Capítulo 6 - Nada é previsível

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Capítulo 6

Nada é previsível

Quando a carroça chegou à Vila Madeireira trazendo Yin de volta, depois de meses de sua ausência, ele foi recebido com festa pelos seus amigos. Com passos ainda lentos e movimentos medidos, ele desfrutava a alegria de ficar em pé e ter autonomia de pegar objetos, sem medo que esses fossem ao chão. Riram, comeram e cantaram, regado pela boa aguardente da vila.

Quando todos se foram para suas casas, Yin ainda estava agitado demais para dormir. Vagou pelo entorno de sua casa, sentindo com alegria pés e braços que o obedeciam. Já era quase dia quando deitou em sua cama, mas não dormiu.

O jovem pensou em si mesmo e em como ele diferia dos outros jovens da vila. Os moços dali, que tinham idade semelhante à sua, viviam uma vida despreocupada e em suas horas de folga vagavam em grupos em busca de diversão: a maioria ainda morava com os pais. Mas ele, assim como toda a sua geração, de jovens pertencentes aos Cinco Grandes Clãs, precisou amadurecer antes do tempo, devido aos conflitos que foram desencadeados e pareciam não ter fim.

Estimava que os moradores do extremo leste, que tinham o cultivo melhor do que os servos comuns, vivessem muito além dos cem anos. Se, como a médica disse, a energia estígia tivesse preservado sua essência nobre, viveria muito mais que eles.

Nessa linha de pensamento, decidiu que esqueceria seu passado, resgataria a sua juventude e seria feliz. Sentia-se como se tivesse ganhado uma vida nova, faria bom uso dela.

Dedicou-se, nos dias que se seguiram, a resgatar a agilidade perdida. Primeiramente, andou por toda a vila, coisa que nunca tinha feito. Essa pareceu-lhe maior do que imaginava no início. Mais seguro, começou a andar fora da muralha de toras. À medida que sua força voltava, banhou-se em riacho, subiu montanhas e entrou em cachoeiras. Cada antiga habilidade resgatada era comemorada como uma grande vitória. Com a evolução dos seus movimentos se aventurou com os excursionistas para regiões mais inóspitas, tudo para ele era surpreendente, naquele território verde e úmido.

Fora dessa alegria, havia outra questão que lhe tinha ocupado muito tempo durante o seu internamento na Ilha da Médicas: sua vida econômica. Tinha traçado um plano, mas dependia Li para ele se concretizar; queria formar uma sociedade com ela.

Em seus pensamentos ele havia revisto o uso da magia. Os grandes cultivadores usavam os talismãs acionando-os com a energia espiritual que possuíam e que era muita. Os da vila, que tinham pouca energia, criavam artefatos e os potencializavam dia após dia com sua pequena energia, conseguindo bons resultados.

Ele era especializado em confecção de talismãs, mas não tinha energia para potencializá-lo, porque não possuía um núcleo dourado para fazer reserva, a força dispersa em seu corpo se usada se extinguia, levando tempo para se repor de novo. Ele não podia, assim, fazer talismãs em série e os encher de energia.

Ele levou sua proposta e a moça empreendedora a aceitou de imediato.

— Temos que fazer talismãs pequenos e especializados o suficiente para consumir pouca energia. Eu não posso pedir ajuda aos outros, para fazer um produto que será vendido — ponderou a moça, sabiamente.

— Claro, pensei nisso também. Vou criar talismãs que possam se auto alimentar de energia, como a solar ou mesmo de velas, assim você só precisa usar sua energia para ativar a peça.

— Isso é possível?

— Ouvi dizer uma vez que os humanos fazem assim — ele riu.

— Vai me dizer que você encontrou um imortal perdido aqui no mundo do cultivo e ele te contou que foi passear na humanidade e viu isso?

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora