30- Era o Jeito

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O dia estava cinzento e chuviscava, enquanto eu me sentia como se estivesse de ressaca, embora nem tenha bebido no dia anterior. Meu corpo se arrastava pelo apartamento, que finalmente estava menos quente por causa da mudança de tempo, sendo que isso não significa que estivesse frio.

Aquele silêncio era tudo o que eu mais precisava, até porque minha mente também estava bastante silenciosa, provavelmente por ainda estar sonolenta, por mais que aquele sonho ainda estivesse extremamente presente em minha memória, o que me fazia valorizá-lo, já que sonhos costumam se desmanchar ao acordar.

Liguei o ar condicionado da sala no médio e me larguei sobre o sofá. Não sabia que horas eram porque simplesmente não peguei no celular. Era como se eu fosse apenas um corpo ambulante, um corpo sem alma, um corpo completamente vazio e, depois de tudo que havia sentido na noite anterior, era exatamente assim que queria ficar.

Meu estômago começava a dar sinais de vida, mas eu estava inerte sobre o conforto daquele sofá, que parecia me abraçar, de tão aconchegante que estava sendo pra mim. Minha alma começava a voltar para o meu corpo, digo isso porque, aos poucos, estava me sentindo cada vez mais acordada... o que me fazia pensar ainda mais em meu sonho.

"– Eu te amo, paulista.

– Quem ama aqui, sou eu... eu amo você."

Inevitavelmente essa era a parte que mais se repetia e mais estava presente em minha memória. "Quem ama aqui, sou eu"... eu não me sentia em condições de debater com o meu inconsciente a respeito disso, até porque acredito que ele saiba mais de mim do que eu mesma, e era isso o que me preocupava quanto a essas frases.

Eu estava apaixonada? Seria possível isso acontecer em tão pouco tempo? Eu queria que ela também estivesse? Por que ela disse me amar em meu sonho? Seria possível que meu inconsciente tenha feito essa leitura do comportamento de Camila e por isso ela tenha dito isso em meu sonho, ou seria apenas fruto de um desejo meu?

Fato era que, eu não acreditava que sonhos sirvam de presságios, mas acredito que eles possam confirmar coisas que já estejam dentro de nós, como se fossem reflexos de nossas almas, expressando assim nossos sentimentos e desejos, muitas das vezes de forma separada, mas inegavelmente existentes... sendo assim, eu a amava?

E sobre Beatriz, o que pensar a respeito? Por que me sentia tão mexida toda vez que nos encontrávamos? Será que eu ainda tinha algum tipo de sentimento por ela, ou será que tudo era reflexo dos traumas que tinha a respeito do que houve entre nós, dentro do nosso relacionamento, tanto sobre a traição, quanto também pelos abusos e toxidades perfeitamente mencionados por Lúcia?

Naquele momento, largada no sofá, eu não tinha e nem conseguia ter total clareza a respeito de tudo isso que menciono hoje em off, porque ainda me sentia dentro do olho do furacão, principalmente a respeito do relacionamento que tive com minha ex, o qual sim foi tóxico, abusivo, ou seja lá o nome que se possa dar, mas naquele dia, essa consciência ainda não me tinha tomado por completo... infelizmente.

Definitivamente meu dia seria como o tempo lá fora e não faria nenhum esforço para que fosse diferente. Eu queria sumir, simplesmente desaparecer, fingir que não existiam problemas e nem nada que precisasse ser resolvido, fingir que não havia nenhuma decisão, ou atitude, a ser tomada.

"– Não vai embora. – Me pediu ela, ainda em sonho.

– Eu não quero ir.

– Você não precisa ir."

Será que eu realmente não precisava ir embora? Será que seria possível esquecer nossos passados e partir dali com uma nova história? Nossa nova história. Seria possível termos, de fato, um relacionamento sem que eu a machuque? Por que havia em mim tanto medo de machucá-la se no meu relacionamento anterior a traída fui eu?

Eu precisava daquele dia pra mim, pra ficar do jeito que estava, sem tirar e nem por, sem me obrigar a absolutamente nada, simplesmente daquele jeito, com o máximo de silêncio possível e com o mínimo de interação social que conseguisse ter, era assim que queria passar aquele dia, e foi exatamente o que fiz.

Permaneci deitada ainda por algum tempo enquanto minha mente começava a se agitar, mas não havia forças físicas pra sair da minha inércia, ao menos não naquele momento, então assim permaneci, mesmo que meu estômago reclamasse e, confesso, só reagi quando minha bexiga começou a se manifestar.

Levantei, fui ao banheiro, depois busquei meu celular no quarto e vi que havia mensagens tanto de Camila, quanto de Lúcia. Respirei fundo, me sentia triste e exausta. Voltei pra sala, me sentei no mesmo sofá, abri a mensagem de Camila, que dizia:

– Esse tempinho nublado é ótimo pra fazer o que fizemos no sábado. – Carinha de sapeca no final.

Ler aquela simples mensagem, além de me fazer sorrir, me causou um sentimento leve e gostoso no peito. Respirei fundo e, embora ainda submersa na minha triste e lutando contra minhas dúvidas, respondi:

– Concordo plenamente. Eu vou ficar ausente do celular um pouco pra poder fazer algumas coisas aqui hoje, aí mais tarde volto.

Quanto a Lúcia, sua mensagem era perguntando como eu estava e, sinceramente, não queria entrar nesse assunto, então preferi fingir que não vi e sei que isso, pra ela, já seria uma resposta, ainda mais porque nossa amizade é de longa data, ou seja, ela sabe muito bem como eu sou.

Enfim, fiz o que precisava, fiz o que tinha que fazer... não fiz absolutamente nada naquele dia, e era exatamente o que precisava. Pensei e pensei, refleti, duvidei, discuti e discordei de mim mesma, mas, o pior de tudo foi que, pra minha tristeza, eu havia me vencido em todos os debates.

Por mais que Camila fosse um sonho, pra mim era isso que ela era... um sonho. Não queria machucá-la, não queria trazê-la pra dentro da minha vida problemática, não queria prejudicá-la, então, sendo assim, minha decisão estava tomada, por mais que fosse completamente contrária ao que realmente queria... eu ia ter que me afastar

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Reta final hein hehe

Me segue no instaaa: kakanunes_85

Caps segundas, quartas e sextas ❤️

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