31- Pode Vir

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Acabei não falando mais com ninguém naquela segunda-feira. Dormi o mais cedo que consegui e, por sorte, não tive nenhum tipo de sonho, ao menos não que eu me lembre. Acordei ainda me sentindo muito mal, pois ia fazer algo que não queria e que sentia ser errado, mas tinha convicção de que assim seria melhor.

Peguei meu celular com o coração na mão e, quando o desbloqueei, percebi que havia uma mensagem de Camila, enviada no começo da madrugada, me perguntando se estava tudo bem. Aquele era exatamente o tipo de pergunta difícil de responder... Lúcia quem o diga.

– Pra te ser sincera, não to muito bem não. – Respirei fundo. – Pensei muito ontem, espero que você me entenda, mas acho que é melhor a gente parar por aqui. – Enviei.

Fato era que eu não tinha certeza absoluta de que aquela era a melhor decisão da minha vida, mas fiz o que acreditava ser o certo, ou o melhor, e o melhor não por mim, aquele era o melhor pra ela... segundo a minha concepção.

Uma mensagem de Beatriz, que quase me causou um atropelamento, havia sido o início de um dos melhores relacionamentos da minha vida, mas, a presença da mesma pessoa em outros momentos, foi o divisor de águas que me fizeram acreditar que Camila não merecia ter uma pessoa como eu ao seu lado... Freud explica?

Não sou do tipo de pessoa que acredita que uma ferida amorosa se cure com um novo relacionamento, na verdade penso que se não nos curamos antes, acabamos levando mais do que devíamos do problema anterior para dentro daquilo que é novo, seja em forma de traumas, que despertam gatilhos e, assim, auto sabotagens... Eu estava me auto sabotando?

Incrível como tudo estava lindo até o fim de tarde do domingo, que já havia ficado estranho com o papo da amiga de Camila, mas, do momento após até aquela terça-feira de manhã, parecia que estava revivendo todos os tormentos que pensei já estar livre há alguns meses atrás. Acho que só sabemos se estamos curando quando confrontamos nossos problemas, do contrário podem só estar adormecidos, mas, de qualquer forma, não aconselho confrontar nada, fora de uma seção de terapia, se não houver necessidade.

– Mas por que disso? Aconteceu alguma coisa? Eu fiz alguma coisa que te chateou? – Me perguntou Camila em resposta.

Aquelas perguntas rasgavam meu coração, porque minhas respostas a elas seriam em forma de elogio e não o contrário. Como dizer que ela era perfeita, eu que não prestava? Como dizer que ela merecia muito mais do que eu? Como dizer que estava surtando e morrendo de medo de fazer merda e magoá-la? O que dizer, na verdade, em momento como aquele?

– É complicado, mas acredito que seja melhor assim. Você não fez nada de errado, o problema sou eu. – "Você é perfeita, eu que não presto". Minha vontade era falar isso, mas guardei essa sinceridade pra mim.

Larguei o celular e fui tomar um banho, porque não conseguia ficar ali segurando-o enquanto esperava mais uma resposta, que provavelmente seria mais um questionamento, o que faz total sentido, até porque não falei nada com nada, então é lógico que ela iria se sentia confusa, já que até domingo estávamos em outra sintonia, que era completamente diferente daquela... enfim, surtei.

Fiquei bastante tempo debaixo do chuveiro, deixando a água me lavar por completo, desde o alto da cabeça até a planta dos pés, na esperança de que ela levasse embora toda aquela angustia e confusão. Eu não sabia explicar, não entendia, mas enquanto minha cabeça dizia que aquela atitude era o certo, havia uma sensação de que não era pra fazer aquilo.

No dia a dia costumo ter muito isso, o problema é que nunca é algo muito claro e certeiro, porque enquanto muitas das vezes é uma premonição, em outra é apenas o meu emocional descompensado por algum motivo, então assim, poderia realmente ser minha intuição me dizendo que não devia me afastar de Camila, como também podia simplesmente ser meu sentimento rejeitando, o que pra minha cabeça, era o certo a se fazer.

– Você tá assim por causa da conversa com a Marcela, não tá? – Me perguntou ela, nitidamente querendo entender meus motivos. – Ela me contou que quando fui pra água com o Ricardo, ela puxou assunto contigo a respeito do meu problema. É sobre isso, não é? É por isso que você quer se afastar?

Me sentei no sofá da sala e olhei pra janela. O céu estava muito mais limpo do que na segunda-feira, embora ainda houvessem algumas nuvens acinzentadas. Ainda era de manhã, por volta das nove e meia, então eu sabia que aquele dia ainda tinha muito o que render.

Eu não queria dizer pra Camila que meu problema ia além do que pudesse ser o problema dela, não queria dizer que tinha a ver com minha ex e seu ressurgimento, não queria dizer como me sentia a respeito disso e do medo que tinha... não queria ser fraca, não queria demonstrar fraqueza.

– Entendo que você precise entender o porquê da minha atitude, mas não quero que pense que você é o problema, porque não é, muito pelo contrário, você foi o melhor acontecimento em meses, mas, enfim, acredite em mim, essa é a melhor decisão... vai ser melhor pra você.

Coloquei o celular de lado e, inevitavelmente, me emocionei e comecei a chorar. Não era o que queria, não era mesmo, e aquela sensação de estar fazendo algo errado me deixava ainda mais confusa e angustiada. Meu choro era de raiva. Eu me sentia exposta, me sentia frágil e, com isso, envergonhada.

– Vamos fazer assim, vamos conversar pessoalmente. Mais tarde passo aí e a gente conversa. Não me diga que não, por favor. – Insistiu ela.

– Pode vir.

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