Capítulo 9

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-Tá ai há muito tempo? – Eu pergunto e me sento a olhando, vendo que ela tem uma caixinha rosa nas mãos.

-Não muito, mas você parecia estar em outro lugar – A Anne diz com um tom de voz cuidadoso – Posso entrar?

-Fique á vontade – Sorrio fraco – na verdade, eu estava pensando na minha vó – Ela entra no quarto e se aproxima da cama.

-Eu trouxe donuts – Ela coloca a caixa no criado-mudo e sorri – Quando eu fico triste com algo, sempre peço donuts e me permito sair da dieta – Dou uma risada baixa – Quer conversar? Eu sinto que sua vó esteja internada – Bato no lugar vago ao meu lado como sinal para ela se sentar e a mesma se aproxima e senta na beirada da cama – Se não quiser falar sobre isso eu respeito, podemos fazer algo para se distrair, podemos assistir algum filme, série, fazer compras online – Ela sorri fraco.

-Obrigada, eu super toparia fazer compras online ou ver algum filme, mas eu só quero ficar quieta e esperar que meu pai tenha novas notícias da minha vó – Olho sem graça para ela que me retribui com um sorriso reconfortante.

-Não precisa ficar sem jeito, como eu disse, eu te entendo e logo menos seu pai trará notícias – Sorrio grata e olho pra parede atrás dela.

-Sabe o que e é engraçado, por um mês, eu esqueci completamente da vida que eu vivia no Brasil, fiquei tão ocupada me adaptando, que eu só esqueci... – Abaixo a cabeça e ergo novamente limpando as lágrimas – Eu esqueci de que até alguns meses atrás eu vivia com medo de como meu padrasto chegaria em casa, se ele chegaria bêbado, drogado, os dois ou sobreo, mas sempre brigando com a minha mãe e agora eu paro para pensar e se eu estivesse lá? – Tento segurar o choro, mas em vão, minha voz começa a falhar – Me desculpa, você não merece receber tanta informação de uma vez.

-Não querida – Ela se aproxima mais e me abraça de lado – Eu já sabia, a primeira coisa que seu pai fez quando a coisa começou a ficar séria foi me contar sobre o processo da guarda, de como ele não via a hora de poder te tirar de perto do seu padrasto, pode não parecer, mas seu pai sempre falava de você, de como odiava ver a filha sofrendo longe e o juiz não dava logo um veredito, eu entendo sua dor e sua angústia – Ela diz com uma voz calma, como ela consegue? Se fosse eu no lugar dela estaria aos prantos também, mas ela sabe como manter suas emoções, deve ser atriz, só pode – Eu entendo que pra você é difícil, mas você graças ao bom Deus, não estava lá, estava aqui, segura e principalmente longe – Limpo meu rosto e fico cabisbaixa.

Anne me convenceu a fazer algo pra me animar, passamos o resto da noite assistindo filme e comendo Donuts, acabo dormindo no terceiro filme que escolhemos e nem vejo a Anne sair do quarto, espero que não perca a hora do colégio por ter ido dormir tarde. Acordo no outro dia com meu relógio apitando e eu aperto o botão de silêncio, abro os olhos devagar e me espreguiço, olho a hora e vejo que já são seis e quarenta, dou um pulo da cama, tenho menos de vinte minutos para sair se eu quiser alcançar o ônibus, droga, corro para o banheiro e tiro a roupa enquanto ligo o chuveiro, tomo um banho rápido e saio me enrolando na toalha, saio do banheiro e ando em direção ao closet, pego uma meia calça, uma calça jeans qualquer, uma blusa de frio rosa e um suéter de tricô roxo, me troco correndo e coloco minha bota, faço um coque bagunçado no cabelo e paro em frente ao espelho do lado da porta, vejo o meu olho inchado de tanto chorar, droga, abro a gaveta da penteadeira pegando meu corretivo, passo ele rapidamente nas olheiras e coloco meu óculos que eu geralmente uso para leitura, ando até meu criado-mudo e abro a gaveta pegando meu celular o ligando, desço e vou até a cozinha vendo meu pai sentado tomando café da manhã.

-Bom dia – Me aproximo da mesa, pego uma maçã verde e me viro para sair.

-Bom dia? Onde a senhorita vai com essa pressa toda? – Meu pai me olha e eu me viro para o olhar, tombo um pouco a cabeça para o lado confusa.

-Para o colégio?

-Achei que ia querer ficar em casa hoje, seu dia ontem foi um pouco agitado não acha? – Ele leva a xícara com café até a boca.

-Exatamente, ontem, hoje é um novo dia e se eu ficar em casa vai ser pior – Olho a hora no meu celular, que legal, perdi o ônibus e nem posso pedir carona para a Emma – Pode me dar uma carona?

-Eu ainda acho que seria melhor se você ficasse em casa, você ainda está com uma carinha abatida –Reviro os olhos – Mas se acha melhor temos que ir agora...

-Eu vou escovar o dente – Coloco a maçã de volta na Fruteira e saio andando em direção ao banheiro.

-Pode dar meia volta e se alimentar antes de sair mocinha – Adeline entra na cozinha pela porta dos fundos e eu suspiro – Você não vai para o colégio sem comer nada – De repente ela para na minha frente.

-Eu vou comendo no caminho Ade, por favor, eu já estou atrasada – Eu faço bico e ela suspira.

-Vou preparar seu café, vai lá terminar de se arrumar – Ela se rende e eu dou um sorrisinho travesso saindo.

Assim que volto vejo uma vasilinha com waffles, morangos e um copo térmico com um liquido que eu aposto que é chocolate quente, agradeço a Ade e saio atrás do meu pai, o caminho até o colégio é silêncioso, meu pai fica cantarolando a música que toca na rádio e eu como meus waffles com morangos, deixo a bebida do copo térmico para mais tarde, assim que meu pai entra no estacionamento vários olhos se voltam para o carro e eu me encolho no banco, ele para perto da entrada principal, eu me despeço dele e ele deposita um beijo em minha testa, desço do carro e corro para dentro, já estou atrasada para o primeiro horário, droga, corro até meu armário e abro o mesmo pegando meus livros e os colocando na mochila, fecho ele e saio em direção a sala de matemática, entro na sala um pouco antes do professor e agradeço mentalmente por isso, as meninas me enchem de perguntas e eu digo que depois explico, passo a aula toda concentrada tentando não pensar na minha avó e em como a Anne foi carinhosa comigo, aliás, eu não a vi hoje cedo, depois pergunto para o meu pai dela.

A manhã passou rápido e já estava na hora do almoço, eu sei que preciso me alimentar, mas eu estou sem fome alguma ansiosa por respostas sobre minha vó, pego o almoço e me sento com as meninas que tagarelam sobre o baile de inverno, eu fico distraída revirando a comida, as meninas ficam em silêncio olhando para trás e eu arqueio a sobrancelha estranhando, me viro para olhar e dou de cara com o Adam e o Trevor em pé atrás de mim, engulo em seco e mordo meu lábio. 

*Capítulo Revisado

Destinos cruzados: vôo 8.552Onde histórias criam vida. Descubra agora