Capítulo 11 - Explicações

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Capítulo 11

Explicações

Quando Wei confessou para Lan Zhan que havia superado suas limitações por causa dele, percebeu que sempre  só havia admitido a hipótese de voltar para a Terra da Luz, depois que se sentiu forte o suficiente para estabelecer com o Lan qualquer tipo de relacionamento, mas com a condição de igualdade.

O que sentia pela majestade era tão especial que não admitiria não ter algo grandioso para oferecer a ele e, na ausência de energia e força, tinha estimulado e desenvolvido seu cérebro até alcançar a autonomia que possuía e, sem falsa modéstia, capacidades inalcançáveis para a maioria dos cultivadores - sentiu aquecer dentro de si a autoestima.

A revelação delicada, contudo, com ares de declaração, criou um momento de constrangimento, o Lan baixou os olhos e pareceu a Wei que as faces dele ficaram um pouco rubras.

— O que vai fazer agora? — perguntou a majestade, que parecia muito atenta ao bule de chá.

— Vou ficar aqui uns dias e desfilar pelas ruas da cidade, para que saibam que eu estou de volta.

— Você pretende voltar a morar na Terra da Luz?

— Não, por enquanto não — omitiu que na verdade morava, parte de seu tempo, ali bem perto, na Colina sepultura.

— Quando você vai partir?

A conversa resumida do Lan, não era, naquele momento, uma característica de sua personalidade, atrás da aparente calma, muitos questionamentos surgiam aflitos  e eram esmagados pelo ressentimento.

— Em alguns dias.

A conversa fluía lenta e, às vezes, ficava interrompida por minutos. Diante de tal situação, foi Wei quem sinalizou o fim da visita.

— Eu tenho que ir.

— Sim — respondeu evasivo o Lan.

O patriarca se levantou e pareceu, por um momento, que Lan Zhan não lhe acompanharia até a porta, mas ele se levantou e o seguiu até o deque.

— Como você encontrou meios de entrar sem minha ajuda, acho que sairá da mesma forma — declarou, com frieza, a majestade.

— Sim — Wei buscou algum calor na face do amigo, mas esse não lhe devolveu nada.

— Até a próxima. — Após essa despedida vazia, Lan Zhan voltou ao interior de sua casa sem esperar que o outro partisse.

Sem mais o que fazer, Wei caminhou para a saída do Recanto das Nuvens.

Wei não havia sido enganado pela postura indiferente do Lan, o conhecia muito bem. Viu atravéz da disciplinada postura a dor mal contida e o ressentimento que ainda crescia.

Depois de atravessar a floresta de bambu, seguiu descendo a montanha pela sinuosa estrada de pedra, onde as árvores milenares que a ladeavam mal deixavam uns poucos raios de luz lunar atravessar, Wei não se importou com a escuridão.

"Como eu feri os sentimentos de Lan Zhan, como eu causei mal a uma pessoa que só me fez bem. Como eu sou uma pessoa horrível. Mas o que eu podia fazer? Não tenho culpa se os caminhos dessa minha vida são tão tortuosos".

Tentou se justificar sem êxito. Poderia ter trocado correspondência com o Lan, contando meias verdades sobre seus problemas. Seu orgulho, contudo, não o deixou pensar na dor do amigo, por muito tempo estivera preso somente em seu próprio sofrimento.

"E agora, como eu vou voltar a me encontrar com ele?" — pensava enquanto descia os caminhos de pedra, já não podia usar o talismã do portal ali dentro, a energia forte e duvidosa seria percebida pelos cultivadores.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora