Capítulo 8

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"Tallahasse – Atualmente"

Acordo com a voz do meu pai me chamando, abro os olhos lentamente e os fecho novamente, ele chacoalha meus ombros e eu me espreguiço sentando na cama, olho para a janela do quarto e vejo que agora está chovendo e já está escuro, olho a hora no relógio digital em cima do criado-mudo, seis da tarde, eu realmente estava precisando desse descanso.

-Descansou bem filha? – Meu pai me pergunta e eu assinto ainda processando tudo – Agora precisamos conversar – Vejo seu semblante ficar sério e eu sinto minha espinha das costas se enrijecer. 

-O que houve? É sobre a ligação da minha mãe de madrugada, não é? Eu sabia que tinha acontecido algo – Sinto meu coração acelerar.

-Filha, calma, posso falar? – Ele senta ao meu lado e eu fico o encarando – Sua avó está no hospital, aconteceram algumas coisas e ela acabou passando mal, mas ela está bem, está internada em um hospital particular muito bom do Rio, está em observação – Meu mundo parece desabar quando ouço ele dizer que minha avó está internada, sinto o quarto ficar pequeno e girar enquanto as lágrimas descem sem parar.

-Eu preciso... Eu preciso falar com ela pai, eu preciso ouvir a voz dela!

-Filha, ela está bem, sua mãe está lá com ela – Solto uma risada ríspida enquanto limpo as lágrimas, o motivo da minha vó estar internada, a fazendo companhia.

-Ela deveria ficar bem longe da minha vó, tenho certeza de que a culpa de tudo isso estar acontecendo é dela – Eu digo entre soluços – Como sempre a culpa é dela e tenho certeza de que aquele desgraçado do meu padrasto também é culpado!

-Cecília olha como fala, ela ainda é sua mãe! 

-O que é irônico já que depois que nos mudamos para o Rio de Janeiro quem virou minha mãe foi a minha avó – Respiro fundo tentando controlar o choro, mas é em vão, sinto as lágrimas descerem queimando minha pele como fogo – Me promete que não vai deixar mais nada acontecer com a minha avó, por favor pai, me promete – Meu pai me puxa e me abraça.

-Claro filha, estou fazendo o possível para que sua avó tenha o melhor tratamento nesse momento, mesmo de longe, quer algo? Posso pedir para a Ade preparar algo ou encomendar!

-Eu só quero saber da minha vó – Ele suspira e se afasta um pouco tirando o celular do bolso – Quer ligar para sua mãe para saber notícias? – Eu faço que sim com a cabeça e ele disca o número.

-Alô? - Ela atende na segunda chamada – Juan agora não posso falar, minha mãe teve algumas complicações e estão levando-a para o centro cirúrgico – Ela diz com voz de choro

-É tudo sua culpa, se acontecer algo com ela eu não vou te perdoar nunca – Pego o celular da mão do meu pai e digo já gritando e vejo meu pai arregalar os olhos – Sempre é relacionado a você e aquele drogado que você colocou pra dentro da casa da minha avó, por sua culpa ela está internada e eu estou longe dela – Volto a chorar quando meu pai tira o celular da minha mão.

-Já chega Cecília – Ele se levanta e sai do quarto falando no telefone com ela, fico sentada na cama sentindo o gosto salgado das lágrimas invadirem meu paladar e molhar todo meu rosto.

Meu pai ficou um longo tempo fora do quarto, mas pra mim parecem segundos, ele adentra o meu quarto com uma xícara com Chá dentro.  

-Você precisa se acalmar minha filha, se não você quem vai para o hospital – Ele me entrega a Xícara de chá – A Adeline está preparando algo para você comer – Ele se senta do meu lado e me olha – Sua mãe ficou bem chateada com o jeito que você a tratou! – Faço um barulhinho com a garganta e reviro os olhos – Cecília – Ele está tentando ser gentil ao falar comigo.

-Sei que queria que eu me arrependesse ou fosse pedir desculpas, mas eu não me arrependo, pelo contrário – Tomo um gole do Chá e fico encarando a xícara.

-Independe do que aconteça, ela ainda é sua mãe e tenho certeza que ela não faz isso por mal!

-Você tem razão, mas se algo acontecer a minha avó, saiba que ela também será uma pessoa morta pra mim!

-Eu entendo sua raiva filha, mas isso só te faz mal, você tem que ficar calma e estar bem para quando sua vó consiga falar com você – Beberico mais um gole do Chá e ele fica parado tentando elaborar algo – E se eu pedisse para as suas novas amigas virem te fazer companhia?

-Pai, ainda é dia de semana, amanhã tem aula, acho que a mãe de nenhuma das duas vai deixar elas virem aqui – Olho para ele que faz uma expressão de "idiota essa ideia".

-É, tem razão e se eu ligar para a Anne para ela vir te fazer companhia? Não que eu não sirva, mas tenho medo de falar a coisa errada – Eu dou uma risada fraca e digo que pode ser baixinho, eu prefiro mil vezes ficar sozinha agora, mas eu preciso ser forte pela minha vó, só queria poder estar lá com ela nesse momento – Vou ligar para ela, termine seu Chá.

Meu celular apita várias vezes e eu olho as notificações vendo várias mensagens da minha mãe, reviro os olhos acabo desligando o celular, se eu for responder ela vou acabar piorando a situação, meu pai entra no meu quarto algumas vezes para perguntar como eu estou e para avisar que a Anne já estava vindo, não sei bem no que ela vai me ajudar, mas eu acho melhor mesmo eu ter uma companhia que não seja meu pai ou uma senhora de quase sessenta anos que fica no meu pé pra me alimentar direito, coloco a xícara vazia no criado mudo e me deito novamente olhando para o teto.

-Oi querida, como foi seu dia? – Minha vó me pergunta assim que eu chego do colégio e me jogo no sofá.

-Foi normal – Eu suspiro e olho em volta – Cadê minha mãe?

-Ela... Ela foi no mercado para comprar algumas coisas para o almoço de amanhã – Eu me levanto e ando até ela, colocando a mão na cintura e a encarando

-Vó...

-O que? – Ela diz e se vira indo até o armário pegar um prato – É verdade, você sabe que amanhã é o almoço com a assistente social – Ela me entrega o prato.

-Sim, eu sei, mas... – Não fnalizo a frase e pego o prato – Enfim, sua comida está cheirando tão bom vó!

-Fiz sua mistura preferida, bife a milanesa – Sorrio e a abraço de lado, me sirvo e a olho – Então vó... A senhora acha que a assistente social vai depor a favor ou contra? – Me sento e coloco o prato em cima da mesa.

-Depende, a favor do seu pai conseguir sua guarda e te levar embora ou contra você ir?

-A favor de ele conseguir minha guarda, eu acho!

-Nesse caso, acho que ela ficaria a favor do seu pai – Ela se senta ao meu lado – Quer dizer, eles vão levar em conta tudo o que vem acontecendo e a sua consideração em conta também, o que você quer?

-Não sei vó, por mais que eu goste do meu pai, eu não tenho tanto contato assim com ele, quer dizer, até os meus seis anos ele vivia comigo, mas eu cresci e eu vejo ele duas vezes por ano, isso quando eu o vejo – Suspiro e fico brincando com a comida em meu prato – Aqui é tudo mais difícil, quase todo dia minha mãe arranja briga com o Felipe ou fica fora atrás dele, quase todo santo dia ele chega drogado e bêbado e sabe se lá Deus, como ainda não aconteceu nada com nenhuma de nós duas!

-Não aconteceu nada porque exatamente Deus sabe sim de tudo e se a gente tem fé o resto é detalhe – Ela se levanta – Sua mãe estava conversando comigo e pensando em comprar uma casa para ela e para o Felipe!

-Mas eu teria que ir com ela?

-Claro que não, você pode continuar morando aqui.

Pisco algumas vezes e olho para a porta do meu quarto vendo a Anne parada em frente há mesma com uma caixa cor de rosa na mão, me recupero e passo a mão no rosto.

*Capítulo Revisado

Destinos cruzados: vôo 8.552Onde histórias criam vida. Descubra agora