Capítulo 8 - Lian - Parte 1

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- Lian, espere! - disse Amélia andando mais rápido para me alcançar - me explique esse plano direito... cavalo descontrolado... um delírio falso... eu... eu não entendi... LIAN!!
Parei, cedendo as reclamações de Amélia, revirei os olhos e me virei.
- Será que você não vê que esse vestido não me deixa andar rápido assim - disse depois de recuperar o fôlego - Agora, me explique esse plano maluco.
- Amélia - disse já com um pouco de impaciência - não há tempo para te explicar tudo de novo, eu preciso me preparar antes do "grande espetáculo" começar.
Amélia olhou para mim um pouco preocupada, tenho certeza que ela tinha entendido o plano, só se negava a acreditar.
- Mas Lian é muito perigoso, você não conseguiu pensar em alguma outra coisa ?
- Não - disse - esse plano do rei, infelizmente, é um plano muito bom e convincente
E era mesmo, ele envolvia conveniência, acaso e religião, maioria das pessoas engoliria tudo sem nem ao menos desconfiar, e também, quem iria contra o alto septão ?
Já estávamos na entrada dos participantes, Amélia não poderia continuar a partir dali.
- Oh Lian ! - exclamou um tanto melancólica - estarei torcendo para que tudo de certo.
Ela me abraçou, e a contragosto o retribui. Então ela se despediu e seguiu para a entrada principal, puxei o ar e soltei antes de entrar.
A sala tinha vários tipos de armamentos nas paredes, também tinha armaduras, ferramentas e , obviamente, pessoas. Eram arqueiros esperando para a hora da demonstração de arco e flecha, todos estavam de costas para a porta, olhando para a luta que estava acontecendo na arena. Eu iria entrar depois que essa luta acabasse.
Fechei a porta atrás de mim com cuidado para não fazer barulho e fui até uma pequena bacia com água onde lavei meu rosto. Eu não queria demonstrar na frente de Amélia, mas eu estava muito nervoso, esse plano idiota era muito bom mas também era muito arriscado.
Meu coração estava acelerado e as mãos tremendo e suando. Respirei fundo varias vezes até me acalmar um pouco.
O barulho de ferro contra ferro ressoava tão alto que parecia que eu estava no meio dos dois grandalhões que estavam lutando, por curiosidade e para tentar amenizar o nervosismo, me aproximei de uma saída lateral que também dava para o centro da arena, vagarosamente coloquei a cabeça para fora. A arena estava cheia, desde as grandes casas até algumas pessoas comuns, todos vidrados na luta, composta não apenas de duas, mas sim de quatro pessoas, quatro cavaleiros enormes, bom, pelo menos para mim eles eram enormes, lutando entre si.
Em um momento, depois de um golpe de martelo, o braço de um dos homens foi dobrado de um jeito que não deveria ser possível, a cena em si mal me afetou, mas o grito que foi dado logo em seguida conseguiu me deixar desconfortável.
Recuei um pouco e me encostei na parede, respirei e voltei para olhar o pobre homem agonizando, mas já estavam o carregando para fora da arena. Havia uma grande chance de ser eu no lugar dele em pouco tempo, afastei a ideia e recuei novamente. Fui surpreendido por uma mão no meu ombro e tive que sufocar um grito, me virei dando um tapa na mão a tirando do meu ombro. Meu sobrinho ficou surpreso com a minha reação, mas não deveria, ele me conhece muito bem para saber que contato corporal esta proibido.
- Alan !! - falei baixo e severo - quer me matar do coração ?
- Desculpa tio Lian.
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh que raiva do meu irmão, eu disse que não precisava de escudeiro nenhum. Mesmo já sabendo a resposta perguntei:
- O que está fazendo aqui ?
O garoto aprumou-se
- Meu pai disse que você deixaria que eu fosse seu escudeiro - apesar da postura a voz estava hesitante e tímida.
- E quem disse que eu deixei ? - disse zangado
- Meu pai
Esfreguei as mãos na cara.
- É só modo de dizer Alan - olhei pra ele, o analisando - quantos anos você tem mesmo ?
- doze
Doze!?, e ja esta grande assim ? Era só o que me faltava.
- Como você ficou tão grande ? - fiquei nas pontas dos pés para alcança-lo.
- Eu não sou tão grande assim tio Lian, na verdade é o senhor que é...
- Não ouse terminar essa frase -entreguei a ele minhas flechas para segurar.
As trombetas soaram avisando que a próxima exibição iria acontecer.
Respirei e fui para a entrada, os outros arqueiros começaram a entrar.
- Alan - disse firme e calmamente - aprume-se, arrume sua roupa e o arco está torto.
Ele rapidamente arrumou tudo, e então entramos.
As pessoas aplaudiam e gritavam, enquanto os arqueiros se posicionavam formando uma meia lua, e eu fiquei no meio de todos.
Cada um atirou acertando os alvos, então chegou a minha vez, andei decididamente ate o centro da arena, sentia todos os olhares em cima de mim, mas isso não me assustava, era apenas desconfortável.
Na minha frente havia diversos alvos, cada um mais distante que o outro, estendi minha mão para Alan, ele me entregou uma flecha, a coloquei no arco, puxei a corda rente ao meu olho, mirei e soltei, a flecha voou rapidamente pela arena acertando bem no centro do primeiro alvo.
Estendi a mão novamente, Alan me entregou outra flecha, a coloquei no arco, puxei um pouco mais do que a ultima vez, mirei e soltei, a flecha voou e novamente acertei bem no centro do alvo.
Estava ignorando os gritos das pessoas em volta, estava completamente indiferente a eles, não podia me distrair.
Com a terceira flecha já posicionada, me preparei para atirar, "e..." atirei a flecha que acertou novamente o centro do alvo "agora"
Um baralho de madeira quebrando veio de uma área da arena, alguns homens olharam para lá e se aproximaram. Repentinamente uma cerca que dava ao estabulo foi quebrada e vários cavalos entraram na arena, correndo desesperadamente, não sei bem o que fizeram para assusta-los, mas o fizeram bem.
Alguns cavaleiros tentavam conter os cavalos que estavam ao alcance, e o resto buscava um lugar seguro para se esconder. E eu estava parado no meio do caos da arena esperando um cavalo vir na minha direção.
Alan chegou mais perto de mim, não diria que estava exatamente assustado, mas sim apreensivo.
- Tio Lian, você não acha melhor a gente sai daqui ?
- Você ainda não correu? Se a situação apresenta risco de morte, você CORRE - ele ficou me encarando depois que terminei de falar - ANDA GAROTO, está esperando o quê ?
Ele finalmente pareceu acordar e saiu correndo, porem ele não prestou atenção e tropeçou em um arco largado no chão e caiu, mas se só isso não bastasse, um cavalo achou mais conveniente atingi-lo do que me atingir.
- MERDA - gritei e corri na direção dele, rapidamente ajudei ele a levantar e dei um forte empurrão.
Ele saiu da reta do cavalo, mas agora tinha um novo alvo no lugar: eu. O cavalo parou a menos de um metro, relinchou e empinou.
Não tive tempo de sentir nada, tudo que consegui fazer foi fechar os olhos e esperar o impacto, o qual não veio de cima, e sim do lado. Alguém pulou e me agarrou, saímos rolando no chão e acabei ralando algumas partes da minha perna.
Quando paramos de rolar, esperei um pouco e abri os olhos, Amenom estava por cima de mim olhando para o cavalo que agora era dominado por dois homens, ele se virou para mim, sorriu e disse:
- Essa foi por pouco em ?
Fiquei quieto e encarei ele, meu coração estava acelerado e eu ofegante por causa do susto, e Amenom parecia estar na mesma situação. Ficamos assim por uns instantes, um olhando nos olhos do outro, e agora que reparei melhor, a cor lilás dos olhos dele e bem bonita, e também reparei numa pequena cicatriz no queixo.
Ele também parecia me analisar, quando de repente parou e tocou em meu rosto, na mesma hora prendi minha respiração, surpreso com o toque.
- tem um cortezinho aqui - disse com toda simplicidade
Passei a mão no rosto e depois olhei para a mancha de sangue nela, bom, antes um corte na cara do que não ter mais uma cara.
Ele se levantou e estendeu a mão para mim, que demorei um pouco para pegar. Já de pé lembrei o quanto era baixo do lado dele, a grande diferença me fazia parecer mais ainda com uma criança.
Nesse momento as coisas já estavam mais calmas, os cavalos já estavam controlados e aparentemente ninguém se machucou seriamente. Eu já estava bem mais calmo e o corte no meu rosto começou a latejar.
Não muito tempo depois meus irmãos entraram na arena e vieram correndo em minha direção.
- Lian, você esta bem ? - perguntou Ben me analisando - é melhor você ir ver este corte com...
Ben foi interrompido por um grito estridente que veio da arquibancada, todos se calaram e olharam para o lugar que veio o barulho. Quem gritou tinha sido o alto septão, que agora estava tendo convulsões enquanto balbuciava palavras desconexas, então se levantou com um pulo da cadeira e disse auto e com severidade:
- Uma grande ameaça esta vindo para os sete reinos... - a plateia soltou várias exclamações de surpresa e de espanto -...uma ameaça capaz de dividir todo Westeros... - consegui escutar algumas frases como: "o que está acontecendo ?" "o que vai acontecer ?" E "que os sete nos protejam" - ... para que essa desgraça seja evitada, duas das maiores casas devem se unir, fortalecendo seus laços através do casamento... - mais uma onda de murmúrios rodou por toda a arena, quando todos se calaram, o Alto Septão gritou - O DRAGÃO DEVE SE UNIR COM A ROSA - apontou o dedo para mim e para Amenom - ESSA É A VONTADE DOS SETE - e por fim, terminou toda a encenação fingindo um desmaio.
Todos se espantaram, alguns estavam assustados com o que poderia acontecer, outros estavam alarmados com as palavras do septão, e todos estavam olhando para nós no centro da arena. Uma grande barulheira de pessoas discutindo começou, mas não durou muito, pois logo o rei gritou:
- SILENCIO - todos ficaram quietos - eu sei que todos estão surpresos com o que acabou de acontecer, com o acidente dos cavalos e com o que aconteceu com nosso septão - as pessoas permaneceram quietas, sem ousarem interromper o rei - mas imagino que algo esteja claro para todos, que os deuses tenham usado o Septão Llino para nos passar uma mensagem, para nos prevenir de uma grande tragédia - então olhou para nós - e se para que essa tragédia seja evitada as casas Tyrell e Targaryen tenham que se juntar através do casamento do Príncipe Amenom Targaryen e do jovem Lian Tyrell, então assim será feito - acho que nem preciso dizer que todo mundo na arena ficou surpreso com as palavras do rei e que começaram a discutir sobre isso, quando se calaram, o rei continuou - sei que todos precisam de um tempo para processar tudo que ocorreu, então, declaro que a justas de hoje estão canceladas, tenham todos um bom dia - dito isso deu as costas e foi embora.
As pessoas começaram a esvaziar a arena, e no meio do tumulto meus irmãos se apressaram para me tirar dali, Amenom cogitou nos seguir, mas depois acabou indo para outra direção.
Já do lado de fora meus irmãos me cercaram com varias perguntas, como: "você esta bem ?" "O que acabou de acontecer ?" "Você terá mesmo de se casar com outro homem ?". As perguntas começaram a se tornar irritantes, já não aguentava mais tanta importunação em um dia só.
- BASTA - gritei - minha cabeça já esta rodando com tantas perguntas e com... com tudo que aconteceu - aproveitei o momento para parecer que não tinha ideia do casamento e que estava fragilizado - Eu... eu preciso de um tempo para pensar. - sai correndo pelo meio deles e fui em direção ao lugar onde deveria encontrar Amélia. Quando cheguei ela veio correndo me abraçar.
- Oh Lian, eu fiquei tão preocupada, temi que você pudesse morrer. - disse enquanto me esmagava com seu abraço.
- Não precisa se preocupar, eu to vivo... e já pode me soltar - ela continuou fortemente abraçada - solta Amélia - continuou - ANDA AMÉLIA, desgruda.
Ela finalmente me soltou e se distanciou um pouco enxugando as lagrimas.
- Recomponha-se Amélia, nem e pra tanto - cruzei os braços.
- Não é para tanto ? Lian você quase morreu
- Mas não morri ! - disse com um leve sorriso na cara.
Amélia me repreendeu por tratar minha vida com tanto desdém e eu apenas a confortei com alguns tapinhas nas costas. Já recomposta, Amélia indagou:
- Lian... Você realmente esta bem com tudo isso ? - perguntou preocupada
Suspirei
- Seria mentira dizer que estou, mas não há nada que eu possa fazer, então estou conformado. - disse me encostando na parede e olhando para o lado
Ficamos quietos, e antes que Amélia perguntasse mais alguma coisa eu disse:
- estou cansado dessa aventura de hoje, preciso de um banho e também preciso tratar esse corte, você vem comigo ? - falei com naturalidade já indo embora.
Amélia veio logo atrás, mas não demorou muito e ela fez outra pergunta.
- E agora, como vai ser ?
- Olha eu não sei e nem quero saber agora - disse andando mais rápido que Amélia e depois me virando - tudo que quero saber no momento e quanto o Septão ganhou para fingir que estava sendo o mensageiro dos deuses.
Amélia sorriu e pareceu acreditar que eu estava bem, me virei para a frente e torci para que ela não notasse o quanto eu estava me abraçando forte para reduzir toda a tremedeira do meu nervosismo.

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