Capítulo 10 - O anjo

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Capítulo 10

O anjo

Assch era culta, educada e discreta. Filha de nobres, conhecia todas as regras de etiqueta e as usava sem pedantismo. Tinha um quê de sofisticação e ousadia que, sem excesso, a abrilhantava ainda mais. Sabia discutir política, religião, música e todos os tópicos que Lan Zhan trazia à tona nas suas muitas conversas. Era boa ouvinte, boa falante e excelente aluna.

Para satisfação do mestre, de hábitos tão reservados, ela nunca era invasiva e não o sobrecarregava com sua presença, quando essa não era necessária. Em suas temporadas na Terra do Extremo Leste, quando realizava as aulas práticas, esperava em hospedarias quando o mestre saía para resolver assuntos particulares. Ele não se sentia responsável por ciceronear a moça durante todo o tempo, essa tinha total autonomia, mesmo estando em terra estranha.

Ela era realmente leiga em se tratando de lidar com seres malignos, mas aprendia rapidamente e era muito empenhada. Lia todo material que Lan Zhan lhe oferecia e buscava novas informações que dividia com o mestre.

Não era possível que os dois passassem despercebidos. Eliminando seres inoportunos que complicavam a vida dos menos cultivados eles logo ganharam fama. A beleza atenciosa e meiga da moça, somada à figura educada, mas um pouco distante do mestre, formava uma composição que encantava a toda a gente. Logo se tornaram personagens de várias histórias com o epíteto de Duas Rosas Brancas.

As primeiras crises de ciúmes dadas por Wei Wuxian significaram uma deliciosa experiência para Lan Zhan. O amado era uma pessoa distraída das coisas do amor e os dois só evoluíram para a condição de comprometidos e vivenciado a intimidade de um casal graças ao seu desejo. Wei era muito empenhado em promover os meios para que o amor acontecesse, mas só conhecia a paixão se provocado.

A reação enciumada do amado, quanto à sua discípula, ressaltava a importância que o mesmo dava ao compromisso e que seus sentimentos não eram tão frios, nem tão distantes como, às vezes, pareciam. Desfrutou com prazer as reações de Wuxian.

A persistência das brigas, contudo, fizeram com que a situação deixasse de ser prazerosa para serem incômodas. Ele tinha tarefas a cumprir, não só com a discípula, mas com seu clã e não podia estar constantemente se preocupando com as crises do patriarca.

Outro fator, que levava ao Segundo Mestre Lan a se aborrecer, era o fato de que a sua relação com Assch era absolutamente isenta de qualquer sentimento que não fosse o da amizade. Não entendia por que Wei se ocupava tanto com isso, logo ele que tinha tantas pessoas com as quais se relacionava em um nível de intimidade que sempre lhe causou espanto.

Quando percebeu que os encontros com o amado já não eram tão satisfatórios quanto antes, temeu por seu relacionamento. Mas decidir-se a abandonar a única amiga que tinha não era fácil, ainda mais quando a motivação era infundada, as desconfianças de Wei. Dispensou provisoriamente a aluna, mas não revelou isso a Yin, estava muito magoado por ter que abrir mão de uma coisa que lhe era cara, não quis dar satisfação.

Em uma carta muito educada, desmarcou a próxima caçada noturna que tinha com a aluna, dizendo ter compromissos no Recanto das Nuvens que exigiam sua presença, o que não deixava de ser verdade. Usou o mesmo argumento para Wei, despediu-se e voltou para o Gusu.

Em carta resposta, a moça mostrou-se muito ansiosa em poder voltar a estudar. Havia uma urgência na escrita dela que fez Lan Zhan estranhar. Desligou-se, contudo, desse assunto e de Wei Ying, não queria se aborrecer mais.

Lan Zhan estava em seu pavilhão e trabalhava na administração do clã, quando recebeu a informação de que a Mestra Assch desejava vê-lo. Estranhou atitude tão invasiva, já que ele havia dito que estaria ocupado por longo tempo. Aceitou recebê-la e mandou que a conduzissem para a biblioteca.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora