Capítulo XXVI - Monólogo

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⚠️Aviso de gatilho⚠️

- Automutilação
- Sangue

Se for sensível a estes temas, por favor não leia.

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Corria o mais rápido que suas pernas e sedentarismo permitiam. A respiração ofegante piorava a cada passo tornando cada vez mais difícil respirar, mas não pararia até que estivesse se sentindo seguro.

Suas pernas fraquejavam, seus pés doíam, seu peito parecia que ia se rasgar pelos batimentos cardíacos acelerados e fortes, um nó havia se formado em sua garganta e seu rosto estava molhado pelas lágrimas que não conseguiu segurar. Esbarrava nas pessoas e em algumas coisas pelo caminho devido a visão embaçada causada pela água em seus olhos, e tropeçava nos próprios pés na corrida; acabava chamando atenção das pessoas para si.

Abriu a porta da casa com tudo e a trancou, em seguida indo ao tropeços para o quarto. Trancou a porta, fechou a janela e cortinas, empurrou a cama para frente da porta para que não fosse aberta e caiu no chão com as pernas queimando.

A garganta e os pulmões queimavam, sua cabeça doía, os batimentos acelerados, a respiração ofegante, o rosto vermelho e o tremor pelo corpo eram devidos pela corrida, choro e mais uma crise que se iniciava.

Seu peito subia e descia rapidamente enquanto tentava desesperadamente e (in)utilmente buscar todo o oxigênio do quarto para poder respirar, este que, para si, estava escasso e não parecia o suficiente. Arrastou-se pelo chão até que encostasse as costas contra a parede fria do quarto.

— Por que? Por que? Por que?— olhava para o teto— Por que não me deixa em paz?! Por que sempre volta? POR QUE SEMPRE ME ASSOMBRA??!— esticou o braço para o lado e socou a parede com força usando a lateral da mão— POR QUE? POR QUE? POR QUE? POR QUE?— a cada questionamento batia novamente na parede com mais força a cada golpe— Eu só quero... ser feliz— sussurrou, se encolheu e debulhou-se em lágrimas.

Chorava tanto que chegou a soluçar e não conseguia respirar direito, estava tremendo de medo. Apertou as unhas contra a carne do braço, próxima ao ombro, arranhando a pele e deixando marcas, mesmo por cima da blusa.

Chorava em silêncio no canto do quarto. Os únicos sons que era possível se escutar eram seus soluços, sua respiração pesada e sôfrega junto aos batimentos cardíacos.

Quando o choro cessou e já podia respirar normalmente levantou o olhar, olhava para um ponto qualquer daquele quarto escuro. Quando, de repente, se lembrou de algo, olhou na direção de onde o objeto se encontrava guardado.

Fechou os olhos com força e sacudiu repetidamente a cabeça para afastar o pensamento que estava tendo. Se levantou, acendeu a luz e caminhou até o espelho que tinha no quarto.

Tirando sua blusa de mangas compridas e a calça e olhando seu reflexo. Seu corpo sempre fora magro e baixo demais para sua idade pela quantidade de tempo que ficava sem ingerir algo sólido ou nutritivo em sua infância, sua pele era pálida por sempre usar roupas que o cobria quase por completo e não sair com frequência e suas cicatrizes; muitas marcas de diferentes datas.

Roxos espalhados pelo corpo, cortes, marcas vermelhas, queimaduras e seu mais novo arranhão próximo ao ombro. Virando-se pode ver suas costas marcadas. Olhando novamente de frente, tocou primeiro a cicatriz de sua testa escondida pela maquiagem e desceu a mão pelo rosto com o indicador passando sobre os lábios, levando para o machucado e, por último, passou as pontas dos dedos por cima das marcas...

Sentiu as lágrimas voltarem, mas não as deixou cair.

Virou-se para o guarda-roupa e caminhou até o mesmo, enfiou a mão por debaixo de uma pilha de roupas bem dobradas e tirou de lá um canivete que, quando aberto, tinha o tamanho de sua mão.

Sentou-se novamente no chão e, sem ao menos pensar no que estava prestes a fazer, pressionou a lâmina fria sobre a pele devagar fazendo um corte.

Um, dois, três, quatro... sete... nove...

Quando se deu conta do que estava fazendo parou e jogou o objeto afiado para longe de si. Tapou o local cortado com a mão e logo esta estava completamente suja com seu sangue.

Um sentimento de culpa o invadiu, a culpa sempre vinha após o alívio momentâneo. Jogado naquele chão chorou novamente até ficar completamente sem forças.

Acordou de um pequeno cochilo que acabou tendo e decidiu limpar tudo. Vestiu sua calça e arrastou-se de um lado para o outro limpando e organizando tudo, mas manteve a porta da frente trancada.

Ao acabar, se jogou na cama e ergueu o braço para olhar o local onde havia enfaixado. O sangue começava a passar pelas faixas, logo teria que trocá-las.

— Você é patético, Gaara— sussurrou para si e abaixou o braço, o mantendo em cima de seu abdômen— Quantas vezes eu já não fiz isso? Já até perdi a conta...

Virou-se na cama.

— Sempre faço isso p'ra não ter que sentir as coisas... se bem que, eu merecia— fechou e abriu a mão lentamente três vezes— afinal eu sou culpado de muitas coisas, não é?— seus olhos se encheram d'água novamente— se não fosse por mim mamãe ainda estaria aqui e meus irmãos e Rasa seriam mais felizes, se eu tivesse ido no lugar dela não teria colocado um fim na família de Rasa... Vovó teria menos despesas, não olhariam feio p'ra Matsuri, meus irmãos não teriam cicatrizes também e o Naruto...— engoliu em seco— ele estaria feliz com o Sasuke, sem eu p'ra atrapalhar...

Se encolheu levando as mãos ao peito e chorando outra vez, em posição fetal.

Odiava. Odiava o sentimento de culpa, tristeza e solidão que o assolava. Detestava mais ainda o medo proeminente que o arruinava e dava-lhe calafrios sempre que sequer pensava ou visse algo que o lembrasse minimamente dele.

Queria conseguir voltar a respirar normalmente, queria não se assustar com pequenas coisas e, acima de tudo, queria se sentir merecedor de todo amor que recebia da família e amigos; para si apenas estavam perdendo tempo e energias consigo.

Não era capaz de dizer o quão cansado emocionalmente e psicologicamente se encontrava no momento. Pensou em dormir, mas sua cabeça doía tanto que não conseguiu e foi obrigado a lidar com os próprios pensamentos terríveis.

Procurou o celular na esperança que colocar uma música no último volume do fone de ouvido e se distrair por um instante. Encontrou o aparelho e viu que não passava das três da tarde, seu surto de ansiedade não devia ter durado mais que dez minutos, porém como passou tanto tempo e nem ao menos notou? Era o que se perguntava.

Demoraria mais algumas horas até que todos que residiam naquela casa chegassem; daria tempo para se recuperar ou, pelo menos, fingir que nada havia ocorrido.

Pegou seus fones e ligou uma música de uma banda de rock qualquer, cujas músicas já tinham um volume alto, e colocou o volume no máximo. Alguém do outro lado do quarto podia ouvir perfeitamente o som e era exatamente isso que queria, sem espaço para que os seus pensamentos e sentimentos fossem escutados por si.

Não se lembrava de quando havia pegado no sono, mas acordou com batidas na porta da frente da casa. Desligou a música que, por algum motivo, era um lo-fi muito calmo. Vestiu sua blusa de frio, foi ao banheiro e jogou água no rosto, olhou seu reflexo e constatou que sua olheira aumentaria, abriu a porta e viu Chiyo com uma sacola de papel da padaria.

— Trouxe pão recheado! Sei que você gosta— falou com um sorriso e logo adentrou na casa.

Sorriu mínimo, empurrando seu resquício de culpa, ao ver o carinho da avó consigo.



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'Coé!

Pequenas dicas caso alguém tenha uma crise próximo a você:
1- ajude a pessoa a controlar a respiração e se acalmar.
2- em hipótese alguma deixe essa pessoa se machuca e, se necessário, a imobilize até que ela se acalme. Não solte mesmo que você receba umas pancadas.
3- Não deixe a pessoa sozinha.
(Essas funcionam comigo, mas podem variam de pessoa para pessoa. Vale a tentativa).

É isso aí, cuide dos coleguinhas.



Fanfic pode ter final triste, sabiam?..

Querem que eu troque a classificação da fic para ter, pelo menos, um hot?

Obrigado por ler!

🌈🍉✨

Remédio - (Gaanaru - Narugaa)Onde histórias criam vida. Descubra agora