Capítulo 22

21 4 10
                                    

-Minha mãe - Sinto as lágrimas voltarem e coloco a mão no rosto - Nos abandonou, quer dizer, a mim e ao meu pai, para ir morar com outro homem em Milão - Digo com a voz embargada e sinto seus pequenos braços me cercarem e quando percebo, estamos os dois sentados no tapete do escritório e eu estou encolhido como uma criança nos braços da Cecí.

-Está melhor? – Ela me pergunta depois de um tempo quando já estou quase parando de chorar e eu assinto, a vergonha que eu estou sentindo neste exato momento é indescritível, essa é a primeira vez que eu choro na frente de alguém ou de uma garota.

Desde criança aprendi a criar essa barreira e não me abrir com quase ninguém ou chorar, cresci em uma familia que sempre sustentou a frase de que homem de verdade não chora ou não demonstra quando há algo errado, minha mãe sempre achou esse método da minha familia ridícula e sempre me disse que se houvesse algo errado eu poderia conversar com ela, já meu pai sempre me ensinou que a melhor maneira de se crescer e nunca ser pisoteado por alguém era sempre guardar tudo e nunca baixar a guarda, quando pequeno, eu passava mais tempo na casa do Trevor do que na minha própria casa, minha mãe sempre viajava a trabalho e meu pai, bom, ele usufruía desse tempo para ficar bêbado e trair minha mãe com sua secretaria, os pais do Trevor sempre foram muito bons comigo e me tratavam como um filho, eu praticamente cresci com eles, quando entrei na adolescência, comecei a arranjar confusões e brigas no colégio e quando me dei conta, tinha carregado o Trevor comigo e isso chateou os pais dele, eles até tentaram me ajudar, mas quando se cresce em uma familia opressora, uma hora se tem que colocar para fora, nos últimos dois anos tem sido tudo muito difícil, meus pais estavam em processo de divórcio e minha mãe já tinha algo com esse homem misterioso, por ser dona de uma agência de modelos, ela usava sua empresa como desculpa para viajar a encontro desse homem, mas não fazia ideia de que ela abandonaria tudo para ir morar com ele em outro lugar, talvez eu tenha contribuído com essa escolha ao só lhe dar desgosto, mas a culpa é dela de eu ser assim também.

Cecília e eu passamos a tarde toda conversando, acho que desabafei quase dezoito anos em quatro horas, tentei disfarçar o choro quando sua empregada entrou para nos entregar um lanche, mas ela ficou preocupada e a Cecí tratou logo de acalmá-la e a dispensar, depois de uma longa tarde de conversa, muito choro de ambas as partes e algumas trocas de caricias que eu acredito que foi para confortar ambos, a agradeço ela por me ouvir e a abraço por impulso, quando penso em me afastar ela retribui o abraço e nesse exato momento eu esqueço de tudo e me sinto renovado, até alguém abrir a porta e fazer com que ela de um pulo de susto e se afaste de mim, suspiro, abaixo a cabeça sem jeito quando vejo que é a madrasta da mesma. Após cumprimentar a Anne, vou até a porta acompanhado da Cecí que me abraça novamente, assim que ela fecha a porta suspiro.

*Cecília pov's*

Passo o resto do dia trancada no quarto andando de um lado para o outro, quem ela pensa que é? Insinuar assim que eu fiquei com o Adam e que se não fosse eles terem chego eu teria transado com ele, minha dignidade realmente desapareceu, mas eu pararia ele, não sou assim fácil, a raiva que me consome me faz querer bater em alguém ou gritar, respiro fundo tentando voltar a minha calma e pego meu celular vendo duas chamadas perdidas do meu pai, retorno e ele atende no segundo toque.

-Por que não me atendeu? – Ele diz sério.

-O celular estava no silencioso, desculpa – Digo com a voz ainda irritada – Aconteceu algo?

-Como assim você faltou com educação com a Anne e ainda passou a tarde toda trancada no escritório com um menino – Arregalo os olhos e fecho a mão livre, como essa vaca teve coragem?

-Primeiro, boa tarde filha, como você está? – Debocho e já o imagino revirando os olhos – Segundo, sua namorada quem veio me atacar me chamando de fácil, eu só não sou obrigada a escutar esse tipo de ofensa e ficar calada, terceiro, eu não fiquei trancada com ninguém, pode perguntar a Matil, ela passou a tarde toda em casa e sempre ia ver se estava tudo bem – Faço uma pausa – Quarto, o menino em questão, é um colega de escola que veio conversar comigo sobre problemas familiares - Digo tão irritada quanto antes - Quinto, eu sou madura o suficiente para saber que eu namoro e o que eu faço ou deixo de fazer, mais alguma coisa? Não? Passar bem – Desligo a chamada na cara do mesmo e deito na cama olhando para a tela, desligo o celular na segunda chamada perdida do meu pai.

Acabo pegando no sono após um tempo, acordo assustada com alguém batendo na porta, na verdade espancando a mesma, não tenho um minuto de sossego nessa casa, levanto correndo e abro a mesma.

-Por que você desligou o celular? – Ele diz em voz alta, arregalo os olhos – Que história é essa?

-Porque eu estava de saco cheio de tanto mimimi – Reviro os olhos e me seguro para não gritar – Que história?

-De que a Anne te chamou de fácil – Eu o olho e me apoio na porta, passo a mão pelo meu cabelo bagunçado – Por que ela fez isso?

-Porque ela acha que eu vou trair ou trai o filho dela, sei lá – Suspiro sabendo que em partes ela tem razão de estar desconfiada – Eu não esperava isso dela, não sei se quero continuar com isso pai, eu gosto do Christian e tudo, mas foi um erro me envolver com o filho da minha futura madrasta!

-Você só está chateada Cecí, eu vou conversar com ela – Ele diz e parece estar mais calmo – Você tem certeza disso? Não adianta nada pensar de cabeça quente também querida – Fico tão surpresa quanto ele ouvindo essa frase – Só não fica chateada ou estressada, sua mãe e sua avó vão chegar amanhã cedo e o que a gente menos quer agora é uma nova confusão nas festas de final de ano, então vamos evitar de falar sobre esse assunto, okay?

-Você tá preocupado com isso? – O olho – Sério? Tanta coisa acontecendo e seu medo é de eu contar algo para minha mãe e minha avó? Mas é impressionante mesmo – Solto uma risada – Eu não vou falar nada para elas, fica tranquilo!

-Não é questão de medo, eu só não quero atrapalhar a vinda delas para te visitar – Mordo o lábio – Eu sei que você está irritada, mas não tenho culpa!

-Desculpa – Suspiro e o olho – Eu me senti ofendida, mas eu prometo não atrapalhar a visita delas – Sorrio fraco.

*Cap REVISADO.

Destinos cruzados: vôo 8.552Onde histórias criam vida. Descubra agora