Capítulo 8 - Mais sacrifícios

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Capítulo 8

Mais sacrifícios

O sucesso das contas de lótus deu ânimo redobrado ao patriarca. Esqueceu de si e mergulhou no mar de possibilidades que sua descoberta continha. Quando a falta de alimentação enfraquecida demasiadamente seu corpo cada dia mais magro, furtivamente, saía da colina e buscava alimentos em matas próximas. O pouco que dormia o fazia debruçado sobre a mesa de experimentos ou na cama repleta de livros.

Testou todos os materiais que encontrava na colina, alguns tinham mais poder de concentração que outros e havia também uma certa seletividade, em relação ao tipo de energia, nessa absorção. Essas descobertas eram preciosas, elas permitiriam construir artefatos poderosos e diferenciados, conforme o material e a absorção.

Essas peças em seu estado bruto, contudo, não ofereciam muitas possibilidades, era preciso refiná-las. A confecção de artefatos sofisticados exigia desenhos e entalhes em superfície polida.

Olhando uma lasca de madeira que tinha em mãos, ele lamentou:

— An, onde está você para transformar esse pedaço de pau em uma tábua perfeita e lisa como a pele de um bebê? — Somente alguns espectros que vagavam por ali, resmungaram contra sua fala alta. — Saiam daqui, saiam daqui seus inúteis - esbravejou. Depois, sentou-se no chão braços e pernas abertas, em total estado de desanimo.

— Vou ter que aprender a fazer papel, tratar a madeira e produzir tinta. Isso vai levar uma eternidade. Até lá eu já terei enlouquecido de vez — gritou essa última frase para o vazio que não o respondeu.

A solidão, as privações e a energia negativa da colina o estavam sobrecarregando. Ele tinha sono ruim, sonhos ruins e divagações pouco lógicas. O que lhe salvava eram as horas de estudo e trabalho, que usava cada vez mais para combater a loucura.

De volta aos livros, ele aprendeu, na teoria, a fazer papel. Esse era um tipo de trabalho que ele não gostava de fazer e a prática foi penosa e o resultado de baixa qualidade. Nas folhas irregulares ele aplicou a tintura de uma fruta, sem nenhum beneficiamento. As linhas do talismã, em superfície tão ordinária, ficaram mal traçados e causaram acidentes. Na primeira experiência, um simples talismã de fogo criou uma chama reversa que atacou o patriarca, queimando um pouco a roupa e mexas de cabelo.

— Ai! Ai! — gritava Wei, enquanto tentava apagar o fogo. — Wei, Wei, você sabia que isso ia dar errado, os traçados ficaram tortos e a tinta se espalhou no papel, por que você insistiu? — Não obstante essa constatação ele fez outros testes antes de se convencer que precisava se tornar um artesão de excelência, se quisesse obter sucesso.

Naqueles dias, que ele considerou os mais fadigados de sua vida, ele recolheu ferramentas que estavam espalhadas na colina, criou instrumentos conforme demonstrados nos livros, selecionou vegetação própria para produção de papel, refinou a matéria prima e produziu as primeiras folhas de talismã, dignas desse nome.

Preparar a tinta lhe pareceu mais fácil, mas ainda assim ele se cansava cada vez mais com esses esforços. Olhou para si mesmo e a roupa, já rota, dançava em seu corpo; estava cada dia mais magro.

— Wei, você precisa resolver logo o seu problema, se não vai morrer de inanição. Ontem você só comeu um peixe e hoje três goiabas. Isso não é alimento para um homem adulto.

As sementes de lótus era o seu grande carro chefe, tinham naturalmente a função de proteção e se energizavam facilmente, mas era preciso disfarçar sua aparência para poder comercializar. Na busca de solução ele se lembrou da Vila dos Ceramistas.

Em determinada ocasião, quando morava na Vila dos Madeireiros, ele foi vender talismãs na tal vila, observou que os moradores usaram uma técnica interessante: para poder mergulhar e pegar barro no fundo do rio, em segurança, eles dobravam bem pequenos, os talismãs, e depois envolviam com barro e assavam no forno. A energia ficava encapsulada e ativa, assim, usando colar de contas eles podiam mergulhar em segurança. Wei usou o mesmo processo com as sementes de lótus, criando contas coloridas que podiam ser usadas em vários arranjos.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora