No dia seguinte acordei com meu celular aos berros. Lúcia estava me ligando, sendo aquela já a sua quinta tentativa. Ainda grogue, eu atendi, até porque a conheço e sei que não pararia enquanto não falasse comigo, e perguntei:
– Por que de tanto desespero? Aconteceu alguma coisa?
– Claro que aconteceu, você me mandou mensagem dizendo que tinha muito pra contar, mas eu só vi hoje de manhã. Acorda e me conta! – Exigiu ela.
– Como está sua viagem?
– Acredito que nem preciso dizer, certo? Quando não está chata, é porque alguém ta fazendo algum tipo de barraco de família, mas como eles tentam manter a pose, então a viagem fica chata a maior parte do tempo mesmo. Agora me conta! – Insistiu.
– Eu acabei de acordar, calma.
– Não tenho culpa, bora, bora, se anima aí.
– Eu vou te contar tudo, mas não agora, até porque ainda to processando as coisas, mas o que posso adiantar é que os últimos dias giraram em torno da Bea ter me mandado duas mensagens enquanto eu acabava de conhecer uma pessoa maravilhosa, que só quer minha amizade.
Lúcia soltou seu tradicional gritinho da surpresa e disse:
– A Bea te mandou mensagem?! Que cara de pau! Chocada com a audácia daquela doida.
– Quase fui atropelada por causa da primeira, meu celular quebrou, tive que comprar outro e só não morri porque essa pessoa que conheci foi quem me puxou e me salvou, mas depois em entro melhor em detalhes, preciso acordar primeiro, sabe como eu sou.
– Sei sim, e você sabe como EU sou, então me conta mais! – Insistiu Lúcia.
– Ela trabalha num restaurante perto da praia e tem uma energia tão boa e agradável que foi impossível não ficar por perto, mas, enfim, ela me pediu pra ficarmos só na amizade... to pensando seriamente em não procurá-la mais, acho que é melhor assim.
– Tá louca?! Como assim não vai procurar, seja lá quem for?! Tem tanto tempo que não te ouço falar dessa forma que até fico nervosa. Você vai procurar sim! Você fica atrás de gente maluca, por que não vai procurar alguém que te fez se sentir bem?
– Mas, Lúcia, eu não to bem pra me relacionar com alguém e essa garota não é o tipo de mulher com quem eu só ficaria. – Argumentei.
– Melhor ainda! Agora é que você vai atrás sim, já falei. Te vejo ficar de papinho com cada mulher estranha e maluca, embora bem bonitas, que quando você começou a falar dessa daí eu nem preciso saber do nome dela pra te dizer o que já disse. Vai atrás!
– Mas ela não quer! Acabei de dizer que ela só quer amizade! – Me irritei.
– Ela te disse isso antes ou depois de vocês se beijarem? Porque você não disse, mas eu sei que vocês já se beijaram. Isso se não tiverem ido além, inclusive.
– Depois do beijo e antes que aprofundássemos.
– Antes de transarem. – Concluiu com mais clareza.
– Isso.
– Ela deve ter problemas, mas quem não tem? Você então, nem se fala, ainda mais com essa praga ainda te procurando. Achei que esse demônio já tinha sido exorcizado, mas pelo visto faltou algumas rezas a mais.
Fiquei em silêncio, respirei fundo e disse:
– Ta bom, eu vou procurá-la, ela disse que ia trabalhar hoje e o restaurante é perto daqui, vou lá almoçar hoje.
– Faz isso e depois me conta com mais detalhes sobre tudo isso.
– Ta bom. Vou desligar agora. Beijo. – Lúcia me devolveu o beijo e desligamos.
Aquela conversa tinha me deixado angustiada por vários fatores, embora seja um exagero colocar tanto plural nesta frase, mas enfim, eu estava confusa e tensa, pois pra mim o melhor era realmente deixar essa história pra lá e continuar seguindo minha vida solitária em paz, mas, ao mesmo tempo, havia um comichão me dizendo pra fazer exatamente o que a doida da minha amiga havia me dito pra fazer... e eu faria, né, todos sabemos disso.
Me levantei e fui fazendo minhas coisas enquanto o tempo ia passando, e enquanto eu me decidia a respeito de ir, ou não, mas enfim, fui. Já pelo horário do almoço, cheguei no restaurante me sentindo tensa, o que muito me incomodava e agradava, ao mesmo tempo. Entrei e me sentei. Meus olhos percorriam por todo espaço sem sucesso.
– Quer fazer seu pedido, senhora? – Me perguntou uma voz feminina.
Não era Camila, era uma outra moça, que por sinal nunca havia visto por ali. Não quis fazer alarde, então segui como se nada estivesse acontecendo, afinal, ela poderia estar em outra função, ou em outro horário. Fiz meu pedido, pedi o favorito de Camila novamente, sem mencioná-la, claro.
Minha refeição chegou e eu a saboreei com um olho nela e o outro no salão, mas por mais que o tempo passasse, não havia nenhum sinal de que ela estava no recinto. Pedi então minha sobremesa, a mesma das outras vezes, que por sinal também era uma delícia, mas continuava do mesmo jeito.
Fiquei em torno de uma hora dentro do restaurante, comendo com a máxima tranquilidade possível, pois minha intenção naquele momento era de ganhar tempo, mas Camila não apareceu, nem vinda de dentro e nem vinda da rua... nada... nenhum vestígio a seu respeito.
– Deixa eu te perguntar, você é nova aqui? – Perguntei pra moça que me atendeu, após lhe pedir a conta.
– Sou sim.
– Você sabe me dizer se a Camila não pôde vir hoje?
– Se for quem estou pensando, ela foi demitida anteontem e eu entrei no lugar dela. – Fiquei em completo choque com aquela informação.
Ela havia sido demitida dois dias antes, justamente no dia que assistimos ao por do sol juntas e tudo mais aconteceu. Camila mentiu pra mim, disse que estaria de folga, mas na verdade havia sido dispensada. Não julgo, eu também não quis estragar o momento que estávamos tendo com assuntos desagradáveis, mas, fato era que ela não estaria mais ali. Será que aquele abraço, era então, uma verdadeira despedida?
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LGBT - Quando Acontece
RomanceLetícia é uma empresária rígida e bem sucedida que se vê obrigada a tirar férias de seu trabalho. O destino? A Cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Lá, enquanto descobre e explora novos lugares da região, ela conhece Camila, que é a leveza em meio ao...