– Vê se dessa vez você me escuta e olha, vou falar com muita seriedade a respeito disso, até porque não é um assunto qualquer e sei que também não é algo fácil de se ouvir. – Me disse Lúcia.
– Pode falar, eu to te ouvindo.
– Então... você realmente passava muito tempo fora de casa, mas isso foi só no final. Você é uma pessoa intensa, você é muito parceira, amiga e tudo mais, embora seja ranzinza e meio grossa.
– Eu lembro de ser muito grossa com ela.
– Sim, mas não foi sempre assim, não. Essa garota te manipulou por muito tempo sem você perceber e, pelo visto, ela faz de caso pensado. O começo era fofo, você parecia muito feliz e lembro de ficar feliz por você, mas o tempo foi passando e as coisas foram ficando estranhas.
– Estranhas como? – Perguntei.
– Você foi ficado mais amarga do que já é por natureza e foi se distanciando das pessoas, dos seus amigos, inclusive de mim. Tentei várias vezes abordar o assunto, mas você sempre desconversava, ou respondia que tava tudo bem, quando nitidamente não tava. Eu presenciei essa mulher querendo dizer como você deveria se comportar, o que era melhor você vestir e sinceramente, não eram comentários naturais, havia um tom estranho quando ela falava dessas coisas.
– Eu me lembro dela fazer algumas reclamações a respeito, sim.
– Sim, porque você sempre foi muito simples, por mais chata que você, seja enquanto ela parecia querer ostentar em cima da sua situação. O que parecia pra mim, não sempre, mas às vezes, era que ela tinha vergonha de algumas coisas em você. Ela te oprimiu por muito tempo até que você começou a não querer mais estar em casa.
– É tão difícil conseguir enxergar isso com clareza, por mais que eu concorde com o que você ta dizendo, porque eu realmente me lembro de situações que não me pareciam apenas comentários e que me faziam muito mal.
– Lógico. Amiga, é super normal as pessoas opinarem na roupa uma das outras, fazerem brincadeiras e etc, mas quando a intenção é de crítica, mas uma crítica com imposição, você vai perceber, porque a pessoa expressa isso no jeito de falar. O ruim é que a linha entre o natural e o exagero é sutil e de muito acontecer a gente pode perder a sensibilidade de perceber quando se passa dos limites.
– Pois é, eu me lembro que sempre vi muitas dessas coisas sendo como ela cuidando de mim, ou se importando com o que era melhor pra mim, até porque ela sempre enfatizava isso nessas horas.
– Sim, mas perceba, você se afastou de todo mundo e vivia só pro trabalho e pra ela, você só saía quando era algum evento chique onde ela te acompanhava deslumbrante, até porque a desgraçada é linda, mas se fosse um churrasco com cerveja, vocês não apareciam.
– É muito difícil isso tudo pra mim e não entendo o porquê. – Desabafei.
– Na minha opinião, você ficou muito traumatizada com essa relação e isso foi muito além da sua própria consciência, e acho que é por isso que você tem dificuldade em se relacionar, mesmo quando a relação parece ser promissora. Enfim, eu tenho muito pra falar sobre esse assunto, mas é ruim fazer isso por telefone, de qualquer forma, por falar nisso, cadê a menina nova? – Riu.
– Precisou ir embora e, depois do que houve, até dei graças a Deus.
– Como foi o final de semana, tirando a maluca?
Embora pensar em Camila estivesse me deixando ainda mais triste por conta dos novos sentimentos daquela noite, eu não queria realmente falar sobre essa parte, então respirei fundo e, depois de sorrir, por um segundo, para mim mesma, respondi:
– Foi maravilhoso.
– Olha, só de você ter conhecido essa garota a viagem já valeu à pena, porque, sinceramente, o pouco que falamos esses dias já me faz te sentir muito mais leve do que você estava antes. Continue assim.
– Não é assim tão simples também, né. – Falei com tristeza.
– Ah! Não começa com tuas maluquices, não! – Gritou ela. – Tava aí toda fudida emocionalmente e agora que ta com um pouco mais de alegria vai ficar com esse papinho furado. Vou me irritar seriamente com você, garota!
– Você fala de mim, mas é chata pra caramba.
– Não me importo, agora vamos, me conta com mais detalhes sobre seu final de semana pelo amor de Deus, eu preciso de um pouco de animação.
Sobre todo o contexto, Lúcia tinha razão, embora eu ainda não me sentisse cem por cento convencida a respeito de tudo isso, até porque nunca acreditei que o final de um relacionamento fosse culpa de apenas uma das partes, mas tudo que ouvi realmente fazia total sentido e, bem, nas terapias esse tema já havia sido abordado, embora não muito aprofundado... esse é o tipo daqueles assuntos dos quais não conseguimos falar... eu, no caso, não consigo muito.
Fiquei ainda bastante tempo com Lúcia ao telefone, contando-lhe sobre tudo que vivi naquele final de semana maravilhoso. Não aprofundei certos detalhes, óbvio, – Riu. – mas falei de tudo que vivi e senti. Lúcia tinha razão, eu havia me afastado até mesmo dela na época de Beatriz.
Estar ao telefone com ela, contando, rindo, zoando... sendo zoada... estava sendo bom porque, ainda mais depois do que houve no passado, percebi o quanto senti falta daquela doida em minha vida. Aprendi com isso que tudo precisa de equilíbrio e que ninguém substitui o lugar de ninguém, não há nenhum tipo de disputa, todos são importantes e é assim que deve ser.
Por fim desliguei, tomei meu banho e fui descansar, embora ainda houvesse aquela angustia em meu peito, tanto pela falta que Camila estava me fazendo, quanto também pelo que havia acontecido e por tudo que havia sentido. Eu tinha traumas, gatilhos, ou seja lá como queiram chamar e, talvez por isso, tivesse tanto medo de uma aproximação, porque eu sabia a verdade, mas esperava que meu coração soubesse também.
– Queria você aqui comigo. – Finalmente respondi a mensagem de Camila.
– Gosto muito de você, paulista... só queria que soubesse.
– Eu também.
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LGBT - Quando Acontece
RomanceLetícia é uma empresária rígida e bem sucedida que se vê obrigada a tirar férias de seu trabalho. O destino? A Cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Lá, enquanto descobre e explora novos lugares da região, ela conhece Camila, que é a leveza em meio ao...