Parte II -Capítulo 1 - Uma tempestade

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Parte II

Capítulo 1

Uma tempestade

A chuva fina gelava a encosta da cordilheira onde ficava a casa de Wei Ying e de Lan Zhan. Naqueles dias frios que anunciavam o inverno, a majestade havia se dado folga e os dois estavam juntos, em deliciosa rotina familiar. Para enriquecer o amor eles haviam criado muitas delicadezas um com o outro, entre essas, a do cuidado pessoal.

A majestade arrumava o cabelo de Wei Ying. Os dedos, finos e macios, se afundavam nos cabelos negros separando mexas e dando-lhes formas. O patriarca, de olhos fechados, estava amando aquele toque delicado em sua cabeça, assim como tantas outras felicidades suaves que a vida a dois proporciona.

Como sempre, Lan Zhan ficava longo tempo em silêncio e Wei Ying havia aprendido a respeitar isso. O espírito do amado precisava de calma, coisa que ele não encontrava muito na função de majestade. Quando juntos em casa, Lan Zhan alternava as conversas com a contemplação silenciosa da natureza ou a leitura de um livro.

Naquele momento idílico, Wei não queria mesmo falar, só queria apreciar aquele momento de intimidade, sentir o toque amado e a presença de Lan Zhan, que enchia a casa de alegria suave.

O Lan parou e observou a obra, Wei abriu os olhos e esperou o veredicto, sem dizer nada Sua Majestade pegou um espelho e o colocou à frente de Wei. No cabelo, primorosamente arrumado, estava o adereço de majestade.

— Por que Lan Zhan? — perguntou, sabendo que aquela ação tinha um significado especial.

— Sempre achei que você merecia esse título.

A injustiça cometida contra Wei, no passado, havia marcado profundamente o Lan. Mesmo que o tempo tivesse passado, apesar de não ter nenhuma acusação formal contra ele, seus muitos inimigos cuidavam para que a reputação do patriarca continuasse ruim.

— Eu nunca fui diplomático, não sei negociar e nem nunca quis ocupar esse cargo. Você, ao contrário, sempre foi a figura mais confiável e justa e suas ações como majestade mostram que você é a melhor escolha para a Terra da Luz — dito isso Wei Wuxian retirou a presilha do cabelo e o soltou. O perfume, desprendido das mechas negras, se movimentaram com ar e os olhos de Lan Zhan brilharam.

Wei aprisionou rapidamente os cabelos como se vestisse uma roupa para ocultar a nudez. Desviando o olhar do Lan, caminhou decidido para o deque que ficava em frente à casa. Parou sob a chuva fina e respirou pausadamente, coração acelerado, tentando se acalmar. Já havia aprendido que a aparente calma de Lan Zhan escondia um vulcão controlado. O problema é que quando ele dava sinais de estar ativo o seu controle também se alterava.

"Meu corpo obedece aos desejos de Lan Zhan."— pensou, constatando isso pela centésima vez.

Depois de algum tempo o Lan foi para perto de seu amor. Wei virou levemente a cabeça na direção a ele e pediu:

— Lan Zhan, me conte uma coisa bem maçante. Estou precisando me entediar um pouco — riu, evitando os olhos amados.

— Estou organizando a documentação do reino em ordem alfabética e...

— Há! Isso é realmente chato. Obrigado.

Os dois riram.

Wei pensou intrigado em como Lan Zhan, tão impetuoso no amor, conseguia se controlar nos largos espaços de tempo em que precisavam exercer o celibato à espera de um dia auspicioso. Fora alguns raros momentos, como aquele, em que ele deixava entrever um leve brilho de desejo no olhar, que era controlado quase que automaticamente, nada no Lan indicava a paixão. Ele, ao contrário, vivia esquecido das peripécias amorosas até que o Lan desse alguma sinalização nesse sentido, depois disso, descontrolava-se completamente, levando algum tempo para organizar as ideias.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora