Capítulo 19 - A face da morte

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31 de outubro - o dia do apocalipse, Woster, Condado de Wayne, Ohio


Mesmo portando uma luva, Jane precisou soltar a forma de cookies às pressas sob o balcão. Ela havia deixado para assar por mais tempo que deveria, mas o cheiro parecia muito bom. Sua cozinha estava toda revirada, mas ela sabia que não precisava se preocupar em lavar as louças. Desde que completou sete meses de gestação, seu marido Tyler a proibiu de fazer qualquer esforço em tarefa doméstica. Mas naquele dia, por exceção, Jane precisou quebrar a promessa que fez a ele e movimentou sua cozinha para assar os tão deliciosos cookies da receita de sua avó.

- Mamãe, mamãe - gritava um pequeno garoto vestido de pirata ao entrar correndo na cozinha. - Posso ir pegar os doces?

O garotinho era Charlie Burke, o único filho do casal até então. Entretanto, após quatro anos do sufoco que passaram juntos com o nascimento de Charlie, Jane e Tyler foram surpreendidos com a notícia da chegada de mais uma criança, que preferiram não descobrir o sexo antes do parto.

- Já escovou seus dentes? - perguntou Jane agachando-se em frente ao garoto.

- Já, duas vezes ainda - respondeu Charlie apontando para a sua boca.

- Alimentou o Hamtaro?

- Ele não quer comer, ficou dormindo o dia todo.

- Tem certeza?

- Tenho, fiquei o dia todo colorindo abóboras no quarto e ele não quis brincar.

- Estranho. Vou dar uma olhada nele.

- Posso ir então pedir doces? - pediu Charlie outra vez com os olhos piedosos.

- Promete que vai se cuidar e não irá mais longe que a casa da dona Elsa?

- Prometo - respondeu balançando com a cabeça, com um sorriso largo que marcou os furinhos de suas bochechas.

- Tudo bem! Tome cuidado ao atravessar a rua, respeite o limite e volte antes ainda de escurecer. E seja educado sempre ao pedir.

- Tá bem! Tchau, mamãe - despediu Charlie saindo correndo da casa sem nem mesmo trancar a porta.

- Crianças! - Jane pensou alto.

Após levantar-se, Jane retirou seu avental e foi até a porta da frente da casa, para orientar-se sobre seu filho. Ele já estava próximo da esquina, junto de outras crianças. Antes de fechar a porta, Jane cumprimentou o senhor Adams ao passar de carro em frente a sua casa. Olhou para o relógio e notou que faltavam pouco mais de trinta minutos para as dezoito horas, o sol já estaria se pondo logo e Charlie não teria muito tempo para aproveitar. Mas Tyler havia prometido a ela que chegaria mais cedo do trabalho naquele dia para ir com o Charlie nas casas mais afastadas a noite.

Com cuidado, Jane subiu as escadas e foi até o banheiro para pentear seu cabelo antes de receber visitas a todo momento pedindo doces. Jane era uma mulher não muito alta, de cabelos ruivos longos e cacheados e tinha os olhos bem verdes, que cintilavam em seu rosto fino. De sua família de Nova Iorque, restara apenas a sua única irmã, dois anos mais velha que ela, mas não tinha notícias delas há pelo menos três meses, desde que brigaram por telefone.

Ao sair do banheiro, Jane olhou para o quarto de Charlie com a porta entreaberta e o adentrou. A cama não havia sido desorganizada desde arrumou naquela manhã, mas haviam folhas de papel desenhadas espalhadas por todo o quarto. Próximo da cama, sob a cômoda de roupas, estava a gaiola de Hamtaro, o hamster que Charlie ganhou em seu aniversário de quatro anos. Ao aproximar-se da gaiola, Jane reparou que o hamster estava deitado de lado, sem movimentar seu peito ao respirar. Ao tocar na gaiola, Jane a sacolejou esperando que o hamster acordasse e provocasse alguma reação. Mas o pequeno roedor continuou imóvel. Pobre Charlie, pensou Jane, foi o seu primeiro animal de estimação e não tivera tanta sorte. Jane pegou um lençol no armário e tampou a gaiola, iria pedir para que Tyler providenciasse algum fim para o corpo do roedor.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora