Detroit, Dia 1
Desde que deixaram Wooster, Daisy e Tyler evitaram conversar sobre quaisquer assuntos pendentes que envolviam a Jane. Ambos carregavam a culpa e ambos se sentiam na necessidade de questionar os erros um do outro. Ainda que quatro horas fosse muito tempo em uma viagem sem conversas, o show de horrores que presenciaram até Detroit pulsavam uma energia ruim sobre eles.
Ataques de saqueadores, famílias pedindo ajuda a beira da estrada, pontes derrubadas, a queda de Toledo... Os Estados Unidos da América estava em um declive para as ruínas. Ao chegar em Detroit, precisaram desviar da grande avenida. Imensas horas engoliam um longo tráfego por quilômetros. Por vários momentos, Daisy imaginava possibilidades de que Jane estivesse presa naquele caos e condenava a frieza de Tyler com a forma em que lidava com isso, mas talvez ela estivesse errada e Tyler apenas estivesse se esforçando para não enlouquecer com as mesmas teorias que ela. Era momentos tensos e precisavam ser fortes para encarar tudo aquilo.
Viajando pelo centro, a antiga Cidade do Motor já não parecia mais ter engrenagens. Tudo estava vazio, as lojas foram saqueadas, pequenos incêndios flamejavam pelas esquinas e uma cortina de fumaça cobria o céu que deveria estar estrelado. Era estranho passar por aquele vácuo no grande centro da cidade e ouvir apenas helicópteros sobrevoando e sirenes bem longe dali. Atravessar Detroit era como se estivesse entrando em uma tempestade e naquele momento se encontrassem no olho do furacão. E como em um furacão, outra tempestade deveria se encarada para sair.
Pelas largas avenidas que se contornavam como um caracol havia um gigante congestionamento de veículos que buscavam conseguir a chance de atravessar a fronteira pela ponte Ambassador. Levariam dezenas de horas para que conseguissem atravessar, isso se conseguissem é claro. Para não ficar preso, Tyler atravessou para o lado oposto da pista e dirigiu na contramão por alguns quilômetros, ganhando o tempo que havia perdido. Entretanto, seu atalho foi por água abaixo quando encontrou um bloqueio por aquele lado da via por três tanque de guerra do exército canadense na passagem da Alfândega. Sem se aproximar muito, Tyler freou o carro em uma distância suficiente para observar a estranha circulação da área.
- Tem algo errado - comentou Daisy pela primeira vez depois de bastante tempo calada.
- É claro que tem - retrucou Tyler impaciente. - Por que diabos o exército canadense estaria deste lado da fronteira?
Um som alto e abafado ecoou sobre eles quando um jato do exército canadense sobrevoou por baixo da ponte e atirou dois mísseis contra o parque Belle Isle. Um clarão se formou quando os mísseis atingiram o solo e destruiu a fonte do memorial de James Scott.
- Que merda tá acontecendo? - indagou Tyler limpando com a mão o vidro embaçado do seu carro.
- É um aviso - concluiu Daisy assustada. - É um aviso.
- Do que tá falando?
- Temos que dar o fora daqui agora, Tyler - pediu Daisy batendo no ombro de Tyler. - Rápido, vamos!
- Precisamos atravessar a fronteira. Não vou abandona-los como você a abandonou.
- Deixa de ser idiota e me escuta - berrou Daisy irritada. - Jane está assustada e grávida, com o Charlie ainda mais assustado dentro do carro. Ela não iria perder tempo ficando presa nesse congestionamento sabendo o que está por vir depois que tudo o que viu e passou. Nesse momento, ela já deve ter encontrado outro jeito de atravessar e está longe em território canadense.
Tyler encostou a cabeça no volante e começou a respirar mais alto e forte. Deu alguns socos no painel e remexeu seus cabelos em seguida. Não se sentia bem, nem mesmo confortável com a situação. Talvez Daisy tivesse com a razão e Jane já teria atravessado a fronteira, isso se ela tivesse mesmo tido esse plano.
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Zombie World - A Evolução (Livro 2)
HorrorImprováveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constrói uma rebelião em meio ao castelo de segredos da GNOS. O vírus chega ao nível 2. Não recomendado para menores de 16 anos. Contém violência...