Zombie World - A Evolução (Livro 2)

Capítulo 26 - O bicho-papão

San Francisco, dia 19

Quando Bobby desceu seus olhos sobre a pilha de corpos, se sentiu enojado. O cheiro de podridão inundou suas narinas e embrulhou seu estômago. Os corpos estavam dilacerados, o zumbido das moscas sobre os órgãos expostos era algo amargo de ouvir e havia sangue, muito sangue esparramado pelo chão e pelas paredes daquele estreito corredor. Tentou se controlar, mas não resistiu. Apoiou as mãos sobre os joelhos e vomitou, o pouco que lhe sustentava naquela manhã. Não era assim que esperava ser seu primeiro retorno a San Francisco, nem mesmo queria ter sido escolhido para aquela missão, mas estava ali por Nick, sempre foi por Nick.

Olhou por cima dos ombros e lá estava ele, o seu melhor amigo, o garoto magricelo de cabelos castanhos que sempre montava um sorriso no rosto de Bobby. Nick estava posto ao lado de Kitty, que assim como Bobby, estava passando mal. Seria uma boa ideia virar as costas para aquele corredor e voltar até a última estação do metrô, mas Nick insistira que o caminho mais seguro até o galpão de suprimentos marcados por Zoe há duas quadras de onde estavam, logo acima daquela estação, era aquele. Haviam pequenas hordas espalhadas pelas ruas principais, logo o caminho mais fácil era o mais perigoso.

- Tá tudo bem, Bobby? – preocupou-se Nick colocando-se ao lado dele e segurando o seu braço.

- É... eu acho que tô – respondeu Bobby sem fôlego limpando sua boca após vomitar.

Logo atrás de Nick, Kitty esticava suas costas e tentava se recompor. A jaqueta jeans dela estava suja de sangue nas mangas e seus sapatos estavam ainda mais sujos depois que pisou em uma cabeça podre. Ela estava com o cabelo preso e uma mecha de seu cabelo escuro estava colado em seu rosto, pelo suor frio que escorreu após correrem de alguns zumbis na entrada da estação.

Após deixarem aquele corredor e passarem por uma pesada porta de aço, encontraram-se em um completo caos. O chão havia cedido e um pequeno prédio estava desmoronado sobre ele. As ferragens estavam contorcidas sobre as enormes placas de concreto e uma nuvem de poeira cobria toda a visão há poucos metros. Há pouca mais de uma hora, quando ainda estavam chegando em San Francisco, ouviram uma enorme explosão que acreditava ser ao sul da cidade, talvez até mesmo de Daly City, mas dada as circunstâncias, não haviam mais dúvidas de que aquele barulho era provindo dali. O prédio havia desmoronado sobre aquela parte da estação recentemente.

Ainda próximo deles, largas trincas se estendiam pelo alto paredão de concreto ainda de pé, e elas cresciam lentamente, soltando pequenos pedaços de tijolos e concretos. Voltar não era mais uma opção, a menos de que não se preocupassem de ser esmagados a qualquer instante pela estrutura ainda de pé. Se quisessem mesmo chegar ao possível galpão de suprimentos, precisavam atravessar aquela montanha de entulhos, em um labirinto escuro de ferragens e poeira, com chances ainda de também serem soterrados.

No primeiro bloco que Kitty pisou, ela escorregou e quase deslizou para debaixo de um trilho contorcido se não fosse Nick a segurar sua mão. Ela trocou um olhar assustada com ele e bateu a poeira de sua calça antes de continuar. Estava desinquieta desde que passaram por aquele corredor aterrorizante, mas Bobby não a julgava, ele também havia se sentido muito mal por estar ali. Era por momentos como estes que ele e Kitty deveriam agradecer por Nick conseguir ser tão frio, servia como um farol na escuridão.

Após subir e descer por algumas pilhas de escombros, espreitar-se por estreitos corredores e túneis de ferragens e escalar grandes blocos, encontraram-se em uma clareira de concreto. As montanhas de escombros cresciam a frente deles, separando-os do caminho que deveriam seguir. Nick olhava naquele mapa desenhado por Zoe diversas vezes e de nada lhe adiantara, estariam perdidos se tentassem contornar aquela montanha. A frente deles, Kitty tentava remover algumas pequenas pedras e procurava enxergava algum caminho por entre os escombros, mas a cada pedra tirada, três desciam da montanha e tomavam o seu lugar.