Capítulo 3 - O jovem da cordilheira

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Capítulo 3

O jovem da cordilheira

Liang se sentia como um tipo de habitante nativo da Cordilheira Escarpada. Era onde ele se afastava do mundo e pensava sobre muitas coisas, ou simplesmente se integrava a natureza e absorvia a energia pura e vigoroso daquele território selvagem. Não era o único cultivador a ter essa ideia, muitos faziam o mesmo. A maioria flertava com as bordas dela, mas somente os mais cultivados se aventuravam ao seu interior, dessa forma, ao se aproximar de sua localidade mais interiorana, a probabilidade de encontrar um ser humano era quase nula, mas ele encontrou.

Havia seguido um caminho não muito exótico, partiu de sua terra e, quase em linha reta, a cada dia vencia um trecho árido e traiçoeiro de elevações e desfiladeiros que pareciam não terminar nunca. Já tendo vagado por muito tempo, certo de estar sozinho, ele encontrou uma pessoa.

A sua primeira reação foi de insatisfação, o ponto com formato humano no meio do seu universo particular foi sentido por ele como uma afronta. Desviou a rota. Naquela noite dormiu mal humorado, preferiu o frio da montanha do que o consolo de uma fogueira que poderia atrair o estranho. Não desejava interagir com ninguém.

Na manhã seguinte, o sentimento de repulsa deu lugar a curiosidade. Quem teria como rota as escarpas inóspitas? Seria possível que outro ser vivente desejasse tão ardentemente a solidão que se propunha a dispender dezenas de dias só para ficar sozinho? Ou ainda: que tipo de marginal precisaria se impor vida tão rude para se manter longe de seus inimigos?

Nesse novo estado de espírito ele retornou ao ponto onde havia observado, de longe, uma pessoa. A criatura ainda estava nas imediações do local que o havia visto anteriormente. Aproximou-se com cautela, não desejava ser visto.

A figura vestida de preto e marrom escuro, com fita vermelha nos cabelos longos e pretos, não parecia nem um eremita e nem caçador. Era bonito e triste.

A tristeza do jovem o incomodou. A figura do jovem o incomodou. Não quis ser visto e reorganizou a sua rota fugindo daquela presença incomoda.

Já em segurança, em um local distante, ele se permitiu pensar. Quem poderia ser aquele cultivador? Bem vestido, limpo e descansado que mais parecia ter acabado de sair de uma pousada ou de sua morada elegante para dar um passeio do que ter vagado pelas pedras para chegar até ali.

Depois de muito questionar-se sobre o outro, questionou a si mesmo. Porque se sentia tão perturbado por ter visto uma pessoa. Por que fugira dela? Por que retornara para ela, somente para fugir de novo? Pensou em desfazer esse mal entendido, abordando e conversando com o ser, mas não teve coragem. O homem da fita vermelha o havia confundido de tal forma que queria fugir daquela sensação. Evadiu-se.

Atormentou-se pelos seus pensamentos insistentes em relação ao jovem, decidiu voltar e desfazer o mistério. Vagou pela região, queria investigar melhor o local onde o Jovem Triste da Cordilheira estava, ver se por perto havia alguma estrada ou vila, qualquer coisa que justificasse sua presença tão incomum.

Vistoriou as partes mais baixas daquelas encostas e nada indicava que naquele lugar a presença humana fosse frequente. Na parte mais alta encontrou, em um protegido de pedra, uma botelha de vinho, que ainda estava lacrada, e um embrulhado que parecia comida.

Ao redor da cobertura de pedra não havia ninguém, ele ampliou o raio de verificação para encontrar novamente o moço, encontrou roupas e sapatos amontoados.

Liang observou a qualidade da roupa e eram excelentes, típica das famílias nobres de cultivadores. Os adereços eram poucos, mas refinados. A aparência e o perfume que emanava das peças indicava que estavam limpas e que o cultivador tinha bom gosto para as fragrâncias. Esses vestígios levavam a crer que havia uma fonte de água ali bem perto e que o dono das roupas estava nela.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora