Passaram-se horas, dias e até meses, mesmo que não tenham sido tantos, acho que no máximo uns quatro se passaram. Falando assim não sei se dá a dimensão do tempo que passou, afinal, quatro meses da um pouco mais de cento e vinte dias e, na minha opinião, é muito tempo sim, já que não houve um único dia que não pensasse nela.
Tentei ligar outras vezes, mas depois de alguns dias a chamada nunca era completada, ela sempre ia direto pra caixa postal. Eu recuperei meu numero antigo, mas mantive aquele guardado e ativo, na esperança de que pudesse vir a tocar a qualquer momento, mas, com o passar do tempo, essa fé foi diminuindo gradativamente.
Foquei na terapia, fiz o máximo de seções possíveis e recomendadas, e percebi que havia muito mais sujeira debaixo do meu tapete do que imaginava haver. Dispensei todos os meus "contatinhos", porque entendi que precisava focar na minha cura emocional e digo mais, queria que todas as pessoas tivessem, não só essa consciência, mas a condição de tratarem disso em si mesmas, porque é muito importante... hoje enxergo isso com total clareza.
Em um dia comum, saí do escritório pra almoçar e resolvi ir num restaurante que não ia há muito tempo. Ele não ficava muito perto do meu trabalho, mas me lembrava que a comida lá era muito boa e me deu uma saudade repentina que me fez decidir ir até lá. Peguei um Uber e fui, até porque era longe pra ir andando e estava chovendo, como de costume, na minha querida São Paulo.
Entrei no estabelecimento e me sentei em uma mesa de quatro, que ficava bem no canto, um pouco distante de onde a maioria das pessoas gostavam de sentar, provavelmente por não haver televisão por perto, mas era ali que preferia justamente por esse motivo, porque assim conseguia ficar quieta e em paz enquanto fazia a minha refeição.
Aguardei alguns bons minutos, coisa que não é muito de costume, mas não me chateei, até porque tinha tempo sobrando pra estar ali e, como fazia muito tempo que não ia, sem dúvida não me deixaria abalar por causa de uma pequena demora no meu atendimento.
– Boa tarde... paulista.
Eu conhecia aquela voz e minha reação foi imediata. Ergui meus olhos e lá estava ela, bem diante de mim, uniformizada e com uma expressão que misturava sorriso e dúvida. Meu coração parecia que ia saltar pela boca. Sorri, era inevitável e mais forte do que eu. Camila estava na minha frente e eu não sabia o que dizer.
– Você tá bem? – Perguntei, atordoada.
Ela sorriu, foi sutil, mas sorriu, provavelmente motivada por achar graça da minha reação. A emoção que eu sentia era tamanha que nem sei explicar. Camila respirou fundo e disse:
– Bem melhor, eu acho. – Sorriu um pouco mais. – E você?
– Bem melhor também.
– E sua ex? – Sorriu de novo, mas agora havia um outro tom, parecia deboche, ou algo assim.
– Espero que no inferno... nunca mais a vi. – Ri. – Trocou de telefone?
– Troquei, comprei um chip daqui, afinal, agora moro por aqui.
– Ah sim, claro. – Falei.
– O que você vai querer? – Disse ela sinalizando o aparelho de anotação de pedidos que estava em sua mão.
Respirei fundo tentando retomar minha consciência, talvez trazê-la de volta a realidade, mas, eu a olhei antes de falar, porque havia um prato que sempre pedia quando ia ali, só que dessa vez resolvi fazer diferente. Sorri, estendi minha mão, a qual era entendeu e a segurou com uma das suas. Eu a beijei, a olhei, e disse:
– Me traz, por favor, o prato favorito da Camila e depois a sobremesa dela. Eu confio muito nas escolhas que ela faz.
Houve um breve silêncio entre nós enquanto ela cerrava um pouco de seus olhos pra me olhar. Camila sorriu, balançou de leve a cabeça como quem afugenta algum pensamento, anotou o meu pedido e perguntou:
– Tem saído com alguém?
Meu coração estremeceu com aquela pergunta, porque certamente ela não viria sem nenhum outro objetivo, por mais que pudesse tentar negar, caso o fizesse. Ainda segurando sua mão e olhando em seus olhos, disse:
– Só tem uma pessoa que eu quero... eu só não sei se ela ainda me quer.
– De tantos restaurantes, você tinha que vir logo aqui? – Me perguntou sorrindo.
– Acho que quando algo tem que acontecer, esse algo simplesmente acontece e, quando acontece, acredito que seja importante aproveitar.
Soltei sua mão, peguei um pedaço de papel do meu bolso, rasguei um pedaço, pedi sua caneta emprestada, anotei nele o meu telefone, devolvi sua caneta, me levantei, fiquei de frente a ela, estendi o papel em sua direção, e disse:
– Meu número de telefone e, como um dia me disseram... não sei por quanto tempo você vai ficar em São Paulo, mas qualquer coisa me chama.
Camila pegou o pedaço de papel da minha mão, o abriu e ficou alguns segundos olhando pra ele, depois me olhou, com um pequeno sorriso nos lábios e parecendo emocionada. Em um piscar de olhos, ela estava nos meus braços, e nós nos beijamos com a mesma intensidade da saudade que ardia no meu peito. Uma lágrima chegou a escorrer por um dos meus olhos.
– Eu não agüento contigo, paulista. – Me disse ela afastando apenas os lábios, mas ainda mantendo seu rosto junto ao meu.
– Que bom. Fica comigo? Não vai mais embora, só fica comigo. – Pedi enquanto a beijava.
Camila se afastou um pouco mais pra me olhar. Seus olhos percorriam por todo o meu rosto. Seus lábios sorriam enquanto ela balançava a cabeça em negação, provavelmente por contrarias sentimentos e pensamentos que tinha criado a nosso respeito e, pra minha grande felicidade, emocionada e com a voz embargada, disse:
– Eu fico... eu fico, sim.
Nós nos beijamos novamente enquanto começamos a ouvir palmas ao nosso redor, porque, sem perceber, os clientes e funcionários haviam parado pra nos olhar e estavam comemorando pela resposta que eu havia recebido. Aquele foi um dos momentos mais incríveis e emocionantes da minha vida, e sou feliz até hoje por tê-lo vivido e por ter o amor da minha vida comigo, porque é exatamente assim, quando algo tem que acontecer, ele simplesmente... acontece.
Fim.
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LGBT - Quando Acontece
RomanceLetícia é uma empresária rígida e bem sucedida que se vê obrigada a tirar férias de seu trabalho. O destino? A Cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Lá, enquanto descobre e explora novos lugares da região, ela conhece Camila, que é a leveza em meio ao...