Capítulo 34🍷Palavras que não foram ditas - Parte 1🍷

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Cesare joga a arma descarregada no chão. A respiração está pesada. Aos poucos vai voltando a si. Vira o rosto em minha direção e o semblante muda. O olhar antes furioso dá lugar a uma expressão penalizada.

Sinto a adrenalina fervilhando em minhas veias. Ao mesmo tempo em que estou apavorada sinto-me aliviada por ele ter dado um fim ao tormento que vivíamos. Estou gelada e trêmula. Mal consigo sair do lugar.

_ Venha, vamos sair daqui. Você está em estado de choque. _ Segura meu rosto e me afasta da cena macabra.

_ E Antonella?_ Olho para trás procurando por sua mãe.

_ Fugiu quando teve oportunidade. Minha mãe, como sempre, só pensa nela. _ Ele responde com desgosto.

No corredor, Cesare fecha os olhos e encosta na parede. Leva a mão ao tórax.

_ Precisa de um médico. _ Abraço-o pela cintura. _ Vamos, eu te ajudo.

Os sons de tiros e gritos cessaram.

Descemos a última escadaria que dá acesso ao salão principal do forte. A cena de caos está espalhada por todos os lados. Mesas e cadeiras fora dos lugares. Vidraças e porcelanas quebradas. Existem homens caídos por todo lado. A porta dupla de madeira maciça da frente foi arrancada.

Saímos devagar para o pátio principal...

_ Alexandra!

Cerro os olhos e aprumo a visão. Além da neblina da noite, há muita fumaça do lado de fora.

A primeira pessoa que identifico é Kiara. Está em pé com duas armas ainda nas mãos. O coque desfeito, parte da roupa rasgada e um corte no braço que sangra bastante.

Mais atrás está Mattias, que corre imediatamente para amparar Cesare, agora sentindo muita dor.

A névoa se dissipa conforme me aproximo e identico o dono da voz que me chamou. Paollo está ajoelhado ao chão com o corpo de Nicollo apoiado em seu peito.

_ Não! _ Corro em direção aos dois.

Novas lágrimas quentes escorrem por meu rosto. Ajoelho-me ao seu lado.

_ Pensamos que todos haviam sido rendidos, quando um último homem o surpreendeu por trás. _ Paollo explica.

_ Isso não podia acontecer! _ Choro compulsivamente. _ É tudo culpa minha. Se não tivesse desobedecido, ele agora estaria vivo e seguro no Castelo.

_ Mas outras pessoas poderiam estar mortas. Você e Kiara foram heroínas. Não tem culpa de nada, Alexandra. Nicollo é um agente experiente. Mais dia, menos dia isso vai acontecer com todos nós. É o nosso trabalho. _ Paollo tenta me consolar.

_ Não, não. Nicollo, não! _ Desço o rosto ao seu peito. _ Você é a família que me restou. Me perdoe por ter sido tão intolerante. Não tive tempo de te dizer, mas te perdoo. Entendo tudo que precisou abrir mão para nos proteger, pai.

Ouço um gemido fraco vindo de seu peito. Sinto uma mão tocar minha cabeça. Ergo o rosto. Suas pálpebras tremem.

_ Alexandra...

Ele ainda está vivo! Ah, graças à Deus!

_ Sim! Sou eu, pai! Estou aqui! _ Seguro seu rosto.

Paollo sorri e o segura com cuidado nos braços. Cesare e os outros também se aproximam.

_ Que alegria sinto em te ouvir finalmente me chamar de pai...

_ Sim, você é meu pai. Me desculpe se tive um coração duro e não reconheci isso logo. Me perdoe pelas palavras de afronta. _ Acaricio seus cabelos que começam a ficar grisalhos.

_ Não tem que se desculpar por nada, figlia. _ Ele sorri com muita dificuldade. _ Sinto muito orgulho de você. É como sua mãe, linda, forte e inteligente. O homem que ganhar seu coração estará recebendo um tesouro. _ Nicollo olha em direção a Cesare.

Ele apenas acena a cabeça.

_ Pare de falar agora, amigo. Você precisa poupar energias. A ambulância logo chegará para o levar ao hospital. _ Paollo adverte.

_ Meu último combate encerra aqui. _ Nicollo respira com dificuldade.

Mesmo assim segura minha mão e leva à boca. Deposita um beijo gelado no local. Seus lábios começam a ficar roxos. Minha visão está turva com as lágrimas.

_ Não fale assim. Sabe que preciso de você. Não pode me abandonar também. _ Aperto sua mão.

_ Me perdoe, Alexandra. _ Ele geme fraco. _  Falhei com você novamente. 

Nicollo fecha os olhos e desfalece. A cabeça tomba para um lado e a mão fria solta a minha.

_ Não! Pai?! Não! _ Grito em desespero.

Olho para os rostos ao redor suplicando ajuda. Todos estão visivelmente emocionados.

Deus! Não pode ser!

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 Sambuca di Sicília. Série Caminhos do destino. Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora