Capítulo 30 - Esperança

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Todo mundo é capaz de dominar um dor, exceto quem a sente.

- William Shakespeare

Mansão dos Bryce, dia 17

Encostada no cascudo tronco de um velho carvalho, Daisy observava minuciosamente a consterna imagem da despedida de um filho em luto. Lá estava ele, Charlie, abraçado por seu pai, chorando em silêncio em frente ao túmulo de Jane e Esperança. Esperança foi o nome escolhido por Tyler para a pequena criança que nunca conheceu aquele mundo. Jane sempre manteve o nome em segredo e, dado àquele momento, Tyler acho ideal dar a ela alguma esperança, de que encontrasse algum paraíso onde pudesse ser a criança que ali não pôde ser.

Ao percebe-la ali parada, Tyler sussurrou algo no ouvido de Charlie e se levantou, vindo para perto de Daisy. Charlie apenas olhou por cima dos ombros para sua tia, com um sorriso pesaroso, e continuou ali, velando sua amada mãe.

- Como ele está? – perguntou Daisy quando Tyler encostou ao seu lado no carvalho.

- Ele é um garoto muito forte – respondeu Tyler enquanto acendia um cigarro. – Diria mais forte que nós dois.

- Isso é bom – Daisy tomou o cigarro aceso das mãos de Tyler e começou a fuma-lo. – Ele será a sua força.

Um pouco introvertido, Tyler guardou seu maço de cigarros por dentro de seu casaco.

- Já se passaram quinze dias, Daisy – ele olhou desolado para ela. – A dor não passa.

- Ela nunca irá passar. A dor apenas se acomoda entre as lembranças.

- Temo que meus dias estejam fadados para este jardim - Tyler observou Charlie entristecido. - Não era o futuro que eu imaginei para ele.

- O único jeito de seguir em frente é encarar o futuro, Tyler. O passado morre aqui. Apenas as lembranças irão com você. Esteja pronto para partir em breve.

Ele a fitou bastante confuso.

- Consegui contatar Derek – disse Daisy. – E já enviei nossas coordenadas. Ele virá nos resgatar ainda hoje.

Pensativo, ele a respondeu sem olhar diretamente para ela.

- Eu não vou. Esta é a minha casa agora. Charlie e eu estaremos seguros aqui, distantes de qualquer centro urbano.

Daisy desencostou-se da árvore e agarrou enfurecidamente as golas do casaco de Tyler.

- Por quantos dias acha que aquele estoque de enlatados os manterá? E como irá se defender quando mais demônios como aqueles que tiraram a Jane de nós baterem na sua porta? Não sei se consegue se lembrar, mas estariam todos mortos se não fosse eu. Então deixa de ser babaca e compreenda a nossa realidade. Se quer esperar pela morte, espere sozinho, mas eu não vou deixar o Charlie aqui com você – sem perder seu tom de voz, Daisy se resguardou quando percebeu que Charlie olhava para eles. Então, soltou Tyler e deteve sua compostura. – Com você ou sem você, quando Derek pousar o helicóptero, Charlie entrará comigo e o levarei para o mais longe possível de todo esse caos. Ele já passou por merda demais aqui. A segurança dele é a minha prioridade.

- Segurança dele? – indagou Tyler com o tom de voz baixo, mas apontando o dedo para o rosto de Daisy. – Você sabe mais que todo mundo sobre o que está acontecendo. Quem garante que não esteja por trás disso tudo também. Se mentiu até agora, como pode me garantir a segurança dele?

- Quando foi que menti para você? Hein, me diz? Não é porque eu deixei de contar tudo para você que signifique que eu esteja mentindo. Já te disse, caralho. Quanto menos souber, mais seguros estarão. Precisa confiar em mim.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora