06- Número 5

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Tudo foi muito rápido e graças a Deus não terminou da pior forma, mas poderia e isso me assustou absurdamente. O que houve? Bem, eu fui puxada de forma brusca pela cintura e caí de costas em cima da pessoa que havia acabado de salvar a minha vida... foi isso o que havia acabado de acontecer.

– Vocês estão bem? – Perguntou um casal de senhores que passavam por nós.

Ainda nem sabia que era que estava debaixo de mim, pois ainda me sentida completamente atordoada com que estava acontecendo. Olhei ao redor buscando sanidade mental, olhei pro casal que havia feito a pergunta e que pareciam bem preocupados e me toquei de que havia alguém ainda sob meu corpo. Tentei me levantar, mas minhas pernas estavam bambas, então sentei de lado enquanto perguntava à ninguém específico:

– Cadê o meu celular?

– Destruído no meio da rua. – Me respondeu a menina que havia salvado a minha vida. – Estamos bem sim, graças a Deus. Obrigada por perguntarem. – Respondeu ela sorrindo ao casal.

Eu a olhava atordoada enquanto ela se sentava parecendo preocupada muito preocupada comigo. O casal, antes de ir embora, disseram para que tomássemos mais cuidado ao mexer no celular. Eles se foram e eu voltei a olhá-la ainda atordoada enquanto ela me perguntava:

– Você tá bem? O que houve?

Olhei ao redor como quem procura as palavras, mas sem sucesso, olhei-a novamente e disse:

– Eu to bem. Obrigada, de verdade e me perdoe... também de verdade.

– De onde você é?

– São Paulo.

– Dá pra perceber pelo sotaque que daqui você não é. – Disse sorrindo e com um olhar meigo. – Eu preciso correr porque já estava mega atrasada pro meu trabalho, agora então não quero nem pensar, mas preciso ter certeza de que você está bem.

– Eu preciso te agradecer direito.

– Relaxa, você já me agradeceu, agora só não quase morra de novo. Pode ser? – Sorriu.

– Pode. – Sorri. Enquanto levantávamos, perguntei. – Onde você trabalha?

– No restaurante do outro lado da rua.

Já de pé, olhei meu celular estraçalhado pelo asfalto e, para mim mesma, muito puta, disse:

– Brilhante, Letícia, você está de parabéns.

– Letícia é seu nome? – Perguntou enquanto se ajeitava e pegava seus livros e mochila do chão.

Eu a olhei um tanto quanto assustada por me dar conta de que havia acabado de falar sozinha na frente de uma pessoa estranha, sorri constrangida e disse:

– Sim, sou eu. Qual o seu nome?

– Camila.

– Camila, vou com você até o restaurante. Eu já estava procurando por algum lugar pra almoçar mesmo. Pode ser?

– Pode. – Sorriu.

Atravessamos a rua, agora com o sinal fechado para os carros e liberados para os pedestres.

– Tive muita sorte com esse seu atraso. – Brinquei.

– Ao menos alguém teve, né. – Brincou parecendo angustiada, provavelmente por estar atrasada.

Ao entrarmos notei alguns olhares chateados direcionados à Camila e me senti mal, embora o atraso não fosse realmente por minha causa. Me sentei em uma das mesas tentando ficar o mais distante das demais pessoas possível e, agora sozinha, comecei a compreender o que havia acabado de acontecer.

Bianca havia me mandado uma mensagem, depois de 4 meses separadas, depois de muita dor, raiva, mágoa e solidão, depois de ter sido acusada como culpada por sua traição, já que, por causa do meu excesso de trabalho, aparentemente eu lhe dava pouca atenção. Parecia que meu peito voltava a pegar fogo com aqueles sentimentos ruins e rancorosos, era como se eu fosse um vulcão prestes a entrar em erupção.

Não havia nada demais na mensagem dela, a princípio era apenas um "oi, como você está?", mas foi o suficiente pra me desestruturar e me fazer quase ser atropelada, embora ela não tenha culpa dessa parte, afinal, como iria imaginar o que uma simples mensagem poderia causar. Fiquei bons minutos com o cardápio em mãos, mas com minha mente mais distante do que qualquer coisa.

– Já escolheu?

Quando ergui meus olhos era Camila que estava ao pé da minha mesa com um aparelho em mãos e sorrindo. Era engraçado olhar nos olhos dela, ou pro seu sorriso, pois eles me faziam sentir o mesmo que sentia quando olhava pra uma linda paisagem. Meus maus sentimentos se dissiparam tão rápido que nem mencionar em quanto tempo isso se passou.

– Escolher não tem sido uma tarefa muito fácil nos últimos tempos. – Brinquei, de certa forma, com a verdade.

– E quando foi, não é mesmo? Se quiser uma dica, dá uma olhava no prato de número 5, é o meu favorito.

Eu sorri ao ouvi-la e foi involuntário. Olhei novamente o cardápio em busca do numero 5 e, ao lê-lo, percebi que realmente seria uma boa escolha. Então olhei-a novamente e disse:

– Me vê o favorito da Camila, por favor.

Ela sorriu, segurou a minha mão que estava livre sobre a mesa com sutil aperto, se inclinou na minha direção como quem pretende apenas contar um segredo e, me olhando mais de perto e com olhar simpático, meigo e despretensioso, disse:

– Você não vai se arrepender.


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LGBT - Quando AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora