Capítulo 5

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Subo para o meu quarto após agradecer a Ade e dar boa noite, me deito para tentar dormir mais um pouco, em vão, fico rolando de um lado para o outro até meu celular despertar, desligo o alarme e fico mais alguns minutos na cama criando coragem para enfrentar mais um dia que vai vir, me levanto e vou em direção ao banheiro para tomar um banho e me arrumar, durante o banho tento me convencer de que realmente foi só mais uma briga entre minha mãe e meu padrasto e que já está tudo bem. Saio do banheiro e vou até a janela do quarto, abro a cortina e vejo que o dia resolveu ficar chuvoso, olho a previsão do tempo no relógio digital, máxima de 10ºC, ótimo, frio o dia todo, vou em direção ao closet, pego uma calça jeans lisa, uma blusa de manga longa térmica e o moletom do uniforme da escola, termino de me vestir e penteio meu cabelo o deixando solto, mando mensagem para a Emma pedindo uma carona, não estou afim de andar nesse frio até o ponto para pegar o ônibus, ela responde dizendo que chega em vinte minutos, coloco uma meia quente e minha bota de cano curto, pego meu celular e desço em direção a cozinha, entro e vejo meu pai sentado tomando café.

-Bom dia – Digo e me sento ao seu lado, se ele quer fazer parecer que está tudo bem, então vamos agir como se estivesse tudo bem.

-Bom dia, você está bem Cecília?

-Sim, por quê? – Pego uma tigela e coloco cereal.

-Está com uma carinha de cansada – Deve ser porque acordei no meio da madrugada com você berrando no telefone com a minha mãe, penso comigo e continuo encarando o cereal.

-É porque eu acordei de madrugada e depois voltei a dormir e acordei novamente – Como um pouco de cereal.

-Se quiser eu ligo na escola autorizando sua saída após a prova para descansar.

-Não precisa, tá tudo bem, hoje eu tenho uma reunião após a aula – Ele assente com a cabeça enquanto leva a xícara de café a boca.

-Você vai se sair bem, preciso ir, tenho uma reunião daqui a pouco, quer carona para o colégio?

-Já pedi carona a Emma, logo ela chega! – Ouço a campainha e como mais um pouco de cereal – Falando nela – Sorrio vendo a ruiva adentrar a copa e ajeitar seu cabelo que estava bagunçado por conta da ventania lá de fora.

-Bom dia Cecília – Ela sorria para mim – E bom dia Sr. Rodri... – Ela fica boquiaberta por um instante e se recompõe – Uau, amiga nunca me disse que seu pai era novo e gato – Ela sussurra e meu pai ri, talvez ela não tenha noção de que isso não saiu como um sussurro.

-Bom dia, deve ser a Emma – Ele diz rindo – Obrigado pelo elogio – Meu pai diz se levantando – A Cecília tinha que puxar a beleza de alguém né! – Convencido.

-Oh sim, concordo plenamente, agora eu acredito quando dizem que alguns brasileiros têm sorte na genética! – Meu pai volta a rir e eu dou um tapa de leve no braço da Emma – Ai, eu só falei a verdade!

-Toma vergonha na cara Emma, ele tem idade para ser seu pai, literalmente – Eu digo rindo e ela me mostra a língua.

-Deixa de ser ciumenta Cecí, ela só está me elogiando – Meu pai diz enquanto se aproxima – Preciso mesmo ir se não vou me atrasar, aliás, me manda uma mensagem quando estiver saindo que eu passo para te buscar! – Eu arqueio a sobrancelha e assinto com a cabeça, ele se inclina e deposita um beijo em minha testa, pega sua bolsa e acena para Emma saindo.

-Já está pronta Cecí? O trânsito fica horrível em dias assim!

-Só preciso escovar o dente e já vamos – Eu termino de comer e me levanto saindo da cozinha.

Chegamos na escola faltando dez minutos para o primeiro tempo, bocejo e olho o celular.

-O que aconteceu? Passou o caminho todo quieta e está com uma carinha de abatida, não dormiu bem? – Emma diz e desce do carro.

-Não sei, esse é o problema, não sei o que aconteceu – Coloco meu capuz para me "proteger" do chuvisco que caia.

-Como assim? – Ela me olha preocupada enquanto ajeito minha mochila nas costas.

-Eu acordei de madrugada com meu pai berrando no telefone com a minha mãe e quando eu perguntei o que aconteceu ele me disse que não foi nada que ela só teve outra briga com meu padrasto – Olho para ela – Mas ela não ligaria para ele só pra contar que teve outra briga com meu padrasto, ela nunca fez isso e ai ele pediu pra Ade me dar um chá e me mandou dormir!

-Cecí – Ela suspira – E você voltou a dormir?

-Não, fiquei rolando de um lado pro outro até o relógio despertar, mas o ponto é descobrir o que aconteceu – Bocejo e passo a mão no rosto.

-Deveria ter ficado em casa então Cecília!

-Não posso, eu tenho prova de biologia na terceira aula e tenho que começar as aulas do Adam e do Trevor!

-Cecí, você não tá bem, faz a prova e vai embora, enquanto ao Adam e o Trevor, capaz de eles nem aparecerem! – Entramos no pátio e eu mordo o lábio pensativa.

-Preciso pensar, caso não melhore, vou embora!

-Uhum... Nos vemos no almoço – Ela diz saindo em direção a sala de aula e eu vou para o caminho contrário.

"Brasil – horas antes"

-Eu já tinha avisado antes Melissa de que se o Felipe não me não pagasse o que deve e voltasse a comprar droga fiado com os meninos eu mesmo ia resolver isso com ele – Fico encostada na parede olhando para a arma apontada em minha direção e sinto as lágrimas caindo.

-Mas eu tenho culpa de nada Wesley, ele tinha me dito que tinha pagado tudo o que te devia e que não voltaria a relar um dedo sequer em qualquer tipo de droga – Eu digo entre soluços enquanto rezo mentalmente para que nada me aconteça.

-Eu não quero saber quem tem culpa ou deixa de ter – Ele diz e aproxima mais ainda a arma sobre o meu rosto – Se ele prometeu ou deixou de prometer, eu quero a grana Melissa – Ele continua gritando.

-Eu vou dar um jeito, só para de gritar para não acordar a minha mãe, ela, assim como eu, não tem culpa de nada disso! – Peço entre soluços, durante minhas orações de socorro, agradecendo por saber que a Cecília está segura em outro lugar.

-O que está acontecendo aqui? – Minha mãe sai do quarto gritando e vendo a cena – Quem é você?

-Mãe, está tudo bem, volta para o quarto, já está tudo resolvido – Digo olhando para o Wesley que agora tem a arma apontada para a minha mãe – Abaixa isso, por favor!

-Não tem nada resolvido, enquanto eu não receber meu dinheiro.

-Por favor, me dê mais vinte e quatro horas e eu prometo que vou pagar tudo o que aquele imprestável deve – Eu imploro e me aproximo da minha mãe pegando em sua mão – Só mais um dia!

-Você tem exatas doze horas para me pagar, caso contrário – Ele atira no chão na direção da minha mãe e sai batendo a porta, eu dou um grito com o barulho de tiro e quando olho para a minha mãe a vejo desmaiada no chão, pálida, começo a gritar por socorro e me sento ao seu lado, uma vizinha entra correndo e pega o telefone ligando para a emergência, fico sentada ao seu lado chorando – Mãe, acorda, por favor, mãe – Chacoalho o corpo mole dela e vejo ela voltar aos poucos, quase meia hora depois a ambulância chega.

*Capítulo Revisado 

 

Destinos cruzados: vôo 8.552Onde histórias criam vida. Descubra agora