto.
_ Mas você não comeu nada!
_ Já devia estar acostumado. Sabe que não como muito pela manhã. _ Beijo sua testa. _ Preciso ir. Antes de levar os documentos ao RH da empresa, tenho que fazer alguns exames admissionais.
_ Sabe que por mim não trabalharia agora. Prefiro que ingresse em uma faculdade. _ Ele reclama mais uma vez.
_ Já conversamos sobre isso. Também quero voltar a estudar, mas antes preciso organizar minha cabeça. Está tudo muito recente. O trabalho me ajudará a esquecer. Além de ser apenas por meio expediente.
Ele acena visivelmente inconformado.
Me despeço de Nicollo e saio. Nosso prédio fica em uma rua do bairro de Copacabana, mas nesse horário o movimento ainda é pequeno. Alguns comércios estão fechados.
Estranho um carro de vidros escuros estacionado na calçada. Além da situação irregular, noto que o motor liga assim que saio pelo portão do condomínio.
Caminho apressada e olho algumas vezes para trás. O veículo me segue lentamente. Com os vidros pretos fica difícil identificar o condutor.
Deus, não permita que Vicenzzo tenha nos encontrado!
Aceno para um táxi que entra na rua. Entro apressada e observo o veículo suspeito parar novamente. Meu estômago revira ao imaginar que posso estar sendo vigiada há algum tempo.
Ligo para Nicollo e o deixo avisado.
Se for Vicenzzo, o que está esperando para nosconfrontar?
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_ Alexandra dos Anjos! _ A atendente do consultório médico em que fiz os exames admissionais há três dias anuncia minha vez de ser atendida.
_ Bom dia, doutor. _ Sento em frente ao senhor grisalho.
_ Bom dia, Alexandra. _ Ele me entrega o envelope com os resultados dos exames pedidos. _ Estive analisando seus exames. Está tudo certo com sua saúde.
_ Obrigada, doutor. _ Sorrio aliviada.
_ Que bom que é amiga do vice- presidente da empresa, senão seria difícil te empregarem no momento devido ao seu estado.
_ Que estado? _ Ergo a cabeça confusa.
_ Em seu estado de gravidez, ora. Vai me dizer que não sabia que está grávida?
_ Não. _ Minha voz falha.
_ Alexandra, não notou atraso na menstruação e outros sintomas característicos como tonteiras, enjoos e desmaios. _ O médico questiona descrente.
_ Não, eu...eu. Sim, tive tudo isso, mas passei por um período bastante conturbado em minha vida. Achei que fosse apenas estresse.
O médico sorri com minha resposta tola.
_ Seu estresse está exatamente com quatro semanas. _ Responde irônico.
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