Capítulo 9 - Inimigo?

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Sentado, ali sozinho na cozinha, Nick lia o jornal da manhã. A segunda folha estava manchada de café, já conseguia imaginar quem teria feito. Sob a mancha escura, uma redatora pautava sobre uma conspiração que circulava pelas redes sociais e fóruns de discussões acerca das eleições norte-americanas em 2016. Não era um tipo de notícia que Nick gostava de ler, nem mesmo gostava de jornais, mas era o único hobby possível para aquela estranha manhã sem internet.

Ding dong! Ding!

Eram os pêndulos do relógio que badalavam as dezessete horas. O alto e arcaico relógio de madeira não era algo que combinasse com a mobília moderna da sala de estar dos Summers. Mas esta não era a sua sala. Confuso, Nick jogou o jornal sobre o balcão e saiu da cozinha, caminhando lentamente até a sala que não pertencia a sua casa. Tudo ali era antigo, desde a lareira de pedra até os pisos de madeira envernizado. Era um cômodo alto, com um belo lustre iluminando todo o espaço. Sobre a lareira, havia a cabeça de um cervo postada na parede como um troféu. Ainda ao lado, ostentava-se em um suporte, um rifle de ferrolho. 

Perdido sobre o que vivenciava, Nick voltou correndo para a cozinha, mas seu rosto encontrou-se com uma parede branca. A cozinha não estava mais ali. Sua cabeça doía, não pela trombada, mas como se estivesse passando por uma ressaca. Estonteado, sentou-se em uma poltrona acolchoada marrom no canto da estranha e antiga sala de estar. Se sentia em um djavu, mas acreditava estar ficando paranóico. Esfregou seus olhos, queria acordar daquilo, mas tudo parecia mais real a cada instante. Foi quando a porta bateu para seu espanto e viu um garotinho entrar correndo, seguido de um homem mais velho. O garoto devia ter uns oito anos, usava um macacão jeans com as barras enlameadas, tinha cabelos castanhos lisos caídos sobre seu rosto e tinham olhos familiares, como Nick quando tinha naquela idade.

- Chris! - chamou o homem que deveria ser o pai. - Tire os sapatos antes de subir. Não quer sua mãe brigando com você quando chegar.

- Chris?! - repetiu Nick incrédulo em um tom tão baixo que só ele podia escutar.

Nick manteve-se imóvel, não queria que o percebessem ali. Precisava se orientar, descobrir onde estava.

O homem mais velho passou pela porta; tinha o rosto familiar a seu pai, mas tinha o nariz mais comprido e torto, além de ser mais corpulento e alto. Percebeu que seu cabelo era grisalho quando retirou o chapéu e o pendurou no mancebo próximo da porta. Despiu-se também de seu longo casaco preto e o deixou lá. Descalço, caminhou até as escadas e parou antes de subir, olhando fixamente para o chão. Pegadas de lama espalhavam-se pelos degraus acima.

- Ah merda, Chris. Te disse para tirar os sapatos. Vai limpar isso, tá me ouvindo? - gritou esperando que ele respondesse.

O homem ainda sem nome andou até um outro cômodo separado da sala e parou diante uma porta. Poderia ser um porão, mas deveria ser secreto. Antes de abrir a porta, o homem deslizou uma pequena portinha na parede que abriu uma painel com todos os números. O homem digitou alguma coisa, quatro dígitos, mas Nick não conseguia ver. Quando a porta se destrancou, viu-se uma escada que perdia-se na escuridão abaixo. 

Curioso, Nick pensou em acompanhá-lo, entender o que acontecia ali, mas atraiu a atenção do homem quando pisou um assoalho solto. Ao vê-lo, o homem cerrou os olhos para ele, fitou-o dos pés a cabeça até dizer alguma coisa:

- Não deveria estar aqui.

Antes que pudesse responder, Nick ouviu uma arma sendo engatilhada. Do alto das escadas, o pequeno Chris apontava o mesmo rifle que Nick viu instantes atrás na parede. Intrêmulo, o garoto atirou, sem receios.

Em desespero, Nick ergueu-se da cama, apertando seu peito, como se deveria haver um buraco naquele lugar. Respirava ofegante e suava muito. De todos os pesadelos que já tivera, este era o mais instigante. Engoliu em seco algumas vezes e sentou-se a beira da cama que rangia conforme se movimentava.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora