Capítulo 30

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Desço com a mão na cabeça e vejo todo mundo sentado a mesa com uma cara de velório, não é para estarem feliz? É natal, me sento ao lado da minha avó que coloca um pouco de suco em copo e me entrega, agradeço e beberico um pouco, arqueio a sobrancelha e me encosto na cadeira assim vendo eles me encararem.

-Okay, o que houve? – Cruzo os braços – Vocês acham que eu não tenho percebido como andam estranhos desde que minha vó e minha mãe chegaram? – Coloco a mão na cabeça sentindo que ela vai sair do lugar a qualquer minuto.

-Filha, não houve nada – Meu pai começa a falar, mas minha mãe o corta no mesmo instante.

-Ela merece saber Juan – Fico confusa e encaro eles, saber o que? – O que eu tenho que te contar Cecília, pode mudar muita coisa – Pisco algumas vezes e continuo em silêncio – Lembra que eu te contei que depois que me mudei para São Paulo para estudar eu conheci seu pai? – Assinto e sinto minha vó segurar minha mão por baixo da mesa – A outra parte que eu não te contei foi que eu e seu pai terminamos por um tempo e nesse tempo eu tive um caso com um menino do nosso bairro, ele era dois anos mais velho que eu e seu pai e eu era ingênua demais para entender que nem tudo que homens mais velhos diziam tinham que ser verdade e eu acabei me relacionando com ele sem nenhum tipo de proteção ou coisa do gênero, mas ai minhas "amigas" – Ela diz fazendo aspas – Me deram a pílula do dia seguinte e eu achei que ficaria tudo bem - Sinto o vômito subir ouvindo ela, coloco a mão na boca e respiro fundo – Depois disso os pais dele e ele se mudaram de bairro e eu não o vi mais, um mês depois eu e seu pai voltamos, ficamos bem por mais um mês e então eu descobri que estava grávida – Olho para o lado e vejo os olhos do meu pai cheio de lágrimas, não, não, não... Me levanto rapidamente com o copo de suco ainda em mãos e continuo encarando eles – Filha – Minha mãe tenta se aproximar mas eu recuo.

-O que você quer dizer com isso Melissa? – A encaro, tenho certeza de que meus olhos estão vermelhos e não é vontade de chorar – Acaba logo com o resto de dignidade que eu ainda acreditava que você tinha – Grito.

-Antes de vir visitar vocês eu estava separando alguns papéis para deixar com seu pai e achei o meu exame de sangue e a data em que eu possivelmente engravidei não bate com a data que eu e seu pai voltamos – Assim que ela termina essa frase, deixo meu copo cair no chão, quebrando em mil pedaços, é assim que me sinto nesse momento, em pedaços e tudo dentro de mim parece um líquido sem fim que percorre todo meu corpo queimando e destruindo cada parte que passa – Filha, fala algo – Ouvir aquela voz me chamar de filha só me fez querer manda-la a merda e todo mundo ali presente também, sinto meu coração acelerar e seguro o mais forte possível na pedra gelada da ilha que existe no meio da cozinha e me concentro ali – Cecília? – Fecho os olhos e sinto minha boca ficar ressecada enquanto minha respiração fica acelerada.

-Olha o que você fez – É tudo o que ouço antes de tudo ficar preto e eu cair no chão.

Abro os olhos lentamente sentindo uma dor de cabeça insuportável e eu não sei dizer se é pela ressaca ou se é pela queda, fecho os olhos novamente assim que uma lanterna atinge meus olhos e resmungo baixinho.

-Está tudo bem, aparentemente foi só a crise de ansiedade ligada a ressaca, já que vocês disseram que ela não está acostumada a beber, ela ficara de observação até acordar, qualquer coisa que precisarem só apertar aquele botão ali que a enfermeira vem o auxiliar – Uma voz feminina explica para o meu pai, digo, para o Juan que agradece logo em seguida.

-Graças a Deus você acordou, como se sente? – Ele pergunta assim crio coragem e abro os olhos.

-Com sede – Ele dá risada e me ajuda a tomar a água que a enfermeira deixou para quando eu acordasse.

Destinos cruzados: vôo 8.552Onde histórias criam vida. Descubra agora