Capítulo 7 - De volta à Colina Sepultura

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Capítulo 7

De volta à Colina Sepultura

O Patriarca de Yiling deitou-se no barco e olhou o céu sem estrelas. Ele era um ponto insignificante flutuando na noite negra; num barco pequeno em meio a um rio grande que desembocava no Mar da Morte: tudo parecia querer mostrar a sua vulnerabilidade.

A escuridão ao seu redor era um bloco compacto, a madeira irregular machucava as suas costas e o balanço do barco mostrava que ele descia o rio com boa velocidade. Não era preciso remar, a correnteza o levaria até o porto da Baía da Dor. Já havia percorrido aquele caminho várias vezes.

Era preciso sair das Terras do Extremo Leste, sabia disso. De novo despatriado, pensava para que rumo seguiria, para que lugar levaria seu corpo frágil para encontrar novos desafios.

A solidão que o invadiu, naquele momento, não era saudade individualizada de seus muitos queridos amigos, conquistados naquela terra; era saudade da coletividade, de se saber pertencente a algum lugar. Estava solto de novo na amplidão do espaço e das pessoas, sem lugar nenhum para ir.

Depois de se lamentar pelo destino, Wei Ying começou a rir lembrando da cena do porto, onde ele e os lacinhos de Li tinham ressuscitado o terrível patriarca.

"Quando a notícia de minha aparição chegar à Terra da Luz, pelo menos trinta cultivadores terão sido mortos por mim nesse evento. Idiotas!"

O patriarca riu com amargor, pessoas tinham morrido pelas suas escolhas, pessoas que amava, pessoas inocentes. Mas, certamente, a maior parte dos crimes atribuído a ele, que levaram populações inteiras a o odiar, encontrariam outros culpados se alguém desejasse mesmo saber a verdade. Mas nada era mais importante do que culpar o cultivador demoníaco.

Depois de se permitir esses momentos de nostalgia, ele chegou à conclusão que se lamentar pelo passado, que já havia decidido esquecer, não teria utilidade nenhuma. Encontraria um novo lar. Mas para onde ir?

A única solução seria viver como servo em terras distantes, esconder o passado, suas habilidades e seus conhecimentos; mas seu espírito agitado não lhe permitiria isso por muito tempo, sabia disso.

"Tenho que resolver meu problema de fragilidade, não posso para passar o resto da vida vagando a ermo."

Seu cérebro nervoso começou a buscar resposta para essa pergunta: o que ele poderia fazer para se tornar mais forte. Repassou cada informação que havia adquirido no contato com o povo do extremo leste. Pensou em cada grupo que havia conhecido e nas técnicas que eles usavam para o cultivo: as médicas retiravam energia da natureza, faziam elixires e potencializavam o núcleo dourado; os madeireiros retiravam a energia do núcleo dourado e transferiam para os objetos. "Ao final tudo é energia, exatamente o que me falta — suspirou desanimado."

Respirou fundo e obrigou-se a voltar a análise. O caso das médicas era o que mais se parecia com o seu, elas tinham uma fonte externa de energia. Ou seja, ele precisava de uma fonte energética como as médicas, mas não para produzir remédio. Para que então? Para potencializar objetos, no seu caso artefatos mágicos: como faziam os madeireiros.

Uma lembrança nebulosa desejou entrar em cena, ele resistiu, mas ela permaneceu a margem de seus pensamentos esperando que ele a resgatasse. Havia um lugar que encerrava lembranças tristes do passado, um lugar que ficava no coração da morada de seus inimigos, um local repleto de poderosa energia condenável: a Lagoa de Sangue da Colina Sepultura.

Esse pensamento o encheu de apreensão, era uma volta completa ao que já havia renegado: a Terra da Luz e o cultivo demoníaco. Como ainda acreditava que energia era energia, que energia boa poderia ser usada para o mal e energia vingativa poderia ser usada para o bem — tudo dependia da intenção do cultivador; decidiu voltar a ser o patriarca: voltaria à Colina Sepultura.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora