Eu não disse que voltava?
E aí, preparados?
(...)
A afirmação da mulher fez Marcela franzir as sobrancelhas sem querer, mas preferiu permanecer quieta e observar qual seria a reação da morena sentada a sua frente. Nesse meio tempo, foi impossível não reparar o quanto ela era bonita. Tinha os cabelos cor de mel e olhos escuros, portando calça jeans bem justa e uma blusinha branca que deixava a barriga a mostra.
Pela expressão que Gizelly não conseguiu esconder, era nítido que ela reconhecia a mulher. Marcela só não tinha entendido o porquê ela havia sido chamada de Joana.
- Não fale essas coisas na frente do bebê - a morena se levantou e ficou em pé de frente para a mulher, as sobrancelhas franzidas.
- É sério que você não se lembra de mim, Joana? - A mulher ignorou.
- O nome dela não é Joana - Bernardo disse, emburrado por não ter mais a atenção de Gizelly para si.
Pela primeira vez Marcela não riu do que o filho falou, embora fosse engraçado.
Estava nítido na cara da sargento que ela não sabia o que fazer a respeito disso, mas notou que ela reprimiu um sorriso com a afirmação irritada do pequeno.
- Eu estou um pouco ocupada... - Gizelly não conseguia mesmo lembrar o nome dela, estava tentando, mas era inútil.
- Tamires - ela revirou os olhos e Marcela quase fez o mesmo da cadeira.
Só então ela pareceu ter visto a loira e franziu as sobrancelhas, notando o quão parecido eram os dois, Marcela e Bernardo.
- A gente se fala outra hora - Tamires tirou um papel do bolso e entregou para a sargento. - Acredito que não tenha mais meu número. Me liga qualquer dia, eu vou fazer você se lembrar.
Dito isso, ela arriscou um beijo na bochecha, cheio de segundas intenções, mas a sargento afastou o rosto. Então Tamires deu as costas e sumiu do estabelecimento na mesma rapidez que se materializou ali dentro. Gizelly, ainda de sobrancelhas franzidas, sentou de volta na cadeira e pousou seus olhos na loira.
- Desculpa por isso - foi a única coisa que conseguiu dizer.
O desconforto dela era tão grande que Marcela decidiu quebrar o gelo. Não iria ficar irritada por terem atrapalhado o almoço, apesar que no fundo sabia que ela tinha uma leve parcela de culpa sobre isso.
- Está tudo bem - e se virou para o filho. - Vem cá, meu amor, deixa a mamãe te ajudar - pegou o potinho de sorvete, mas o pequeno de cabeleira dourada capturou a colher primeiro e ofereceu para Gizelly.
- Ajuda o Bê, sagênto?
Marcela se surpreendeu e riu.
- Que história é essa de sagênto? - Perguntou para ele, sem modificar o erro fofo da última palavra.
- Eu ajudo - Gizelly ofereceu a mão para pegar a tigela e a mãe do pequeno entregou a ela, a expressão surpresa.
Ver Bernardo se dar tão bem com outra pessoa era gratificante. Dava para ver que Gizelly não tinha experiência nenhuma com criança, a mão tremia ao oferecer um simples sorvete na colher, mas percebia que ela estava apreciando tanto quanto ele. Era bonito de se ver, conseguia perceber uma inocência que há muito esteve trancada nos alicerces mais profundos da alma da morena.
Quando terminaram, o pequeno estava todo lambuzado de sorvete e por isso o levaram até o banheiro para limpar. Então, com ele no colo, Marcela terminou de contar o depoimento e a sargento anotou tudo que precisava.
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A Informante
Historical FictionSer mulher dentro do departamento de polícia nunca foi um trabalho fácil, mas Gizelly sempre foi uma pessoa que nunca de fato se importou com isso. Destemida e com a vida pessoal repleta de cicatrizes mal curadas, ela se vê responsável por um caso g...