Capítulo 12 - Filme de terror

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Passando por uma centenária sequoia, Martin avistou a entrada de um lugar bastante conhecido para ele, o retiro em Monte Toyon. Apesar de estar a noite, ainda era possível enxergar bem dentro de um limitado raio. Ao entrar na estrada que cruzava o lugar, sentiu-se nostálgico com as boas lembranças dali e não se absteve de apresentar aquele lugar tão especial para ele.

- Nunca pousei em uma dessas belas cabanas, mas me sinto parte deste lugar - disse Martin emocionado.

- Tenho certeza que há grandes memórias guardadas aqui - comentou Zoe tocando sua mão no ombro dele.

Martin tremeu os lábios e conteve as lágrimas forçadas pelas suas lembranças de seus filhos. Apoiou sua mão sobre a de Zoe em seu ombro e sorriu para ela, como forma de agradecimento.

- Se há alguma coisa que me recordo daqui é que pousei naquela cabana - Niels apontou para um cabana alta e grande, construída sobre um desfiladeiro à beira da estrada, escondida por alguns pinheiros.

- Bem... qualquer uma destas cabanas seriam bem-vindas, mas aquela é mais próxima do quanto minhas pernas aguentam caminhar - respondeu Martin tomando a frente novamente e dirigindo-se para a casa que Niels apontou.

No caminho havia uma íngreme escada de madeira em níveis até alcançar a cabana. Quanto mais alto subiam, maior era o campo de visão. Por alguns instantes, Martin parou sobre um degrau e repousou-se sobre o corrimão, contemplando a deslumbrante paisagem no vale abaixo iluminado pela lua. Uma revigorante brisa cortava por ali, balançando os cabelos de Zoe que se colocou ao lado de Martin. Zoe estaria preocupada que ele estivesse passando mal ou com dores em sua perna, mas muito pelo contrário, ela encontrou um brilho em seus olhos diferente do que já havia visto em qualquer momento desde que conheceram.

- Ainda não tive o tempo de lhe conhecer bem, Martin. Mas imagino que tenha tido uma grande vida para se emocionar e se fortalecer a continuar lutando.

- Eu não chamaria de grande vida, Zoe. Queria ter sido um grande pai, um grande marido, mas...

- Tentou ser - completou Zoe o consolando. - Não deixe seu passado em ferida. Há boas lembranças para isso.

- Só queria ter tido uma última chance de vê-los, de poder abraça-los e dizer o quanto os amava. Tudo foi tão rápido. É a consequência de deixar para amanhã o que eu poderia ter feito hoje.

- Ninguém pode se culpar pelo o que não fez antes do apocalipse. Eu também tive minhas consequências, ele também teve - Zoe apontou para Niels parado no topo da escadaria. - Sabe, e se nós sobreviventes formos os escolhidos para corrigir os erros do passado e recomeçar outra vez?

- Queria eu ter a nobreza de encontrar um sentido no apocalipse. Para mim, tudo se resume a lutar, sobreviver e morrer.

- Nada deve ser tão simples. Se refletir, verá que há complexidade nos detalhes. Olhe para essa paisagem maravilhosa. As pessoas esperaram o nascer do sol para contemplar a sua beleza, mas quando ele vai embora, cabe a lua continuar o seu trabalho e veja o resultado, é tudo tão belo. E não se resume apenas em um vale sob um luar. Os animais, a brisa, o balançar da copa das árvores... é como uma engrenagem que nunca para. Ficaria aqui horas contemplando tudo isso se não estivesse tão frio e com algumas criaturas nos caçando.

- E eu adoraria lhe fazer companhia, mas preciso concordar. Estou congelando.

- Me acompanhe subindo as escadas então - disse Zoe com um sorriso sincero e apoiando-se no braço de Martin, enquanto subiam as escadas.

- Eu não vejo a hora de repousar as minhas pernas em uma cama quente e confortável.

***

Quando o motor do carro roncou, ouviram-se tiros. Kitty e Maggie entreolharam-se e perceberam que vinha da casa azul em frente. Kitty abriu a porta, exasperada para reencontrar Nick, mesmo que ela não estivesse em condições de ajudar, mas Maggie a puxou pelo braço.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora