Capítulo- 8

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                        Hellena on

Iria passar direto pelos meus pais falando baixo na cozinha, mas logo que escuto uma terceira voz, paro e volto alguns passos para conseguir ver quem é.

- Bom dia, estrela!- A mulher alta com cabelos ruivos iguais aos meus, disse alto para que eu pudesse ouvir.- Não vai dar um abraço na sua irmã?

- Você perdeu o direito de me chamar assim, quando foi embora e nos deixou enterrados na merda, Elizabeth.

Não costumo ser rancorosa, mas no nosso pior momento ela nos deixou...ela me deixou.

Subo as escadas e vou para o meu quarto, com Cérbero bem atrás de mim. Eu só quero dormir, se ela tiver voltado, farei o possível para que não andemos pelo mesmo caminho. Não estou pronta para perdoa-lá só porque finalmente deu as caras em casa. A nossa irmã mais nova morreu, e ela simplesmente foi embora sem pensar no que estava deixando para trás, porra! Éramos grudadas e ela me deixou aqui, sozinha, sem ninguém para ser o meu apoio enquanto eu fui o dos meus pais.

Tiro minhas roupas e pego uma camisa social que Eros deixou aqui em casa, finalmente a coloco em meu corpo e me jogo na cama, perdida nos meus pensamentos e cercada por um ódio desconhecido por mim. Como ela tem coragem de aparecer agora, depois de ter fugido de nós à anos atrás!.

Minha doce Merida, você não merecia nada disso. E sei que agora você estaria muito triste pela forma que tratei Elizabeth, mas ela virou as costas para mim, quando eu perdi o único motivo que me mantinha viva por dentro, a minha luzinha.

- Posso entrar?- Elizabeth disse abrindo a porta e eu simplesmente a olhei, seu olhar era triste, mas eu não consigo ceder assim.

- Já entrou, me diga logo o que quer. Preciso dormir.- Eu realmente precisava dormir, estava acabada.

- Eu precisei ir embora...seria apenas um peso para vocês. Um dia você vai entender.

- Problema seu, se veio me dar explicações pelo seu sumiço repentino, depois da droga da nossa irmã mais nova ter morrido, não seja tão vaga.- Me levanto da cama na velocidade da luz, transmitindo a raiva que sentia, pelo meu olhar na direção da mulher a minha frente.- Não sou mais a merda de uma criança, ela era, eu não. Se quiser me dizer algo, me diga como uma adulta e pare de fugir apenas uma vez na sua droga de vida, Elizabeth!.

- Eu sou lésbica, Hellena! Na época estava me descobrindo, e fiquei com medo de jogar a bomba em cima dos meus pais no pior momento deles.- Ela gritou recuando enquanto eu me aproximava.

- E eu sou panxesual, Elizabeth! Mas a minha sexualidade não me tirou daqui, a minha sexualidade não fez eu virar as costas para as únicas pessoas que me amaram quando eu estava destruída. Você veio para cá agora se assumir por achar que nossos pais estavam melhoras? - Elizabeth me olhou assustada quando dei uma gargalhada alta.- Adivinha só, ELES NUNCA VÃO ESTAR. PORQUE A FILHA DELES, UMA CRIANÇA, FOI ASSASSINADA E ABUSADA POR UM MANÍACO. E O PIOR DA SUA PARTIDA, FOI A PREOCUPAÇÃO QUE SENTIMOS, POR VOCÊ NÃO DAR NOTÍCIAS DURANTE UM MÊS!. VOCÊ SUMIU DAS NOSSAS VIDAS E NÃO DEU SINAL DE VIDA POR A PORRA DE UM MÊS.

Elizabeth deixava as lágrimas caírem livremente sob seu rosto, ela até tentou se aproximar de mim, mas meu olhar duro a impediu.

- Vai embora, Elizabeth! Isso é tudo que você sabe fazer, dar as costas para nós e fugir. Se quiser ficar sem dar notícias por um mês, dois ou até três meses, faça o que quiser. Eu deixei de me importar a muito tempo. Quando a Merida morreu, eu não perdi só uma irmã, mas sim, duas.

- Eu não vou te deixar de novo, eu prometo.- Sua voz embargada, eu me comoveria, mas no momento eu só quero que ela saía da minha frente.

- Não quero falar mais merda do que já falei, por favor Elizabeth, saía.- Ela fez que não com a cabeça.

- Eu mereço isso, continua. Por favor continua.- E nesse momento a mulher a minha frente perdeu toda a sua postura e desabou no chão, caindo de joelhos e chorando descontroladamente.

Eu não sei lidar com sentimentos, afinal, eu que a fiz chorar. Chego perto da mulher de joelhos a minha frente que soluçava de tanto chorar, e dou tapinhas no topo da sua cabeça, igual fazia quando Cérbero era um bom garoto. Eu não sei demostrar bem os meus sentimentos, eu guardo tudo para mim até surtar, que foi o que aconteceu a alguns minutos atrás. Não queria ver Elizabeth assim, tão frágil, mas eu consegui pôr tudo para fora, depois de anos.

- Eu não sou o Cérbero, Hellena.- Ela disse rindo entre algumas lágrimas que ainda caíam.

- É bipolar igual ele. Agora mete o pé, quero dormir.- Ela se levantou em busca de um abraço e eu recuei de seu toque. Eu tenho problemas em deixar pessoas estranhas me abraçarem, e alí, naquele momento, ela era uma.- Me desculpe, eu vou me redimir com você. Com todos vocês.

Apenas aceno com a cabeça e ela saí do cômodo, me deixando alí sozinha. Era estranho ter Elizabeth de volta, Merida a teria perdoado na hora, mas eu não consigo fazer isso, não consigo simplesmente esquecer e a abraçar como se ainda fosse a minha irmã mais velha.

Quando finamente me deito para dormir, meu telefone começa a tocar, pensei que era o despertador e pego o celular pronta para desligar, mas vejo o nome "Lorinho gostoso inesquecível", brilhando na tela. Bebi demais, não faço idéia de quem era, mas tenho uma desconfiança de que era Anteros. Logo atendo, pois o barulho alto estava começando a me dar dor de cabeça.

- Oi cunhada, bom dia! Precisamos conversar.- Eu desisto de dormir.

- Oi, lorinho gostoso inesquecível.- Sua risada de criança levada já deixou bem claro que ele salvou seu contato assim.

- Não me faça rir, estamos negociando, cabeça vermelha!- Claro, Anteros é super sério.- Quero beijar a Sophie, mas não só beijar, eu quero ter um encontro com ela.

- Estou ouvindo, continue.

- Eu estava vendo um filme clichê, e pensei que você poderia me trancar com ela no bar do seu pai! Assim eu poderia mostrar o quanto sou irresistível.- Segurei a risada, óbvio que eu ajudaria.

- Vem aqui em casa as 13:30, ok? Vou dormir um pouco e você pensa no que quer fazer.

- Ta bom, beijos cunhadinha.

Anteros não pretende de forma alguma, parar de me chamar de cunhada. E eu até gosto de como soa.

Sento na cama e pego a fotografia que ficava na pequena comoda ao lado da mesma, Merida era linda! Era tão simpática e doce, minha linda menina, estou aqui por você! E se eu errar em algo, prometo concertar...porque eu aprendi com você, pequena, que devemos perdoar e seguir em frente.

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