NARRAÇÃO DE MAH:
A viajem foi longa mas não conseguia pregar o olho. Desde que Alissa morreu e eu me casei com Pedro nunca mais coloquei os pés aqui, acho que não tive coragem. Não vou negar que sentia falta de todos aqui, mas saber que não veria mais Alissa sorrindo a me ver chegar anulava qualquer força de vontade de vir pra cá visitar essas pessoas boas que tanto me ajudaram, pode parecer egoísta mais meu medo de sofrer sempre falou mais alto. A moça avisa que o avião acaba de pousar no aeroporto do Rio de Janeiro, e daqui já sei bem me virar, eu acho. Pego um táxi e dou o endereço da Villa Esperança. No caminho pergunto se alguma coisa por lá mudou, mas o taxista diz que esta nas mesmas ainda, pessoas esperando o governo fazer casas melhores para aqueles que não tem uma condição financeira muito boa, e isso me entristece um pouco. Em menos de 40min chegamos ao endereço desejado, eu agradeço e pago o taxista, tiro minha pequena mala do porta-malas dele e ele vai embora. Respiro fundo e começo a caminhar pra dentro do local onde há anos não via.
Assim que entrei vi Dona Eulália estendendo roupas no varal, ela era a mais próxima da minha família ali e era ela mesma que poderia me ajudar.
- Dona Eulália ? – Chamo a atenção dela pra mim, que me olha surpresa.
- Marcela ? É você ? – Ela fala e eu assinto olhando-a com carinho. – Oh menina, quanto tempo, venha aqui dar um abraço nessa velha... – Ela fala sorrindo.
- Como que você esta tia Lali ? – Pergunto sorrindo e abraçando-a. Há quanto tempo não sentia esse abraço acolhedor.
- Estou bem pequena, vivendo como da. E você, sua família estão todos bem. – Ela pergunta e eu sinto vontade de chorar, mas não posso chorar agora, reúno minhas forças lembrando do que vim fazer aqui.
- Não estão muito bem não Lali, e foi exatamente por isso que vim aqui. Preciso de algumas respostas sobre um assunto que a Beatriz deixou no ar. – Eu digo e ela me olha assustada, como se realmente soubesse algo.
- Olha filha a historia é mais complexa que isso, eu sugiro que vá tomar um banho e descanse amanha nos conversamos sobre este assunto. – Ela fala e eu gelo por dentro. Mas se ela esta disposta a me contar tudo, por mais complexa que seja eu vou seguir o que ela me sugeriu. – Vá lá pra casa, tome um bom banho e se acomode no quarto de Lurdinha, ela viajou há alguns dias e não disse quando volta. – Ela fala e eu me lembro que a Lurdinha saiu do pais com medo de Beatriz.
- Tudo bem tia Lali, obrigada. – Me limito a dizer isso e subir. Tomo o banho e me deito na cama já trocada de roupa, pego meu celular e mando uma mensagem pra Lih avisando que eu estou bem e para ela não se preocupar comigo. Suspiro fundo. – Amanha será um longo dia. – falo e caio no sono.
3 MESES DEPOIS...
Agora estou eu aqui voltando pra São Paulo com uma verdade no peito que chega a doer por dentro. Tentei ser forte e não chorar mais ta difícil. Estou prestes a pousar em São Paulo e ninguém sabe que eu voltei. Preferi assim, quero falar com uma pessoa primeiro. Já identifiquei seu paradeiro. É hora de reencontrar a minha verdadeira mãe.
Assim que entro no apartamento levo um pequeno choque. Nunca imaginei falar com ela nesta situação, com tanta raiva e rancor. Eu nunca imaginei ser abandonada, ainda mais pelo motivo tosco que ela me abandonou. Escuto passos e me recomponho virando-me de costas pra janela. Ela toma um susto de primeira mais tenta se demonstrar forte como eu.
- Marcela o que faz aqui ? – Ela me pergunta e eu olho pro lado dela.
- Eu vou deixar vocês a sós. Qualquer coisa me ligue amor. – Ele fala dando um beijo nela e sai pela porta nos deixando sozinhas naquela sala.
- Temos um assunto antigo pendente. Querida mamãe. – Falo em tom sarcástico e ela despenca na poltrona atrás dela.
- O que.. O que você disse ? – Ela pergunta abalada e eu não agüento mais segurar minhas lagrimas.
- Isso mesmo que você ouviu Beatriz, ou devo chamá-la de mamãe ?! – Pergunto de novo em tom sarcástico e ela se sente ainda mais abalada. Acho que ela não esperava que essa verdade fosse revelada. Na realidade nem eu esperava, isso doeu muito.
- Como... Como você descobriu isso Marcela ? Quem falou pra você ? – Ela me olha agora com os olhos marejados, mas isso não vai me intimidar. Quero e vou ter respostas.
- Eu fiquei três meses fora Beatriz. Voltei pro Rio de Janeiro atrás da minha verdade. Atrás da verdade da minha vida. Só não esperava descobrir isso. Você imagina o quanto me doeu tudo o que me disse ? – Falo tentando manter a calma.
- Eu fiz o que fiz para o seu bem. Você não teria uma vida comigo e... – Eu a interrompo aos berros.
- MENTIRAA... VOCÊ NUNCA ME QUIS. DEU-ME PRA ALISSA CUIDAR E FOI EMBORA ATRAS DE DINHEIRO. VOCE NÃO QUERIA FILHOS E AINDA DISSE QUE EU ATRAPALHARIA A SUA VIDA... – Falo chorando.
- EU TINHA 14 ANOS MARCELA. QUEM QUER TER RESPONSABILIDADES COM ESSA IDADE... – Ela grita de volta.
- Dane-se !!! Você poderia ter usado preservativos, mas preferiu fazer sem e engravidar. Que mãe no mundo tenta abortar um bebe só porque estava prestes a tentar uma vida com um cara rico que não queria filhos ? Você realmente não tem sentimentos neste coração frio. – Eu falo e ela cai novamente no sofá agora fraca e chorando mais do que eu.
- Fui fraca mesmo. Vendi-me por pouco mas não podia ter você. Não podia olhar pra você. NÃO CONSEGUIA OLHAR PARA O FRUTO DE UMA DESGRAÇA, FRUTO DE ESTUPRO... – Ela se exalta e agora quem cai no sofá sou eu. Estupro ? Meu pai era um estuprador ? – Eu sei o que esta pensando e sim, era um estuprador. Ele era mais um dos rapazes da Villa que queria ficar comigo, mas ao contrario dos outros, ele tinha uma atitude possessiva. No dia que... Que... Bom, ele e eu tínhamos brigado, eu mandei ele ir pro inferno e se esquecer de mim porque em breve eu iria embora pra ter uma vida melhor. E então ele me levou pra dentro de um carro e... E... – Ela não conseguiu terminar a frase então preferi saber das minhas respostas.
- Porque não me contou antes ? Porque não deixou ninguém me contar ? – Pergunto indignada com isso.
- Porque eu não queria que você soubesse. Porque eu entrei em depressão pós-parto e fugi, porque eu era fraca demais pra cuidar de você. Eu não queria ter que olhar pra você e me lembrar a cada segundo daquele momento horrível. Mas depois que minha mãe morreu, eu me senti na obrigação de cuidar de você. Então foi ai que tudo começou, eu tive pesadelos diversos e fazia o possível pra não olhar diretamente pra você. E quando vi que você e o Pedro estavam juntos e fiz de tudo para separar vocês. Mas ele nunca me quis, nem no passado e nem agora depois de toda aquela confusão. Isso só serviu pra me mostrar que as coisas poderiam ser diferentes. – Fala chorando e por um segundo eu sinto como se a sinceridade dela estivesse guardada a muito tempo ainda.
- Você é apaixonada por ele ? – Ela me olha assustada e eu concluo a pergunta. – Digo, apaixonada por Pedro ? – Pergunto e ela me olha surpresa e depois sorri.
- Não. – Um alivio me consome, então ela continua. – Com ele era só dinheiro. Ambição. Nada se comprara ao que eu comecei a sentir por Bruno nesses três meses. – Ela fala o nome dele com carinho. Isso me tranqüiliza, e me lembra que tenho que ir pra casa.
- Tenho que ir. E sinceramente Beatriz sobre este assunto, eu não quero mais ver você. O fato de tentar se redimir não anula todo o sofrimento que eu estou sentindo, então finge que nunca me conheceu, que eu finjo que não tenho uma mãe, afinal você não me criou e não me queria, então fica mais fácil assim. Você nunca mais fala comigo e eu não dirijo a palavra a você. – Falo isso e sem dar tempo a ela de responder vou embora.
Saindo do prédio decido ir até uma praça. É longe mais vale a pena tomar um ar e respirar. Mando uma mensagem pra Lih avisando que cheguei mais que vou caminhar na praça antes de ir pra lá. E que provavelmente chegarei pra janta. Sento-me em um banco de frente para a praça e vejo crianças brincando e me lembro da minha infância. Deixo-me chorar tudo o que segurei nesses últimos dias, será melhor pra todos mesmo se eu nunca mais ver Beatriz na vida. O que ela fez é imperdoável, e mesmo me odiando por ser dura com ela, acho que foi melhor.
O tempo passou tão rápido que eu nem me dei conta. Despertei-me mesmo pra vida real quando Lih me mandou uma mensagem perguntando se estava chegando. Apenas mandei um simples “vou pegar um táxi” e não dei mais importância pro celular, eu realmente estava acabada. Dou sinal para o primeiro táxi que vejo e passo o endereço da casa da Lih pra ele. O caminho todo eu vou olhando a janela e pensando em como minha vida mudou em tão pouco tempo. Minha filha casou-se, eu e Pedro estamos mais distantes que qualquer coisa, abri meu orfanato, descobri que era adotada, e que minha verdadeira mãe era na verdade aquela que eu acreditava ser a irmã mais velha que eu tinha. Isso tudo mexeu profundamente com meu psicológico, e isso estava me afetando fisicamente, pois me sentia fraca de corpo, alma e espírito. Sou despertada pelo motorista.
- Senhorita, chegamos. – Ela fala calmo.
- Oh desculpe. Tome. – Dou o dinheiro.
Acabo dando dinheiro a mais para o moço como gorjeta que fica muito feliz com a minha atitude que me devolve o sorriso mais sincero do mundo. Tomo coragem e vou caminhando até a porta. Chego perto dela e tomo outra coragem pra abrir a porta, e sinto que as coisas agora serão mais difíceis depois de abrir esta porta e entrar novamente na minha realidade. Abro a porta e esta tudo escuro. Fecho a porta e acendo a luz me assustando com a sala enfeitada.
- SUUUUURPRESA... – Eles gritam na maior alegria. Olho melhor e vejo a Lih ao lado do Gustavo, Leo ao lado de Karina, Maisa com o Henrique e o... Pedro ? O que ele estaria fazendo aqui ? E com flores ? Sorrio para todos.
- Que susto vocês me deram. – Falo sorrindo e abraçando a Lih que foi a primeira a vir ao meu encontro. Assim que ela me abraça eu sussurro no ouvido dela. – O que seu pai esta fazendo aqui ? – Ela só da uma risadinha e nos desvencilhamos do abraço.
- Você logo vai entender mamãe, só relaxa e confia... – Ela sai andando me olha e da uma piscadinha.
O jantar foi ótimo, conversamos bastante, nos divertimos e ate demos um pouco de risada também. Porem já estava ficando tarde a maioria teria que ir embora por ter que ir trabalhar no dia seguinte, então eu a Lih e o Gustavo Fomos para a porta recepcionar a saída deles. Eu não sabia como estava cansada ate aquele exato momento. Foram tantas coisas, tantas descobertas que eu preferi conversar aos poucos, e a primeira que eu queria que soubesse dessa historia era a Lih, mas tava em duvida se contava pra ela ou não, ainda tinha o fato do Pedro estar lá, eu confesso que imaginava o porque mas não estava psicologicamente pronta pra tomar uma decisão agora. Então ele toma a palavra antes que a Lih se despeça dele.
- Marcela, será que eu posso falar com você ? – Ele me olha profundamente e eu não compreendo sobre o que é o assunto, mas uma certeza eu tenho, não é sobre nos.
- Sobre o que exatamente ? – Eu pergunto com receio.
- Antes que você pense alguma coisa, a conversa é sobre você e envolve a Beatriz... – Ela fala e me olha com receio, e confesso me assustar com isso. Será que ele descobriu alguma coisa ? Bom, vamos lá né...
- Vamos para meu quarto... – Falo antes mesmo de dar tempo para que eu possa me arrepender...NARRAÇÃO DE LIH:
Eu estava em festa tanto na minha vida profissional quanto na minha vida pessoal. O orfanato da mamãe estava indo muito bem e as verbas sempre entrando. As crianças são um amor, e neste tempo que minha mãe esteve fora eu tomei uma decisão, vou ser voluntária na área que me formei : Psicopedagogia.
Já fazia três meses que mamãe tinha ido viajar e papai estava planejando uma surpresa pra quando a minha mãe voltasse e claro que eu ajudaria em tudo. Queria demais ver aqueles dois felizes de verdade, talvez até se casando novamente. Torcia pela felicidade não só porque eles eram meus pais, mas porque já passaram por muita coisa e muitas enganações então merecem que a felicidade finalmente chegue pra eles.
Quando minha mãe mandou uma mensagem avisando que já estava aqui eu surtei claro, não daria tempo de fazer a surpresa do papai, então pedi pra que ele viesse com um buquê de flores, liguei pro Leo e falei pra ele trazer a tia Maisa, tio Henrique e a Karina pra dar as boas vindas da mamãe. E claro, mandei fazer um cardápio especial, o prato que ela mais gostava, e tudo ficou perfeito.
O jantar foi uma beleza, nos divertimos e a mamãe tirou aquela tromba que estava quando chegou da viajem. Amanha vou falar com ela, saber o que ela descobriu. Meu pai estava tenso o jantar inteiro e quase não falou nada e na hora que todos foram embora ele chamou a mamãe pra conversar. Resolvi não me meter por enquanto e se tudo der certo eles se resolvem.
Subi para o meu quarto e resolvi fazer o que eu tinha que ter feito a uma semana atrás, o teste de gravidez de farmácia. Preciso tirar essa duvida da minha cabeça antes que o Guh perceba alguma coisa, e eu acho que ele já desconfia, porque anda meio estranho comigo ultimamente. Assim que cheguei no quarto vi rosas no chão fazendo um caminho levanto para a porta do banheiro que estava fechada, estranhei mas sorridente resolvi seguir pra saber o que tinha lá. Assim que abri a porta vi o Guh com um buquê de flores nas mãos e a caixa do teste na outra.
- Porque não me contou antes amor ? – Ele me perguntou me tirando do transe que eu estava.
- É só uma suspeita, eu nem tenho certeza. Queria te contar depois que tivesse certeza. – Falo sem graça.
- E ia fazer hoje ? – Ele me pergunta sorridente.
- Sim amor, me da aqui que eu vou fazer. – Falo sorrindo também. Pego o teste da mão dele e ele sai de lá. Respiro fundo umas duas vezes e finalmente tomo coragem pra fazer o teste. Quando termino olho pro teste e fecho o olho com medo, respiro fundo mais uma vez e abro os olhos devagar e não acredito no que vi ali. Saio do banheiro em um pulo só e o Guh me olha esperançoso.
- E então amor ? – Perguntou na esperança.
- Foi que vamos ser os mais novos pais desta casa... – Falei pulando no colo dele que ficou muito feliz.
- Obrigado meu amor, muito obrigado. – Disse ele feliz beijando minha barriga, dali fizemos amor à noite toda com carinho, comemorando essa alegria que estávamos sentindo neste momento.
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Ate Que o Casamento Nos Separe !
RomanceMarcela Guimarães é uma mulher de características fortes casada com Pedro Lanzelotty, um advogado renomado na grande São Paulo, eles tem uma filha chamada Lívia uma jovem de 20 anos cheia de sonhos e segredos guardados em sua mente. Quando Lih resol...