Ate Que o Casamento Nos Separe !

O CASAMENTO E A DECISÃO PARTE II

NARRAÇÃO DA MARCELA:

Minha vida com meu marido nunca mais foi a mesmo depois do nascimento da minha filha, porém nunca falei isso a ela por medo de que ela passasse a vida se culpando por algo que não fez. Na época que eu estava grávida, ele queria muito que eu tirasse a criança, pois ele vivia falando que não daria para mexer no orçamento dele por causa de um bebê indesejada. Indesejada? Como ele poderia falar assim da própria filha? Não sei mais ele falou isso para mim a gravidez inteira, então como tinha feito minha faculdade de letras no Rio de Janeiro, fui dar aulas em uma escola particular e para concluir meu mestrado fui fazer um estagio na universidade de São Paulo mesmo.

Passava a maioria do tempo em casa preparando aula e concluindo meu mestrado a distancia mesmo, por aulas on-line com meu antigo professor. Após concluir tudo passei a dar aulas em uma faculdade de letras de São Paulo e na escola particular perto de casa mesmo. E assim fui guardando boa parte do meu dinheiro para minha filha, afinal meu marido não daria nada a ela.

Por algum motivo, ele passou a ter atitudes de pai com a nossa Lívia, a levava para passear no parque, dava banho e a trocava, e meu casamento voltou ao normal, porem eu não parei de trabalhar, e o dinheiro que eu estava guardando para Lívia, deixei na conta mesmo para realizar um sonho que eu alimento desde criança, ajudar meninas e meninos carentes na rua. Outra coisa que Pedro achava um absurdo, mas não discutia comigo sobre isso, afinal nada que fosse daquele orfanato sairia do bolso dele, isso já havia deixado bem claro quando comecei a dar aulas.

Muitos anos se passaram, nossa filha cresceu e nos deu muito orgulho, fez faculdade de Direito e Psicologia, se formou e for atuar em uma clinica com sua amiga que também era psicóloga. A faculdade de direito ela não pretendia exercer no momento, pois não era seu sonho, e sim do seu pai, que era um bom advogado e pegava casos grandes e que davam muito dinheiro. Porem, a Lih fez uma grande burrada de se envolver com o filho do caseiro, o Gustavo. Ele era um menino muito generoso e atencioso, fez faculdade de engenheiro e queria muito ajudar seus pais a mudarem de vida, exerceu sua função muito bem. Dava para ver em seus olhos como ele amava a Lih, mas como Pedro veria esse relacionamento? Como ele aceitaria a Lih namorando ou ate mesmo se cansando com o filho de um mero caseiro? Ele já tinha planos para casar a Lih com o filho de um advogado bem sucedido da cidade.

Mas nada saiu como ele planejava. Ela já havia me contado que tava tendo um rolinho com o Guh, mas pra mim não levaria nada a serio, mas quando ela me disse que estava serio e iria apresentar ele para o pai dela eu tentei fazer de tudo para que ela desistisse dessa historia louca que não levaria a nada, mas não adiantou. Preciso dizer que o “jantar” foi um desastre né? Pois é, como imaginei, ele ofendeu o moço que me pareceu do começo ao final do jantar um bom rapaz, minha filha ficou muito envergonhada e ai começou as discussões em casa. No começo eu não queria aceitar e fiquei do lado do Pedro nisso, mas quando vi que a Lih estava realmente feliz e não sofrendo como imaginei apoiei a relação, e isso geraram a minha separação com o Pedro. Ele não dormia mais no mesmo quarto e vivia chegando a casa tarde, bêbado e com marcas de batom na gola de suas camisas. Isso me gerou a pedir uma separação judicial, sei que não dormíamos juntos, mas não merecia passar por isso assim.

Logo após a separação minha filha se casou e ele não foi ao seu casamento como previsto por ele mesmo, mas mesmo assim o casamento foi lindo. Seu tio distante fez o papel de pai e levou minha filha até o altar. Ela estava deslumbrante, radiante, nunca tinha a visto tão feliz quanto do dia de hoje. E o Guh, oh Deus, já derramava as lagrimas quando a Lih entrou na igreja vestida de noiva, a mais linda que podíamos ver passar, eu também derramei algumas lagrimas, mas logo sequei afinal eu era a mãe/pai da noiva a que mais tiraria fotos com ela em todo seu casamento. Na sua festa tentei fazê-la trocar de idéia sobre não sair em lua-de-mel com o Guh, mas ela é mais teimosa que eu então não tive como a fazer mudar de idéia, ela disse uma frase muito animadora para que eu desistisse: “Quero abrir meus presentes mamãe, por isso não vou a minha lua-de-mel, terei muito tempo para isso, mas agora tenho curiosidade de abrir os meus presentes.” Eu sorri ao ouvir aquilo e continuei a me divertir. Mas como num passe de mágica o Pedro apareceu na festa com uma cara de desapontado como se não acreditasse que Lih realmente havia casado com o Guh como havia dito a mais ou menos um ano atrás antes de sair de casa. Com a maior cara deslavada ele olha para ela e diz a frase mais irônica que podia sair de sua boca naquele momento:

- Eu não acredito nisso minha filha, diz para o papai que foi mesmo para irritar o papai e que vai voltar para casa e se casar com Leonardo! – Disse ele quase que acreditando que a resposta seria sim.

- Não, ela não vai mais fazer suas vontades só porque você é um preconceituoso que não aceita pessoas com baixa renda financeira. Acha mesmo que dinheiro é tudo na vida Pedro? Pois não é, alias mesmo se fosse não estaríamos separados, pela quantia que me enviou para que voltássemos. E aproveitando que esta aqui toma – Joguei o cheque rasgado na cara dele – E NUNCA mais faça isso comigo, eu não sou como as vagabundas que você sai pegando, poderia pelo menos se lembrar disso. – Disse chorando e me virando para sair o mais rápido o possível de lá.

Lih o mandou ir embora para sempre de lá e foi atrás de mim com o Guh, e muito compreensivo bateram na porta de um quarto da chácara e entraram. Sentaram-se na cama e se olharam em silencio me dando espaço para chorar. Logo depois que paro de soluçar Lih se senta na cama e fala comigo:

- E ai mãe, ta melhor? – Perguntou ela calmamente.

- Sim filha, e me perdoe por estragar a festa de vocês juro que não foi a minha intenção. Só não agüentei ver que seu pai ainda queria deixar você constrangida filha. – Falei quase que chorando.

- Calma mãe não fiquei brava com a senhora. Alias alguém tinha que falar umas verdades na cara do meu pai. Estou muito magoada pela forma que ele falou ali fora sabe mãe. Eu não queria que ele viesse para estragar a minha festa mais sim para se divertir e se conformar, e ele ainda tinham que falar do Leo aqui mãe, ele sabe que ele não gosta de mim, gosta da Karina. – Disse quase disparando as palavras.

- É que seu pai nunca soube diferenciar a amizade linda de vocês dois com um amor de verdade que ele realmente nunca sentiu por ninguém, talvez nem pela sua própria mãe. – Disse lhe dando um abraço e encerrando o assunto ali.

NARRAÇÃO DE PEDRO:

Eu jamais imaginei que minha filha realmente se casaria com aquele pobre, morto de fome, e muito menos que minha própria mulher jogaria tanta coisa na minha cara. E como ela sabia das minhas famosas “noites de reuniões”? Será que ela estava me seguindo? Será que ela me esperava todos os dias ate que eu chegasse a casa? Chega hora de parar de pensar nessas coisas e ir me divertir. Antes peguei meu telefone e liguei para meu advogado, tudo bem que era sábado à noite mais ele teria que me atender. No segundo toque ele atende ao telefone, conversamos um pouco e ele diz que o papel do divorcio chegou, logo que ouvi isso me deu um aperto no coração, achei que pelo menos ela aceitaria aumentar o prazo, afinal eu ainda a amava, só não queria que ela ajudasse e concordasse nas loucuras da minha filha. Senti meus olhos queimarem de vontade de chorar mais decidi que ia seguir em frente e continuar a minha vida de sempre sem ela e minha filha, marquei com ele que na segunda estaria no escritório dele para assinar os papeis de uma vez. Não ia fazer jogo duro, se ela quer assim, pois que assim seja então. No mesmo instante motorista muito amigo meu e de minha família disse:

- Mas senhor Pedro, vai desistir assim de tua mulher que tanto ama?

- Não estou desistindo dela Marcelo, apenas não quero fazer deste momento doloroso para mim uma guerra, porque se eu não assinar esses papeis é isso que vou ter guerra! – Exclamei deixando lagrimas caírem dos meus olhos.

Todo mundo, ate mesmo o Marcelo sabia o quanto eu amava aquela mulher, depois de minha mãe que já havia falecido nunca mais amei mulher nenhuma ate aparecer Marcela e Lívia as duas mulheres das quais eu mais amei nesta vida. Mas se era para ser assim, que pelo menos não fosse à base de guerra. Meu coração pensava assim e assim iria ser.