Capítulo 25 - Os estranhos

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Dia 01, fronteira dos EUA-Canadá


Atenção: Este capítulo não é recomendado para menores de 18 anos. Contém cenas de extrema violência.


Ainda que não fosse de seu hábito, sintonizar no rádio de seu carro era um pequeno motivo a comemorar naquele dia tão estranho e desesperador. Assim que deixou sua cidade no interior de Ohio, Jane - desorientada pelos inúmeros incidentes ocorridos - optou por se informar antes de tomar a rodovia rumo Detroit. Em um lampejo de esperança, Jane ouviu, em palavras pausadas de um jornalista assustado, que não havia nenhuma possibilidade de atravessar a fronteira por Detroit. O exército canadense havia recuado para a fronteira, intensificando sua patrulha e colocando em quarentena qualquer pessoa que insistisse em atravessar. Mesmo que a situação no país mais ao norte não fosse muito diferente da terra do tio Sam, pela lógica, o governo canadense priorizou apenas os problemas de sua população, que por sua vez era dez vezes menor que a dos Estados Unidos.

Com uma distância bem maior, Jane considerou retornar ao estado de Nova Iorque e se arriscar pelas perigosas águas das Cataratas de Niágara. Mais ao norte do condado, no discreto e calmo povoado de Youngstown, Jane se certificou de encontrar o caminho mais seguro para ela e o pequeno Charlie pisar no território canadense sem se afundarem nas perigosas correntezas ou serem aprisionados em quarentenas pela fronteira. Já deviam ser mais de três horas da manhã quando ela chegou na pequena vila, ainda mais tensa com todo o terror assistido a beira da estrada. Felizmente, sua grande barriga foi um fator decisivo para negociar a sua passagem e a de seu filho em um barco particular de uma família nova iorquina, afeiçoados com uma mãe desesperada tentando proteger seus filhos.

Na travessia, Jane sentiu tanto medo quanto Charlie com os estrondosos barulhos de explosões não muito longe dali. Ainda no barco, o senhor Barnett, quem tomava a frente de sua família, contou que há pouco mais de uma hora assistiu uma das cenas mais assustadoras e inimagináveis de sua vida, quando a ponte Lewiston-Queenston desmoronou após vários ataques, levando consigo dezenas de famílias angustiadas, dentre elas, alguns amigos de sua família. Senhor Barnett ainda enfatizou para Jane que o caos mataria muito mais gente do que aqueles humanoides que vagueavam pelas ruas. Jane tentou se opor a opinião dele, mas sabia que isso dizia mais da sua pesada consciência em ter abandonado seu marido e sua irmã em Woaster.

Em território canadense, Jane agradeceu a compaixão da família Barnett e seguiu em caminho oposto, para o único lugar em que poderia se sentir segura por oras. Ainda restavam algumas horas até os primeiros raios de sol penetrassem no escuro céu canadense quando Jane chegou ao seu objetivo, a antiga casa dos Bryce. Era uma grande casa de campo, herdado por Tyler de seus avós, ao sul de Toronto, cercado por uma baixa floresta, a beira do grande lago de Erie. A casa tinha dois andares e seus salões e quartos eram tão grandes quando a casa inteira que Jane morava em Woaster. Quando casaram, estava em seus planos deixarem Ohio e se mudarem para aquela casa, para cuidarem de seus filhos, mas a relação deles se conturbou, desde que Tyler aceitou um emprego na Universidade de Woaster. Estar ali com seus dois filhos, mesmo que em um cenário totalmente obscuro e sem Tyler, ainda era esperançoso. As grandes janelas da sala, as longas cortinas vermelhas e os belos campos floridos a beira do lago traziam Jane para longe de todo aquele mal que tomava o mundo. Os monstros estavam longe. Por um momento.

O tempo não havia causado nenhum mudança naquela casa. Sua esbelta estrutura se mantinha após mais de um século e em seu interior, a casa parecia nunca ter sido desabitada. Diferente de Woaster, ali ainda havia energia elétrica. Cansada e com fortes contrações, Jane colocou Charlie cuidadosamente em um dos grandes sofás da sala e repousou ao seu lado, com um longo suspiro de alívio. Faltavam algumas semanas ainda até que o bebê chegasse, mas naquelas últimas horas parecia estar em momento de parto a todo instante. Inclinou sua cabeça para trás e fitou os brilhosos lustres pêndulos no centro da sala. Lembrava-se de sua sogra, a adorável Erminye Bryce, contar sobre sua infância correndo pelo enormes corredores e cômodos da casa. Havia aconchego ali, em cada canto e em cada objeto que compunha todo aquele primoroso design arquitetônico do século passado.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora