18- Não Podia Ser

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Tentei obter alguma informação a mais vinda do restaurante, mas não queria parecer doida e sei que eles também não podem passar informações pessoais das pessoas pra terceiros. Minha situação era complicada, pois quem me garante que o endereço onde a deixei era realmente onde ela morava? Como encontrar alguém numa Cidade tão grande quanto o Rio de Janeiro? Eu queria mesmo me desgastar para encontrá-la? O que fazer? Não sabia.

Parei do lado de fora do restaurante me sentindo perdida, olhava de um lado pro outro enquanto era consumida por uma angustia estranha. Confusa. Me sentia muito confusa e sem saber o que fazer.

– Ei. – Ouvi uma voz feminina vindo pelas minhas costas.

Olhei pra trás e era uma moça que já havia visto trabalhando no restaurante. Ela estava se dirigindo a mim enquanto vinha saindo do estabelecimento. Fiquei imóvel aguardando-a se aproximar.

– Você tá procurando a Camila, não tá? – Me perguntou a moça.

Eu poderia tentar disfarçar, mentir, ou qualquer coisa, mas aquela parecia ser a oportunidade de saber o que havia acontecido, então resolvi não me fazer de "fodona", botei meu orgulho no bolso e respondi:

– Pra te ser sincera, to sim, mas soube que ela foi demitida anteontem.

– Foi sim. Tentei falar com ela hoje, mas o telefone ta fora de área.

Pelo visto ela estava realmente querendo sumir do mapa, mas o que eu não conseguia entender era o porquê disso. Aquela moça não parecia saber mais do que eu, ao menos a respeito do que poderia estar acontecendo, mas mesmo assim, aproveitei um pouco mais e perguntei:

– O que houve? Por que demitiram ela?

– Camila vive em correria, por causa da faculdade e etc., fora uns problemas pessoais que teve recentemente e, bem, sabe como é, chefe não se importa com essas coisas, então a gente meio que já esperava que isso acontecesse há algum tempo.

– Entendo. E você sabe onde ela mora?

– Nunca fui até lá, mas ela já mencionou morar em Pilares.

– Achei que era na Abolição. – Comentei surpresa.

– Pilares é o bairro do lado, os dois ficam perto do Norte Shopping.

– Não conheço muita coisa por aqui. – Confessei.

– Eu sei. – Ela sorriu. – Ela falou um pouco de você.

– Ah é? E o que ela falou?

– Não vou dizer muito, mas ela gosta de você, pareceu bem sincera a respeito.

– Deve ser por isso que ela sumiu então. – Falei frustrada enquanto olhava ao redor.

– Calma, ela ta bem, só ta confusa. Daqui a pouco ela aparece.

– Sim, mas daqui a pouco sou eu que não vou mais estar por aqui. De qualquer forma obrigada por vir falar comigo.

– De nada, qualquer coisa me procura, meu nome é Dayana.

Nos despedimos com os tracionais 2 beijos cariocas no rosto e segui meu caminho de volta pro apartamento. Olhando meu celular, o telefone dela realmente parecia diferente, então fiquei pensando se aquele não era um sinal de que eu tinha que seguir minha vida e não me envolver de verdade com ninguém.

– Ela sumiu. – Falei pra Lucia, ao telefone.

– Como assim? O que houve?

– Fui almoçar no restaurante onde ela trabalhava e descobri que foi demitida há dois dias. Aparentemente ela mentiu sobre seu endereço e uma amiga dela de trabalho me disse que tentou contato, mas seu telefone deu fora de área.

– O que foi que você fez com a menina, hein?

– Eu não fiz nada! Você logo pensa que a culpa é minha, nunca vi.

– Amiga, te conheço, quando você não ta iludida, tem alguém se iludindo com você, e o pior é que sei que você nem faz por mal. – Riu.

– Pois é, enfim, essa é a novidade, to voltado pro apartamento e vou fazer o que deveria ter feito desde o começo. Vou me isolar.

– Letícia, não começa! Para de maluquice, vai sair, vai conhecer gente, hoje é sexta, é um ótimo dia pra beber.

– Beber sozinha? – Perguntei. – Era pra você estar aqui, aí sim me animaria em fazer essas farras, até porque a doida é você.

– Tua alma ta muito velha, amiga. Você está no Rio de Janeiro! Mexe essa bunda e vai conhecer gente! Vai num bar lésbico que tem em Botafogo, ouvi dizer que é bom, mas nunca fui.

– Nem lésbica você é, seria até estranho você ter ido. – Brinquei.

– Iria tranquilamente.

– Eu sei que sim, mas agora vou desligar, queria só compartilhar minha frustração. Beijo. – Lúcia me mandou outro beijo e desligamos.

Me sentia confusa, pois queria ir atrás de Camila, mas ao mesmo tempo não achava que devia e nem digo isso pelo meu ego, falo porque foi ela quem escolheu sumir e também porque não sabia se queria me abrir pra algum relacionamento, ainda mais indo atrás de alguém que sumiu e que poderia simplesmente me dizer "não", pela segunda vez, já que, de certa forma, era o que havia feito na outra noite.

Caminhava em direção ao apartamento sem nem precisar olhar muito por onde ia, pois o percurso já parecia interiorizado de alguma maneira. Pensava... ou melhor... lembrava dos últimos dois dias e o quão agradáveis haviam sido, principalmente quando a tive em meus braços, quando a tive em meus lábios.

– Letícia! – Eu conhecia aquela voz.

Já estava entrando pelo portão do prédio quando ouvi aquela voz e senti todo o meu corpo se arrepiar. Meu coração palpitou forte e descompassado. Não podia ser o que eu estava pensando. Não queria acreditar que fosse. De qualquer forma parei segurando o portão, olhei pra trás e, depois de olhá-la, incrédula, perguntei:

– O que você ta fazendo aqui? – Era a Beatriz, minha ex.

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LGBT - Quando AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora