Capítulo XXXIX - "A outra coisa"

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 Estava parado em frente ao espelho apenas de cueca assim que saiu do banho, observando seu corpo. Cada marca ou cicatriz feita por si mesmo ou outra pessoa, se destacavam em sua pele e pareciam queimar quando as olhava demais. Odiava todas elas com cada parte de seu ser.

Quando se deu por si estava chorando agachado no chão, em frente ao espelho e com alguém batendo freneticamente à porta enquanto chamava seu nome. Apenas soltou as pernas, as deixando esticadas no chão, para poder respirar melhor. Queria abrir a porta para quem quer que fosse, mas tremia tanto e não tinha forças para levantar.

Ficou chorando, tremendo e soluçando enquanto sua respiração ficava cada vez mais ofegante.

— Por que?... Por que?... 'Tava tudo... tudo bem...— murmurava entre soluços e inspirações profundas enquanto segurava seus cabelos com força, os puxando— Não aconteceu... nada, então... por que?

Sentiu braços abraçando sua cintura e o puxando para o colo de sua irmã. Temari e Kankuro haviam escutado o choro de Gaara e tentaram entrar no quarto, ao não conseguirem passar pela porta pularam a janela que só estava com as cortinas fechadas.

Ela tirou as mãos do ruivo de seu cabelo e as segurou para que ele não voltasse a se machucar. O ajudou a controlar a respiração para se acalmar.

— Eu não consigo! Eu não consigo! Eu não consigo!— repetia entre soluços— eu não quero mais ver ele de novo. Não quero. Não quero. Não quero.

— Tá tudo bem, Gaara. Não precisa ver ninguém— o abraçou.

— Eu tentei, Temari. Tentei de verdade, mas não consigo.

— Tudo bem, não tem que fazer nada que não queira— o tranquilizava enquanto Kankuro não voltava.

Quando estava melhor o irmão voltou para o quarto com um olhar preocupado e uma xícara de chá nas mãos. Gaara bebeu devagar enquanto se acalmava mais.

— Aqui, Gaara!— entregou o pijama e pegou a xícara vazia das mãos do mais novo— quer conversar sobre o que aconteceu?

Negou com a cabeça.

— Tudo bem. Mas estamos aqui se quiser falar conosco, ok?

Apenas concordou com a cabeça olhando para baixo, estava chateado por deixar seus irmãos preocupados consigo. Só conseguiu fazer seus irmãos o deixar dormir sozinho depois de garantir diversas vezes que estava melhor e que ao menor sinal de que ficaria mal de novo os chamaria, além de garantir que deixaria a porta destrancada.

Sua cama, naquela noite, nunca esteve tão grande, se sentia minúsculo e desconfortável. Acabou se enrolando na coberta e levando o travesseiro até a porta do guarda-roupa, onde tirou as roupas e dormiu lá dentro.


[...]


— Gaa? Sua 'vó falou que eu podia entrar e... ué?— olhou o quarto à procura do amigo. A cama estava desarrumada e sabia que o ruivo apenas saia depois de arrumá-la— Gaara..? Onde você 'tá?— olhou debaixo da cama e atrás do guarda-roupa.

Abriu a porta do móvel e viu o amigo adormecido, parecia calmo. A claridade fez o ruivo abrir os olhos devagar, franzir a testa e se encolher mais.

— Bom dia, amigo! Sua avó comprou o pão que você gosta e 'tá te chamando p'ra tomar café.

— Hun? Uhum!— saiu de onde estava, se levantou e se alongou. Bocejou enquanto coçava os olhos com as mãos fechadas— Bom dia..— falava meio sonolento.

Remédio - (Gaanaru - Narugaa)Onde histórias criam vida. Descubra agora