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As mãos de Raphaelle pareciam tremer e eu encarava as mesmas, sem coragem alguma de levantar o olhar até os seus olhos e acabar mostrando o quão perdido e abalado eu estava com a afirmação dela de poucos minutos atrás

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As mãos de Raphaelle pareciam tremer e eu encarava as mesmas, sem coragem alguma de levantar o olhar até os seus olhos e acabar mostrando o quão perdido e abalado eu estava com a afirmação dela de poucos minutos atrás.

Eu queria aquilo. Queria ser pai, segurar o meu filho em meus braços e me sentir o homem mais realizado do mundo ao olhar o seu rostinho.

Mas queria viver tudo aquilo com ela.

Nós dois queríamos. Nós dois decidimos tentar por uma barriga de aluguel e agora, sem Ainê do meu lado, eu não tinha mais certeza se eu realmente queria um bebê.

Me repreendo rapidamente por tal pensamento e começo a repetir, ainda mentalmente, que eu queria sim!

Era o nosso filho. Eu nunca rejeitaria o fruto do amor de nós dois.

— Philippe, eu sei que é algo difícil... — Raphaelle começou com a voz embargada e eu mordi o lábio, ainda sem a olhar.

Esperei por uma continuação, mas tudo o que ouvi foi um soluço.

Suas mãos saíram de seu colo e ela as levou até o seu rosto, chamando a minha atenção para aquela parte de seu corpo. Vejo ela chorar e abaixo os meus ombros.

— Desculpa. — Pediu. — É que é estranho não a ter aqui. Seria tão bom dar essa notícia em uma situação completamente diferente dessa... mas, infelizmente, a Ainê não está mais entre nós e ela ao menos vai conhecer o bebê dela.

— Por minha culpa. — Murmuro.

— O que? Não! — Disse rápido e fungou, passando as mãos no rosto e secando as lágrimas que o molhava. — Coutinho, não foi sua culpa. Você não sabia que aquilo iria acontecer e não tinha o que fazer para evitar.

— Eu poderia ter evitado, se não estivesse tão preocupado em arrumar o volume do som da merda daquele carro e tirado a atenção da estrada. — Falo o que eu não parava de pensar desde que tudo aconteceu. — Por minha culpa, a mulher da minha vida está morta e eu acabei com todos os planos dela para o futuro.

— Não, claro que não. — Raphaelle negou rapidamente, se aproximando e segurando forte em minhas mãos. Só assim as dela pararam de tremer. — Philippe, eu tenho certeza que se você pudesse fazer algo para aquilo tudo não acontecer, você faria. Não foi sua culpa, mesmo que sua mente tente te convencer de que foi, não acredite nela.

Desvio o meu olhar do dela, olhando para qualquer outro canto daquela sala e respirando fundo para não começar a chorar ali mesmo.

Todas as pessoas do mundo poderiam me dizer que não havia sido a minha culpa e que eu não deveria ouvir a voz presente em minha cabeça, mas era impossível não a escutar, sendo que o dia inteiro aquilo soava em minha mente.

Não para de pensar nos "e se..." e em situações diferentes, que poderiam não ter dado no acidente e Ainê ainda estaria ali.

— E agora? — Raphaelle sussurrou e eu pisquei, a olhando novamente. Ela me encarava um pouco perdida.

Aquela era uma pergunta que eu também me fazia todos os dias, e ainda não havia achado uma resposta para ela. Mas, para aquele momento, eu sabia muito bem o que responder, então o fiz:

— Agora... — Murmuro, apertando suas mãos, que ainda estavam nas minhas. — Você vai gerar esse bebêzinho, vai ficar toda redonda e depois de nove meses veremos o rostinho dele.

— E então você vai ser um papai maravilhoso e eu serei uma dinda espetacular. — Completou com um mini sorriso no rosto e eu retribui, confirmando com a cabeça.

— Vai ficar tudo bem. — Digo com a voz um pouco falha.

Não tinha certeza daquela afirmação. Não fazia ideia se tudo realmente ficaria bem, mas eu teria que tentar, até porque agora eu era papai. E logo, logo um bebê iria chegar ali e eu seria o responsável por ele, para o criar com todo o amor e carinho do mundo, do jeitinho que Ainê faria.

— Vai ficar tudo bem. — Raphaelle repetiu e eu também não senti firmeza na fala dela, ainda assim, dei um meio sorriso, a abraçando apertado em seguida.

*

Olho para o carro, sentindo minhas mãos suarem e o meu coração acelerar dentro do meu peito, enquanto a minha mente trazia de volta todos os acontecimentos do dia do acidente.

Não era o meu carro, até porque ele havia ficado completamente destruído e eu ainda não tinha me preocupado em comprar outro. E continuaria daquele jeito. Atualmente eu preferia mil vezes andar a pé do que dirigir algum carro outra vez.

O veículo era de Raphaelle, que tinha passado na minha casa para irmos ao médico.

Uns dias após ela me contar que estava grávida, marcamos o pré-natal. Agradeci por ela ter agido tão rápido, até porque eu ainda estava travado no acidente e na notícia da gravidez e não conseguia pensar direito sobre mais nada, mesmo que fosse a respeito do meu bebê.

— Coutinho? — Ouvi sua voz me chamar e desviei o olhar do carro, a vendo ao lado do mesmo.

— Eu não quero. — Digo e dou um passo para trás, me afastando mais do veículo. Raphaelle me olhou confusa, mas logo pareceu entender e passou a olhar o carro.

— O hospital é um pouco longe, mas se você quiser... — começou e me encarou novamente. — Podemos ir andando.

Suspiro fundo, pensando sobre a proposta.

Mesmo eu preferindo aquilo, não queria que Raphaelle se esforçasse tanto, ainda mais que não sabíamos qual era a situação da gravidez dela. Não queria ser o responsável se algo acontecesse.

— Tudo bem se pedirmos um táxi? — Pergunto baixo. — Não acho uma boa ideia um de nós dois dirigirmos.

— Claro, sim, por mim tudo bem. — Disse apressada e acionou o alarme do carro dela. — Vou pedir um táxi pra gente e exigirei o mais cuidadoso motorista. — Completou, se afastando e começando a mexer no celular.

Eu voltei o olhar para o carro, abaixando os ombros.

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Recomeço ━━ Philippe CoutinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora