A caminhonete corria pela rua com cautela desviando dos veículos abandonados pela pista. Qualquer esbarrão ou barulho indesejado atraíriam os mortos-vivos para ataca-los. Nick não parecia mais teme-los. Se sentia confiante segurando ao volante e escutando The Beatles de forma imaginária. Não havia terror em suas memórias cantando Imagine. Era o que desejava manter em mente, boas lembranças.
Ao seu lado, Kitty estava deitada sobre seu braço direito esticado para fora do carro. Sentia-se relaxante com o silêncio e a brisa do vento passando pela sua mão. Coisas boas lhe viam também em sua cabeça. O aníversário de sete anos, quando seu pai ainda era vivo, o primeiro cachorro, o baile de verão, o primeiro beijo... Talvez esse lhe enojava, afinal tinha beijado o atleta Thobias Graydson, um babaca filho de papai e machista que adorava usar as meninas por fama. Não haviam dúvidas que Kitty desejaria encontra-lo ainda vivo e deixa-lo de comida para os vaguantes. Era um país sem lei, acabar com os babacas do passado eram suas prioridades.
O extrovertido e agora confuso Bobby estava assentado na desconfortável carroceria, mesmo que estar ali fosse o menor de seus problemas. Pela primeira vez em sua vida desde a sua primeira liderança em um trabalho em equipe no ensino fundamental, se sentia confuso com seus sentimentos. Sabia que poderia confiar em Nick, seu melhor amigo, ou em Kitty que se construiu em uma grande amizade de confiança, mas precisava ser sincero consigo mesmo antes. Quem era Bobby e qual era o seu propósito? A dúvida atormentava em sua cabeça todas as noites e dias na solidão, e ali também, sentado naquela caminhonete, em meio ao silêncio da abandonada cidade, enquanto segurava um broche que encontrou naquele dia, uma borboleta dourada. Se Bobby fosse um animal, naquele momento, certamente seria uma delas. Uma largata vaguando por um destino incerto que espera o devido momento para formar o casulo e revelar sua verdadeira forma. Bobby queria se descobrir analisando o pequeno broche.
Poeira levantou sobre o cascalho pisado pela caminhonete quando saiu da rua asfaltada. Um portão se abriu enquanto Nick dirigia o veículo para dentro da fortaleza. Os muros eram altos e protegidos por estacas de ferro, arames farpados enrolados e linhas de laser para detecção de movimentos. A base estava ocupada apenas pelos veículos e alguns homens que guardavam a entrada com a posse de armas ultrassônicas.
Os três jovens tiraram seus pertencentes e suprimentos resgatados de dentros da caminhonete e caminharam em direção ao prédio cercado pela pequena fortaleza. Um elevador improvisado criado por Lue os levou até a cobertura. Ali é onde crescia a força de uma colônia. Era com uma feira popular. Pessoas transitavam por entre as tendas de mantimentos. Havia um responsável para cada tenda, seja alimentos, água, medicamentos ou munições. Pontes de madeiras interligavam as coberturas dos prédios e baldes de mantimentos eram levados e trazidos por cordas de tirolesa. As hortas eram cultivadas em estufas, estas integradas a um sistema de condensação que aproveitava a água evaporada pelo calor das estufas e recolhidas em tubos com filtros, eram transportadas finalmente para pequenos tanques de água potável. Enquanto a morte se espermeva as sombras da cidade abandonada, a vida encontrava um meio no alto dos prédios.
Após atravessarem umas das pontes, deixaram seus mantimentos na tenda do Alan Caillat e seguiram para dentro do pequeno prédio, descendo uma escada interna. Podiam ouvir barulhos de aço e pedras sendo polidos e mais abaixo, um abafado som de tiros. Os três se entreolharam e correram para a única sala isolada no edifício. Quando abriram a porta, Ador logo correu ao encontro para trancar novamente a porta.
- Não podemos chamar atenção - ponderou Ador olhando sério para os garotos. - Lembrem-se disso.
Eles ignoraram o líder e foram de encontro a parede de vidro que isolava os motivos do barulho causado. Uma mulher alta e magra, pele caucasiana e cabelos pretos lisos amarrados, atirava com a nova arma criada por Lue. Diferente das ultrassônicas, essa fazia barulho, mas tinha um efeito de dano maior que as armas de fogo comuns.
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Zombie World - A Evolução (Livro 2)
HorrorImprováveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constrói uma rebelião em meio ao castelo de segredos da GNOS. O vírus chega ao nível 2. Não recomendado para menores de 16 anos. Contém violência...