Olha quem voltou?
FELIZ ANO NOVO, MEUS AMORES!
(...)
Gizelly sonhou com a família adotiva, com as tardes que brincava ao lado do irmão. Foi acordada por Marcela no meio da madrugada para tomar remédio, mas não se lembraria disso e nem mesmo do sonho.
Já era de manhã quando abriu os olhos por vontade própria. O sol entrava com força pela janela da frente, que dava vista para a imensidão de pasto da fazenda. Os passarinhos cantavam, causando uma sensação de acolhimento e paz impressionante.
Seu corpo estava um pouco mais leve que ontem, mas ainda sentia uma suave dor de cabeça. Piscou um par de vezes e tirou o lençol fino de cima do corpo, notando que vestia um conjuntinho leve e folgado de dormir, provavelmente de Marcela.
Marcela?
Franziu as sobrancelhas, tentando se lembrar o que tinha acontecido depois do almoço de ontem. Poucas coisas passavam por sua cabeça, mas a maioria era um apaga completo.
Com um pouco de dificuldade, se sentou no colchão macio. No quarto não tinha muita coisa. A cama de casal era espaçosa, de mandeira antiga, assim como o guarda-roupa. Havia uma mesa de estudo com uma cadeira também velha, a que tinha sentado no dia anterior. Quadros espalhados mostravam Marcela com a família em idades diferentes. Gi se sentiu tentada a se levantar e observar mais de perto, mas a porta do quarto abriu antes que pudesse tentar.
Marcela entrou com uma bandeja de plástico e um sorriso montado no rosto. Ela caminhou até a cama e colocou um objeto sobre o colchão, ao lado da sargento. Tinha mão, frutas, café puro e até vitamina.
- Bom dia.
- Bom dia - Gi respondeu. - Quanto tempo eu dormi?
- 18 horas.
- Isso tudo? Me deu calmante de novo?
A loira riu e pegou o copo com vitamina de morango.
- Bebe, você precisa se alimentar bastante.
- Não quero isso - fez cara feia.
- Ah, não, você delirando de febre está muito mais compreensiva - ela pegou o copo e colocou na mão da sargento. - Bebe essa porcaria.
Gi revirou os olhos e pegou o copo, notando-a se levantar e ir ir até a mesa onde estava os remédios. Pegou os comprimidos da mão dela e jogou para dentro com o auxílio do líquido cremoso, que até que serviu perfeitamente para abrir o seu apetite. Havia dormido muitas horas e estava morrendo de fome. Começou pelas uvas e depois comeu as duas fatias de pão, deixando por último o café. Era observada o tempo inteiro por um par de olhos castanhos claros.
Quando finalmente terminou tudo que tinha na bandeja, Marcela voltou a sorrir.
- Muito bem.
- Obrigada, eu estava morrendo de fome - conversou, comendo uma última uva verde.
- Como você está se sentindo? Está com dor?
- Eu estou bem, o que aconteceu?
- Antes ou depois de você me chamar para tomar banho com você?
- Quê? - Por incrível que pareça, a sargento corou de leve. - Para de gracinha.
- Você estava delirando de febre, eu relevei - mais um sorriso encantador. Gi não conseguiu evitar e baixou os olhos para fitar os lábios rosados.
Por mais que quisesse finalizar a enorme distância entre as bocas, Gizelly sabia que precisavam conversar. Estavam agindo como se nada tivesse acontecido, o que de fato não era saudável. As coisas que disseram uma para outra no último desentendimento não era algo para ser deixado para lá. Parte de seu corpo ainda não confiava nela, mesmo depois de todo o apoio, de toda ajuda, mas a outra parte lutava contra, tentando convencer que o certo era perdoar tudo que ela tinha feito, que no fundo ela não passava de uma idiota, não uma traidora, muito menos cúmplice de assassinato.
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A Informante
Historical FictionSer mulher dentro do departamento de polícia nunca foi um trabalho fácil, mas Gizelly sempre foi uma pessoa que nunca de fato se importou com isso. Destemida e com a vida pessoal repleta de cicatrizes mal curadas, ela se vê responsável por um caso g...