Capítulo 36 - Entre nós

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Daly City


Aquela tarde havia sido um total tédio. Limitada a participar das atividades por instrução da doutora Evanna, Kitty passou aquelas últimas horas bisbilhotando a colônia. Tentou preocupar-se menos com Nick, sabia do que ele era capaz e que logo estaria de volta, trazendo todos os seus amigos de volta são e salvos. O que ainda aborrecia ela era de estar impossibilitada de ajudar e de estar presente onde a sua mente lhe obrigava a estar. Kitty era uma jovem de coração gigante e ávido, que a movia para diferentes direções que necessitavam dessa sua virtude.

Após horas de uma caminhada sem algum fim, Kitty decidiu retornar para o seu quarto e tomar um banho. Lavou seu cabelo, hidratou seu corpo, cantou no chuveiro, agiu como se fosse um dia normal em um mundo normal. E de certo modo, aquilo havia sido bom para ela. Seu amado companheiro do apocalipse ficou em segundo plano e ela conseguiu controlar sua ansiedade e ser mais ela, uma simples garota jovem e vaidosa.

De banho tomado, trajou algo mais confortável. Vestiu uma calça de moletom preta e um blusa cropped bege. Secou seus cabelos com um secador emprestado pela Naomi e um lenço azul para amarra-los. De frente ao espelho, contraiu a barriga e se admirou. Feridas eram suas marcas de sobrevivência, mas ainda era uma linda mulher. Uma força inabalável era percebível sobre isso, herança de sua mãe. Foi nesse instante que Kitty percebeu que não havia visto sua mãe em nenhum momento daquela tarde. Por onde anda a dona Zoe?

O lugar mais lógico para começar a procurar sua mãe era o quarto dela, que ficava bem ao lado do seu. Kitty bateu na porta e ninguém se manifestou. Ela, então, girou a maçaneta e abriu a porta. O quarto estava vazio e organizado do mesmo jeito de quando conversou com sua mãe naquela manhã. Poderia procurar por ela também na sala de controle ou de reuniões, mas sabia que ela não estaria ali quando nem mesmo participou da última reunião com Ador. O último lugar naquela colônia que Kitty poderia procurar era o escritório do Ador. Com o líder fora, Zoe poderia passar a tarde livre executando as tarefas que tivesse para fazer, longe de qualquer incômodo.

Toc toc. Kitty bateu na porta do escritório e nem esperou que alguém permitisse sua entrada. As luzes estavam acesas e se Ador não estava na colônia, apenas Zoe ou Lue poderiam entrar ali.

- Mãe? - chamou Kitty ao adentrar.

- Kitty, meu bem - respondeu Zoe, bastante concentrada no que fazia sentada à mesa do escritório. - Como está se sentindo?

- Eu estou bem - Kitty revirou os olhos. - Um pouco preocupada com o Nick e... também te estranhando. Não participou da reunião do conselho, não foi à sala de controle... o que tá acontecendo, mãe?

Kitty caminhou para perto da mesa e observou a extensa camada de papéis com que Zoe escrevia. Eram umas palavras desconexas do inglês e diferentes de qualquer idioma que Kitty conhecesse.

- Estive ocupada trabalhando... com algumas coisas - Zoe a respondeu, sem deixar de olhar para aqueles papéis.

- Ocupada criando um novo idioma? - ironizou Kitty, erguendo as sobrancelhas. - O que tanto escreve nesses papéis?

- É-é... - Zoe se agitou menos sobre a cadeira e olhou diretamente para a sua filha. - Não é nada demais, apenas me servindo pela segurança da nossa colônia.

- Mãe, olhe para a senhora. Está exausta, cheia de olheiras e descabelada. Precisa descansar ou vai acabar enlouquecendo. E temos outras coisas a se preocupar nesse momento, não acha?

- Certo - concordou Zoe finalmente, empurrando a pilha de papéis e se levantando da cadeira. - Você está certa, minha filha. Vamos falar de você então. - ela parou em frente a sua filha e segurou as mãos delas, a olhando nos olhos. - E eu te conheço muito bem, Kitty. Pode disfarçar por fora, mas está passando uma tempestade aí dentro. O que te aborrece?

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora