Capítulo 4

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Meu pai a acompanha até a porta, me sento no sofá e cruzo as pernas, balanço a cabeça em sinal de reprovação assim que ele fecha a porta.

-Tá com fome? Quer pedir pizza? – Ele se senta no sofá pegando o celular.

-Pode ser! – O olho e suspiro –Pai, posso te fazer uma pergunta? – Ele assente ainda com os olhos no celular – Você não está preparado para ter um relacionamento sério ou para se assumir amante? – Ele tira os olhos do celular e me olha com aquela cara de quem vai dar aquele sermão.

-O que? Claro que não Cecília e mesmo se fosse para ser amante, eu sou adulto, sei bem no que me meto – Ele diz bravo.

-Então você é amante dela?

-Claro que não Cecília, se fosse você acha que eu a traria para casa sabendo que tinha o risco de vocês se encontrarem? – Ele arqueia a sobrancelha – Se for sobre o Christian, não é o que você está pensando!

-Hm – Eu deito a cabeça no encosto do sofá olhando para ele.

-Cristian é o filho dela, ela é divorciada para sua informação! – Eu arqueio a sobrancelha – O que é? Ela é divorciada e tem um filho, igual eu sou solteiro e tenho você – Ele faz uma pausa dramática – Eu não sei se estou pronto para assumir um relacionamento agora porque eu ainda não sei nem ser pai direito, antigamente eu te via a cada seis meses ou quando ia para o Brasil a trabalho e não pense que eu queria continuar assim, mas agora você mora comigo, eu sabia que isso aconteceria mas eu esperava que fosse mais pra frente no qual eu estaria mais preparado, eu te vejo todo santo dia e tenho que me acostumar com a ideia de que eu não moro mais sozinho, de que eu não posso chegar tarde, passar o fim de semana fora ou viajar muito tempo porque eu tenho alguém me esperando em casa entende filha? – Eu abaixo a cabeça e assinto fraco – Eu não quero que você fique brava ou se sinta culpada, entendeu?

-Entendi – Dou um sorriso fraco e ele se inclina depositando um beijo na minha testa.

-E então? Pizza? – Assinto e ele liga na pizzaria.

A minha relação com meu pai nunca foi ruim, mas também nunca foi uma das relações mais perfeitas que existem, minha mãe e meu pai se conheceram no oitavo ano e desde então viraram muito amigos e no ensino médio começaram a namorar, estava indo tudo bem até que no meio do último ano do ensino médio minha mãe descobriu que estava grávida e então ambas as famílias ficaram sem saber o que fazer porque não eram ricas e como iriam sustentar um bebê? Sem contar que naquela época minha mãe morava com meus tios e a minha tia havia acabado de ter outro filho e meu pai dependia da minha avó e do padrasto já que meu avô na primeira oportunidade que teve abandonou minha avó e os quatro filhos para vir embora para os Estados Unidos com uma mulher que ele conheceu durante uma viagem de serviço, meu pai começou a trabalhar no horário oposto ao colégio como jovem aprendiz em uma empresa que pagava o suficiente para ajudar minha mãe durante a gravidez e após meu nascimento. 

Os meses passaram, eles concluíram o ensino médio, eu nasci e meu pai foi efetivado na empresa, quando eu estava com dois anos meu pai estava no primeiro ano de faculdade de engenharia e minha mãe trabalhava como organizadora de festas, mesmo nenhum dois dos ganhando muito e meu pai fazendo faculdade, eles resolveram que já estava na hora de irem morar junto, um pouco antes de eu completar seis anos, eles se separaram e meu pai voltou a morar com a minha avó até terminar a faculdade e se estabilizar, meses após ele concluir a faculdade a empresa onde ele trabalhava fez uma proposta para que ele viesse para os Estados Unidos trabalhar como engenheiro júnior, no começo ele cogitou não aceitar porque não queria ficar longe de mim, mas minha avó disse que seria uma ótima oportunidade para ele crescer e me dar o futuro que sempre quis ter e foi assim que ele chegou aqui, começou como engenheiro júnior e alguns anos depois abriu a própria empresa e o sobrenome Rodrigues ganhou força por toda Flórida. Com o passar dos anos, conforme eu crescia, minha relação com meu pai ficou um pouco mais escassa por conta da distância e por eu preferir não manter tanto contato, mas sempre que ele ia para o Brasil a trabalho ele dava um jeito de me ver. Até que que minha mãe resolveu que estava na hora de ficarmos mais próximos da minha avó e nos mudamos para o Rio de Janeiro onde ela acabou se envolvendo com um rapaz... Hm... De procedência duvidosa, eu passei a maioria do tempo com a minha avó porque minha mãe vivia brigando com o mesmo e em algumas vezes ele chegava em casa bêbado ou até mesmo drogado para vê-la, mas meu pai então decidiu entrar na justiça pela minha guarda quando ele se mudou definitivamente para a casa da minha mãe, ele achou que demoraria menos por conta da situação, mas demorou mais de anos para o juiz decidir o que era melhor para mim, enquanto isso eu era criada pela minha avó, o que desfez totalmente meus laços com a minha mãe. 

Destinos cruzados: vôo 8.552Onde histórias criam vida. Descubra agora