Capítulo 11 - Mais sofrimento

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Capítulo 11

Mais sofrimento

Descendo o rio, Wei Ying percebeu que trazia ainda, no braço, o símbolo de seu compromisso. Desatou o bracelete e o lançou nas águas fantasmas. Chorou copiosamente acalentado apenas pelo balançar do barco.

Exilou-se em uma possessão de terra que ficava na margem leste do rio, já próximo a foz, local de pouco movimento, mas que lhe permitiria acesso relativamente fácil à Colina Sepultura e aos compradores de suas mercadorias. De sua janela, olhava sem ver a paisagem, o vento frio congelava a sua face. Ele estava num estágio de tristeza que a dureza do frio era preferível ao aconchego do fogo, que lhe permitia lembrar. Não queria pensar e por isso fustigava o corpo para se distrair.

Foi nesse estado depressivo de espírito que sentiu um ponto quente em sua roupa, que contrastava com a temperatura do ambiente. Retirou o papel onde estava desenhado o Talismã Invasão, esse se extinguiu em chamas. Alguém havia entrado no Palácio Demoníaco.

Wei Wuxian ponderou, por algum tempo, sobre quem poderia ter invadido parte tão fortificada de seus domínios. Somente uma pessoa que ele conhecesse tinha poder e meios para tanto: Hangung Jun.

O primeiro sentimento que lhe veio foi o de expectativa, se Lan Zhan o estava procurando era porque desejava se explicar, quem sabe não houvesse uma razão para tudo. Depois, se recriminou, não havia motivo para tão longo abandono. Não havia explicação que pudesse justificar o Lan passeando com a discípula, após tê-lo abandonado sem ao menos comunicar. Aquele cultivador não era o que ele conhecia, era um outro que se havia deixado corromper por uma nortista. Sua revolta aumentou exponencialmente à medida que lembrava dos acontecimentos.

Ponderou, ainda, mais friamente, que poderia ser uma invasão perpetrada pelos cultivadores da Luz, sempre atentos aos movimentos na Colina. Sendo um ou outro caso, eram inimigos que estavam invadindo seu território, mostraria a eles que não se deve afrontar o Patriarca de Yiling.

Conjurou a verdadeira Chenquing, que sempre mantinha oculta próximo ao local que estava, essa saiu da fenda de uma rocha e encontrou seu dono. Proveu-se de mais talismãs e partiu, como um guerreiro, para proteger sua fonte de poder.

Nem os seus devaneios mais insanos foram capazes de o preparar para o que viu. Num primeiro momento sentiu-se frágil e desnorteado, olhando sem crer o cenário. A primeira imagem que viu foi Lan Zhan, com uma postura que parecia de defesa, face sem expressão como quem esperasse a reação do oponente. Em segundo plano, meio oculta pelo corpo dele, Assch observava, o que supunha apareceria à sua frente. A figura que ela certamente esperava aparecer era alguém a quem seu mestre conseguiria vencer, por isso ousara fazer aquela excursão. Os dois estavam ao lado da Lagoa de Sangue.

Nesses poucos minutos de espanto, antes que Wei conseguisse reagir, ele pensou na traição profunda. O Palácio Demoníaco e em especial a Lagoa de Sangue era o meio pelo qual havia reconquistado a sua autonomia e poder. Para que pudesse manter seu estilo de vida e se manter protegido, dependia de sua inteligência e da energia retirada da lagoa. Se sua fonte energética fosse descoberta por seus inimigos, esses fariam o impossível para destruí-la e ele voltaria ao marco zero.

Ele e Lan Zhan haviam conversado longamente sobre isso. Era o tema que mais suscitava preocupação: nunca deixar que se soubesse que o Palácio Demoníaco estava sendo habitado por ele. A presença do Anjo Maldito no seu território mais secreto era a maior punhalada que o Lan podia lhe dar.

O rosto de Wei transtornou. Desilusão, mágoa e ódio se misturavam fazendo seu sangue ferver. Decidiu que mostraria a Lan Zhan e a sua discípula por que era nomeado de cultivador demoníaco. Soltou os espíritos que mantinha contido no Palácio. Esses agitaram o ar com frenesi, sentiam toda a carga negativa que se desprendia do patriarca e se deliciavam com isso.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora