Santa Clara
Um homem de meia-idade aparente, com um uniforme azul e listras amarelas, caminhava por entre as fileiras de computadores de uma sala laboratorial. Ele carregava em mãos uma caixinha branca destampada, recolhendo o dinheiro dos apostadores. Ele parecia ser muito prestigiado por seus colegas, sempre assobiando no ritmo da música "Tonight You Belong To Me", que tocava em um volume agradável ao ouvido dos entusiastas cientistas.
O laboratório era comprido e os computadores de trabalho eram enfileirados em linha horizontal, sobre diferentes degraus verticais, possibilitando que todos ali presentes tivessem a mesma oportunidade de observar os cobaias do projeto. Ao fundo da sala, ficavam os cientistas mais experientes, com tempo de casa, gargalhando de suas próprias experiências. Nas fileiras da frente, próximas do painel de observação, concentravam-se os novos recrutas, jovens cientistas que se dedicavam ao extremo para provarem o valor do privilégio que os acomodavam. E bem no centro do laboratório, de pé com os braços cruzados e centrada no que observava, estava Crystal Rowling, a chefe de pesquisas de Santa Clara.
O silêncio retomou a sala e uma seriedade recaiu sobre todos os cientistas e técnicos quando, escoltado por outros quatro soldados, entrou o comandante Taylor, agora general. Crystal continuou parada, imóvel e fleumática, sem deturpar de suas análises científicas. Taylor caminhou com o olhar intimidante, recaído sobre todos os seus cordeiros, e parou ao lado de Crystal, a fitando dos pés a cabeça. Ela não parecia se importar nem um pouco com a sua presença.
- E então? - ele perguntou, com sua voz rouca e pesada.
- O quebra-cabeça é um símbolo muito claro para os objetivos da premissa - Crystal respondeu, sem nem piscar os olhos. - O garoto - ela apontou para um jovem de cabelos castanhos e jaquetas jeans verde. - Ele é astuto e um tanto... bipolar. Frio e emotivo. Será interessante ver qual lado dele será mais presente no combate.
Taylor firmou sua vista e procurou observar o garoto do melhor ângulo.
- Ele não me é estranho.
- Com certeza, não. Você deve ter destruído a família dele também - disse Crystal, bastante fria e com um sorriso debochado, ao apalpar o ombro de Taylor. - Que os jogos comecem! - ela disse em voz alta, como uma ordem. - Abram as portas.
***
Com uma adaga empunhada, Nick a atravessou na cabeça do primeiro zumbi que se aproximou. A carga de tensão acometida naquele momento, inibia que houvesse algum ressentimento com aqueles humanoides, mesmo que qualquer um deles pudesse ser um dos seus amigos, condenados à escravidão pela ciência. Não havia tempo para profundas reflexões, nem mesmo um suspiro por fôlego. A horda invadia aquele salão como uma avalanche, com pútridos corpos em movimento.
Ao lado de Nick, Niels havia se tornado um gigante. Considerado por tanto tempo como um dos jovens mais fracos da colônia e, por muitas vezes sendo desprezado por seu desempenho, o garoto de cabelos loiros se movia como uma máquina programada para matar zumbis. Não exibia habilidades, nem movimentos flexíveis, mas resistia por mais segundos a cada grito de força. Sua camisa branca estava quase transparente de tão molhada de suor. E ele ainda continuava lutando. Tropeçava em corpos, caía ajoelhado, mas se erguia mais forte e valente, com mais sangue jorrado em seu rosto. Niels temia a morte como qualquer outro ali, só que ele fazia de seu medo a sua força. Diferente dele, sua companheira de combate não parecia tão bem.
- Não posso aguentar por muito tempo - gritou Lizzie, exausta.
Foi com o grito de Lizzie que Nick percebeu que a forte mulher estava presa à um fim pavoroso. A horda se dissipava em diferentes direções, cercando cada um dos sobreviventes de Daly City. Lizzie, entretanto, era a mais próxima da entrada e, com isso, foi a mais prejudicada. Os zumbis saltavam uns sobre os outros para tentar agarra-la. Ela já havia gastado um pente inteiro de munição e, sem tempo para recarregar a arma, foi obrigada a provar seu histórico de combatente naquela batalha. Seu rosto estava vermelho de sangue dos corpos que eram dilacerados pelos seus fortes golpes. Ela usava um machete mais largo que a palma de sua mão, mas não se limitava apenas a isso. Enquanto atravessava uma cabeça, Lizzie desferia chutes e socos contra os mais precipitados que arriscassem a atacar pelo lado. Entretanto, foi em um desses fortes golpes, que Lizzie deslizou-se sobre restos humanos e caiu, desajeitadamente, sobre os demais corpos. Cansada e perdida, ela apenas pôde usar a arma para segurar a horda contra ela, sem novas oportunidades de ataque.
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Zombie World - A Evolução (Livro 2)
HorrorImprováveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constrói uma rebelião em meio ao castelo de segredos da GNOS. O vírus chega ao nível 2. Não recomendado para menores de 16 anos. Contém violência...