"Tallahassee – agora"
Entrego a minha avaliação e a professora autoriza minha saída, vou para a biblioteca em busca de paz, ainda estou com a cabeça preocupada com o que aconteceu durante a madrugada, pego um livro qualquer de romance e me sento em um puf vago no final da Biblioteca e começo a ler, quando ouço a voz de Trevor se aproximar falando com alguém, era só o que me faltava, me encolho no puf e coloco o livro no rosto para tentar me esconder, em vão, ele se despede da garota com quem estava flertando e se senta ao meu lado.
-Está se escondendo por qual motivo? Não sabia que não mordo?
-Olha, não sabia não, ainda bem que você me contou – Reviro os olhos e abaixo o livro – Estava me escondendo rezando para que você fingisse que não conhecia minha existência igual tento fazer com a sua e do seu amigo!
-Sabia que eu fico ofendido com esse tratamento? – Ele faz um beicinho triste – Só queria conversar com a minha nova orientadora!
-Pois saiba que eu não sinto verdade no que diz – Vou para me levantar, mas ele segura a minha mão e me olha.
-Eu também não sentiria se fosse você – Ele começa a rir e solta minha mão, sinto vontade de pular em seu pescoço.
Saio andando e o largo sentado no puf, respiro fundo e vou para o refeitório, adentro o mesmo e vou em direção a máquina de guloseimas, pego um Doritos e uma Coca-Cola e ando em direção a mesa das meninas, me sento no longo banco de madeira e olho para elas.
-Uau, parece que você virou a noite fora e veio para o colégio sem dormir – A Lauren diz assim que me vê.
-Como você é insensível Lauren, ela não teve uma noite muito boa – Emma diz dando um tapa de leve em seu braço – Mas realmente amiga, tá pior do que a hora que viemos para o colégio, eu ainda apoio a ideia de você ir embora descansar, a gente avisa a professora de história que você não estava se sentindo bem!
-Como sempre tão sensível Lauren – Eu digo com um tom de deboche e ela ri – Eu sei amiga, tentei dormir na aula de língua inglesa, mas acho que só piorou a situação, pensei em pedir pro meu pai pra eu sair mais cedo mesmo, mas não queria ir embora ficar sozinha, queria conseguir ligar para falar com a minha vó, to morrendo de saudade dela.
-Não seria delas? – Ouço o questionamento da Lauren enquanto abro meu Doritos.
-Ahn?
-É que você disse dela, mas não seria delas? Da sua mãe e da sua avó?
-Ah, não, eu realmente estou com saudade da minha avó ela quem me criou praticamente, eu mal via minha mãe, quando ela não estava trabalhando, estava correndo atrás do meu padrasto pelos bares ou pelas vielas do Rio de Janeiro – Dou de ombros e coloco uma porção de Doritos na boca.
-Que pesado amiga – A Emma diz e me abraça de lado.
-Tá tudo bem amiga, o importante é que agora estou protegida vivendo com meu pai, só sinto pela minha avó que tem que viver com a minha mãe e ver o que ela se tornou...
Após o almoço, vou até meu armário guardar alguns livros que já usei e pego os que pretendo usar nos últimos horários, quando sou surpreendida pela Cristal me chamando.
-Era você mesma quem eu estava procurando – Me assusto – Seu pai está na secretaria e veio te buscar mais cedo.
-Tem certeza Cristal? - Fecho a porta do meu armário.-Ele disse que achou melhor te buscar porque você acordou um pouco indisposta e só veio pela prova – Ela me encara – Pela sua carinha, você realmente não está bem, tem que descansar mesmo, vamos? – Eu assinto e sigo ela enquanto tento entender porque meu pai saiu do serviço só para me buscar no colégio, algo realmente aconteceu.
Me despeço da Cristal e sigo meu pai pelo estacionamento até o carro, entro no lado do carona e jogo minha mochila para trás, metade do trajeto o carro fica em silêncio constrangedor, então decido dormir até chegar em casa, assim que chegamos, jogo a mochila de canto e subo direto para o meu quarto, tiro minha roupa e a jogo de canto, vou até o closet e pego um conjunto de moletom qualquer e o visto, volto para o quarto e me jogo na cama.
-Cecí? Está acordada? - Meu pai diz batendo a porta.
-Estou sim, pode entrar – Me sento na cama e ajeito o edredom.
-Só passei para avisar que vou ao banco resolver algumas coisas da empresa, mas antes de ir queria saber como você está e a Adeline pediu para perguntar se você deseja algo do mercado!
-Eu acho que estou bem - Faço uma careta confusa – Na verdade, pode pedir para ela comprar alguns salgadinhos e doces para o fim de semana?
-Ok, mas o que tem no fim de semana?
-Esqueci que ainda não falei com você sobre, mas a Lauren pediu para dormir aqui no próximo fim de semana enquanto os pais viajam, ela pode?
-Mas é claro Cecí, estou gostando de ver que fez amigas – Ele sorri – Agora vou deixar você descansar, eu não demoro a voltar!
-Tem mais uma coisa, será que depois você pode ligar para os pais da Lauren e dizer que não tem problema algum ela ficar aqui?
-Claro, mais tarde fazemos isso – Ele beija minha testa – Agora descansa.
"Brasil – atualmente"
Após passar a manhã toda correndo com a papelada para transferir minha mãe para um hospital particular, decido ir em casa tomar um banho e buscar algumas roupas assim que consigo finalizar a transferência dela para um hospital no centro do Rio de Janeiro. Assim que entro em casa dou de cara com Felipe dormindo no sofá, me aproximo e dou um tapa em sua perna, o fazendo acordar num pulo.
-Passou a noite toda fora? Onde estava? - Sinto o cheiro de bebida longe fazendo com que meu estômago embrulhe.
-Eu passei a noite fora? - Sinto meu sangue aquecer – Eu estava aqui o tempo todo, até o Wesley aparecer aqui e me ameaçar, por sua culpa – Altero meu tom de voz.
-Como assim minha culpa? – Ele se levanta e altera a voz se aproximando.
-Sim, sua culpa, porque você está devendo até as calças para aquele marginal e eu que não fazia nem ideia quem paguei o pato – Eu perco totalmente a paciência e começo a gritar.
-O que ele fez?
-O que ele fez? – Eu imito ele – Ele invadiu minha casa, apontou uma arma para a minha cabeça, depois para a cabeça da minha mãe – Aponto para a o furo no chão – Ele atirou na direção da minha mãe como ameaça e ela teve um infarto por conta do susto - perco totalmente a paciência e começo a gritar.
-Para de gritar por favor, parece que minha cabeça vai sair do lugar – Ele coloca a mão na cabeça e eu sinto uma vontade de pular em seu pescoço – Eu vou pagar a ele tudo o que devo!
-E como? Se nem em um trabalho você para – O empurro para o sofá - Não se preocupe, eu dei meu jeito para arranjar o dinheiro, estou indo para o hospital e mais tarde eu volto para entregar o dinheiro para ele e eu juro por Deus que se eu descobrir mais alguma dívida ou envolvimento seu com esse Wesley ou qualquer um que não valha, eu te chuto para fora dessa casa tá me entendendo? – Eu chego perto dele o suficiente para sentir mais forte o cheiro de álcool.
-Você não seria capaz você sempre diz a mesma coisa – Ele diz em tom de deboche.
-Eu não estou brincando, estou farta de aguentar você, suas manias e promessas de mudança, eu estou farta que por sua culpa eu perdi a guarda da minha filha e por sua culpa minha mãe está internada e quase morreu, eu quase levei um tiro por sua culpa – Digo entre berros e lágrimas, me afasto, abro a porta do quarto e viro para ele que continua no sofá – Espero que a hora que eu voltar para entregar o dinheiro para aquele traste você esteja sóbrio e aqui porque se for pra acontecer alguma coisa tem que acontecer com você - Entro e bato a porta do quarto.
*Capítulo Revisado
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Destinos cruzados: vôo 8.552
RomanceCecília viu sua vida virar de cabeça para baixo quando seu pai ganhou sua guarda e ela se viu obrigada a ir morar com ele nos Estados Unidos por conta de seu serviço, mas ela nem imaginava que com essa mudança conheceria suas melhores amigas e passa...