Capítulo 16 - Hurt

368 44 2
                                    

Dia 1, Condado de San Francisco

Os ventos uivavam lá fora. Deveria estar um vendaval com a força dos granizos chocando contra o para-brisa. Despojada sobre o carpete do veículo, Ann balançava de um lado para o outro sem poder se segurar. Estava amordaçada e com as mãos presas para trás de suas costas. Sentia estonteada com os movimentos bruscos do veículo que derrapava constantemente sobre a pista molhada. 

Com muito esforço, Ann virou-se para o lado e empurrou-se com a perna para conseguir se sentar. Conseguiu a posição que parecia impossível, mas não pode evitar de chocar a sua cabeça contra uma das portas altas do fundo do veículo, quando o mesmo passou por um grande buraco. Ainda sentada, ela olhou para o outro canto do veículo e encontrou seu irmão desacordado e também amarrado.

Um filme passou por sua cabeça. A ponte de San Francisco desmoronando. O estádio At&T Park explodindo. O ataque ao shopping. Seu pai e o estrondoso tiro que assombrará o resto de sua vida. Ann queria se perdoar, reconhecer que não era uma escolha, mas aquilo lhe doía. A vida de seu pai foi tirada de suas próprias mãos na frente de seu pequeno e inocente irmão. Ela precisava ser forte por ele, era o último desejo de seu pai. Mas havia algo amargo que a consumia por dentro. Uma auto condenação por não ter sido forte o suficiente quando precisava, um medo crescente pelo mundo que enfrentaria e um ódio destilado sobre a crueldade humana. A jovem Ann havia quebrado um espelho interno e não podia mais enxergar a antiga e boa garota de Laurel Heights. Uma nova jornada se começava para ela, em um rumo que ela nunca poderia imaginar.

Ann tentou gritar seu irmão, mas com sua boca amordaçada, conseguiu apenas alguns grunhidos. Inclinou-se para frente e jogou-se para o lado, rolando seu corpo para perto de Alex. Sentia a respiração pesada dele afastar seus cabelos e um alívio correu por ela. Tentou outra vez gritar o nome de Alex e, por mais que desta vez conseguisse soltar algo compreensível, seu grito foi abafado pelo granizo da tempestade lá fora.

Ann não conseguia se lembrar do que aconteceu após os abomináveis fatos da última tarde no shopping, mas deveria ser algum grande problema para os soldados que os escoltavam naquele veículo, quando apenas ela usava uma mordaça. Alex estava com a boca livre, mas estava em um sono profundo.

O barulho da tempestade se intensificou lá fora e o veículo começou a balançar mais a cada instante. Ann não conseguiu se manter por perto de Alex e deslizou com seu corpo para perto cabine. Mesmo estando totalmente lacrada, ela ainda podia ouvir o que conversavam lá na frente. Deveriam haver três soldados e um deles parecia desafiar o barulho da tempestade numa afanosa chamada por satélite.

- Estamos a dezoito milhas de San Francisco - dizia um dos soldados aprimorando a frequência do rádio. - Estamos desorientados na tempestade, talvez devemos parar em algum lugar e espe... Merda!

Ann sentiu uma forte pressão após o veículo se chocar contra algo. Algo pesado desprendeu-se da lateral do furgão e acertar a sua testa. Cambaleante, Ann tombou para cima do corpo de Alex. Talvez ele tivesse acordado com tudo aquilo acontecendo, mais foi muito rápido. Em segundos, Ann viu tudo girar ao seu redor e seu corpo levitou no ar, barafustando de um lado para o outro. Cacos de vidros provindos de sabe lá onde daquela cabine cruzavam no ar, tudo muito rápido e descontrolado. Houve um barulho de explosão e Ann sentiu um calor se espalhar pelo interior amassado do furgão. Uma das portas se abriram e o mundo lá fora girava, em um show de faíscas e granizos. Um capote mais forte e Ann viu o corpo de seu irmão ser arremessado para fora como uma folha de papel. Quando o veículo parou, não haviam mais forças. Seu corpo todo doía e sangue emanava de sua cabeça cobrindo sua visão. O barulho dos granizos chocando-se contra a lataria do furgão cessou e não houve mais luz.

Quando Ann abriu os olhos outra vez, um raio partiu uma pequena árvore a frente do furgão capotado, em uma forte onda de luz seguida de um estrondoso estalo. Zeus estava furioso e Ann precisava se esforçar se não quisesse morrer afogada no crescente volume de lama que adentrava pelos fundos. Já era noite, estaria muito escuro se não fosse os constantes raios que serpenteavam pelos céus escuros da tempestade. Seu ombro parecia deslocado, mas nada parecia quebrado. Por todos os seus pecados, Ann estava surpresa do milagre de ainda estar viva. Tentou movimentar suas pernas, mas estavam presas em ferragens. A lama afundara metade de seu corpo, Ann precisava ser mais rápida se quisesse viver. As ferragens estavam soltas, podia senti-las se movimentarem quando se esforçava em balançar suas pernas, mas precisava de ajuda para sair dali. Suas mãos ainda estavam amarradas atrás de suas costas e dormentes pelo tempo em que ficou desmaiada sobre elas. A lama continuava subindo e quando tudo parecia perdido, seu pequeno anjo da guarda apareceu e a puxou para fora do furgão com dificuldades para andar sobre a lama. As pequenas mãos a puxando pelos ombros e a respiração pesada pelo esforço lhe entregava a identidade de seu herói. Alex! Ele estava vivo e tão bem quanto ela pudesse esperar dele.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora